Fim do diploma?

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4 min readOct 4, 2018

Imagens de crianças com chapéus de formatura sempre me trazem reflexões sobre a educação formal: será que estas crianças terão a mesma formação acadêmica que nós, que nascemos no século passado? Será que elas ainda terão que se formar e ter diploma, assim como nós, para ter relevância profissional e prestígio social? Será que terão escolas e universidades no futuro delas?

Passeando pela TL por aqui, vi um repost da Martha Gabriel da matéria do IDG Now sobre fim da exigência de diploma na hora da contratação em empresas líderes do mercado da tecnologia como Google, Apple e IBM. A reportagem — lançada no mês de agosto, que apesar de old, continua gold — apresenta o mapeamento da Glassdoor com 15 empresas que não percebem a falta de um diploma como barreira para contratação, apesar deste ser ainda um item que tem valor para essas instituições. E é aqui que entra o ponto alto desta reflexão sobre educação: como essas pessoas desenvolveram suas habilidades e competências para exercer cargos em empresas de alto nível de impacto global?

Talvez a resposta para o questionamento acima esteja muito mais relacionada com a nossa visão sobre o que significa educação e a nossa crença de como os processos de aprendizagem acontecem. Quando se fala no termo educação, automaticamente vem a nossa mente lugares de educação formal dentro de prédios como escolas e universidades. No entanto, pesquiso há 12 anos sobre esse tema e cada vez mais tenho entendido que educação é um conceito muito mais ampliado e que os processos de aprendizagem mais significativos são aqueles que acontecem no universo das relações humanas e nas experiências com a vida.

Se olharmos bem, não há novidade nenhuma nessas minhas descobertas, uma vez que pesquisadores do início do século 20 já apresentavam essa visão como John Dewey, Maria Montessori e Paulo Freire. Mas se há intensas pesquisas há séculos sobre isso, a interrogação que fica é: por que o diploma tem perdido sua importância social e profissional ao longo do tempo e as universidades não tem utilizado desse conhecimento sobre educação contemporânea para mudar essa situação?

É óbvio que é preciso mudar a educação formal, as universidades querem mudar e muitas estão investindo nesse processo de transformação, mas tenho observado que estão pegando um caminho que não está dando o resultado esperado porque ainda não tiveram a coragem de olhar e agir para além do convencional. E é aqui que entra o ponto interessante das minhas investigações científicas recentes, as quais convidam para um olhar além do óbvio e que estão pautados no contexto da aprendizagem com a vida, em que todo lugar é visto como um espaço importante de aprendizagem e que precisa ser valorizado.

A aprendizagem está em todo lugar, até na internet que é lugar nenhum.

Esta frase maravilhosa de José Pacheco tem guiado minhas ideias e ações sobre processos de aprendizagem na contemporaneidade. Também tenho investigado muito sobre as transformações digitais e surgimento de tecnologias como Inteligência Artificial, Machine Learning, Quantum Computing e outros tantas que tem esse carácter disruptivo e de valor central para as mudanças estruturais do mundo. Tenho combinado também os conhecimentos sobre Design ligados as áreas de Design Mindset, Design Thinking, Design Participativo e Design Circular. Tudo isso para compreender e desenhar novos formatos de processos de aprendizagem que rompem com o modelo tradicional e que possam valorizar socialmente as aprendizagens que estão fora do sistema formal (e que já estão valorizadas em grandes empresas), mas que também possam ajudar a ressurgir o valor indiscutível de escolas e universidades, as quais tem desenvolvimento seminal de pesquisa e formação cidadã, no entanto há muito tempo não tem mais se alinhado ao contexto atual.

Talvez essas crianças de chapéus de formatura, em um futuro próximo, não tenham mesmo universidades com diplomas como temos hoje e assim espero que realmente aconteça porque isso pode significar que avançamos no conceito sobre o que é educação, sobre como aprender, assim como as universidades terão se reinventado e se alinhado ao mundo em estado beta em que o conhecimento do lifelong learning é muito mais real que um diploma pode oferecer.

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