As 5 melhores leituras 2020/1 (Resenhas #5)

Salatiel Bairros
Salatiel Bairros
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6 min readJun 30, 2020

Fazem dois anos que eu compartilho todo o semestre nas redes sociais uma lista com as melhores leituras que tive no período dando uma breve descrição. Decidi fazer o desse semestre em um formato um pouco diferente e publicar aqui. Segue então a lista das 5 melhores leituras que fiz entre Janeiro e Junho de 2020.

5. Santidade — J. C. Ryle

A verdadeira santidade (…) não consiste meramente em sensações e impressões internas. Ela envolve muito mais do que lágrimas, suspiros e demonstração física, um pulso acelerado e um apego apaixonado aos nossos pregadores favoritos, ou ao nosso próprio grupo religioso, ou, ainda, uma prontidão para debater com qualquer pessoa que não concorde conosco. Antes, ela é algo da “imagem de Cristo”, que pode ser visto e observado por outras pessoas em nossa vida particular, em nossos hábitos, em nosso caráter e em nossas ações. (p. 17)

Páginas: 416 | Publicação original: 1876 | Editora atual: Fiel

Combinando uma teologia profunda e centrada em Cristo com uma visão pastoral confrontadora, encorajadora e amorosa, considero este livro como o melhor livro sobre o tema que li e que mais fez diferença na minha vida prática. Com muita sabedoria o autor soube manter o equilíbrio que o Evangelho nos trás do amargor do nosso pecado e a urgência em abandoná-lo com a doçura da salvação e da obra do Espírito Santo em nós.

É necessário ressaltar que, mesmo em sua excelência, o livro soa legalista em alguns momentos, demorando a explicar por completo alguns argumentos. Com isso, a leitura deve ser feita com cuidado e é necessário concluir sempre o capítulo para tirar conclusões mais certeiras sobre o que o autor estava tentando expressar em determinada afirmação.

Recomendo o livro como um excelente material tanto para leitura individual quanto coletiva. A forma com que ele aplica a teologia profunda na vida comum é algo que tenho, infelizmente, encontrado pouco nos livros cristãos de nossa época. Em meio a livros com teologias frias e irrealizáveis ou absolutamente centrados nos sentimentos humanos, J. C. Ryle é uma dose forte de encorajamento e sabedoria para a vida comum.

4. A máfia dos mendigos — Yago Martins

Nós somos mais parecidos com o mendigo do que gostamos de aceitar. (p. 143)

Páginas: 252 | Publicação original: 2019 | Editora atual: Record

Altamente polêmico mesmo antes de sua publicação, este livro causou alvoroço tanto na direita quando esquerda política. O subtítulo já atrai para si uma grande atenção: “como a caridade aumenta a miséria”.

Muito além de demonstrar suas experiências e trazer números e pesquisas sobre o tema confrontando a forma que tanto a caridade privada e estatal são feitas atualmente (o que quase torna o livro prolixo demais pela quantidade de informações apresentadas), o livro nos exorta a ver o necessitado como humano igual a nós. Especialmente para os cristãos, o livro nos chama a vê-los como indivíduos e não como uma massa disforme chamada “pobre” e que cada um desses indivíduos é, ao mesmo tempo, imagem de Deus e totalmente depravados pelo pecado. Somos chamados a um envolvimento pessoal e a um doar muito além do dinheiro. Confesso que o sentimento que eu antecipava à leitura se concretizou: ao concordar com o autor, assumi minha própria hipocrisia e isso se tornou uma “coceira” na minha mente que, mesmo meses após encerrar a leitura, segue presente.

3. Os Outros da Bíblia — André Reinke

Como lidar com cada cultura foi um problema com o qual os autores e personagens bíblicos lidaram. E também é um problema com o qual nós temos que lidar hoje, com novas culturas e novos-velhos mitos. (p. 342)

Páginas: 349 | Publicação original: 2019 | Editora: Thomas Nelson Brasil

Depois de um dia de palestras e um almoço com o autor em uma igreja aqui em BH não consegui evitar a curiosidade sobre o tema e incluí prontamente o livro na minha meta de leitura do semestre. O autor traz um profundo embasamento histórico ao nos apresentar os povos que viviam em torno do povo de Deus. O autor nos deixa boquiabertos ao apresentar a digital divina em outras culturas, como os mesopotâmicos, egípcios, gregos, romanos e outros. Após a leitura desse livro é impossível ler com os mesmos olhos o contato do povo de Israel ou da Igreja com as culturas em volta.

Ao nos apresentar este trabalho incrível de pesquisa, o autor também nos chama a levarmos a sério o contato com a cultura que nos cerca partindo de uma cosmovisão bíblica mas sem ignorar os evidentes sinais da ação divina em todas as culturas.

2. Irmãos Karamázov — Fyodor Dostoyévsky

Quem mente a si mesmo e ouve a própria mentira chega a não distinguir mais a verdade, nem em si, nem no mundo ao redor; então perde o respeito por si e pelos outros. A pessoa que não respeita ninguém deixa de amar e, para ter alguma ocupação e distração na ausência do amor, dedica-se às paixões e aos prazeres grosseiros; chega ao estágio animal em seus vícios (…). Quem mente a si mesmo pode ser o primeiro a ser ofendido. (p. 59)

Páginas: 912| Publicação original: 1880| Editora atual: Martin Claret

A intimidação causada pelo tamanho da obra perde a força assim que a leitura é iniciada. Três irmãos e um pai terrível, diferentes e parecidos entre si ao mesmo tempo, uma paixão, um assassinato e um julgamento poderia ser um resumo breve sem que atrapalhe as surpresas da leitura. Contudo, muito além de uma história envolvente, o autor nos apresenta o caráter humano, nossa posição de “gloriosa ruína” e como os furos da nossa cosmovisão podem afetar todo o direcionamento da nossa vida.

Com personagens profundos e complexos, graças a forma majestosa de Dostoiévski descrever seus personagens, o livro nos apresenta uma antropologia claramente cristã e seus desdobramentos na realidade. Descrever este livro em poucas palavras é impossível. Leiam e não se arrependerão.

1. Contra o aborto— Francisco Razzo

Sem a propriedade objetiva, basta a sociedade declarar guerra contra os fracos. (p. 194)

Páginas: 265| Publicação original: 2018| Editora atual: Record

O aborto é um tema que profundamente me entristece. De todas as pautas morais, esta, que considero assassinato silencioso em massa, é um dos referenciais iniciais até para escolhas políticas, antes do meu próprio posicionamento sobre economia e outras questões sociais. Não poderia ser diferente, então, que a melhor leitura do ano seja esta obra de Razzo.

O autor apresenta inicialmente uma aula de filosofia e da irracionalidade dos falsos debates atuais sobre o aborto. É possível dizer que 2/3 do livro são dedicados para a forma do debate filosófico e como, partindo dele, deveríamos nos ver e ver o outro. Ao fazer isso, ele contrasta e aponta os erros sérios na forma atual que a discussão sobre o aborto é conduzida. A argumentação diretamente contra o aborto fica, em especial, para o terço final do livro, onde o autor lida com as diferenciações entre corpo-objeto e corpo-sujeito e nos apresenta uma resposta filosófica clara e profunda sobre a atrocidade humana que é matar um filho no ventre. Tudo isso sem fugir de nenhum dos pontos do debate, sejam filosóficos, sejam emocionais.

Creio que para os cristãos hoje, em um mundo onde milhões de crianças morrem anualmente abortadas, este livro é essencial para um entendimento filosófico da discussão, muito além dos aspecto religioso. Mesmo sendo Católico, a argumentação do autor é de forma nenhuma baseada em religiosidade. Este livro não está em primeiro lugar sem razão: se, de todos os livros listados aqui, eu influenciar a leitura deste para alguém, ficarei imensamente alegre.

Outras leituras

Por fim, para que o leitor possa saber com quais livros eu comparei os selecionados dessa lista, seguem abaixo as outras leituras do semestre, em ordem decrescente de apreciação. Ao todo foram 19 livros lidos no semestre.

6. Oração — João Calvino
7. Universo ao lado — James W. Sire
8. Ortodoxia — G. K. Chesterton
9. Salmos — N. T. Wright
10. A Confissão de Fé Batista de 1689 + Um Catecismo Puritano
11. O Cavalo e o seu Menino — C. S. Lewis (releitura)
12. Príncipe Caspian — C. S. Lewis (releitura)
13. Sherlock Holmes (Vol. 4) — Arthur C. Doyle
14. Eu sou (Vol. 4) — Heber Campos
15. O habitat humano — Heber Campos
16. Política segundo a Bíblia — Wayne Grudem
17. LIT — Tony Reinke
18. A Teologia Afetuosa de Richard Sibbes — Mark Dever
19. Louco Amor — Francis Chan

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Salatiel Bairros
Salatiel Bairros

Cristão, marido, pai e programador. Trabalha como Engenheiro de Dados. Especialista em IA (PUC Minas) e pós-graduando em Teologia Filosófica (STJE).