Hermenêutica e Método Teológico — Christopher Cone (Resenhas #8)
Parte das minhas metas de leitura para este ano envolve o Guia Essencial do Invisible College, com o propósito de direcionar meus estudos em alguns temas da teologia. O primeiro tema a ser estudado é Hermenêutica e tomei a liberdade de acrescentar livros às recomendações deles no meu próprio planejamento de leitura e o presente livro é um dos que acrescentei. O plano é fazer pequenas resenhas de cada um dos livros lidos relacionados a este guia.
Visão Geral
Publicado pela Editora 371, com 297 páginas e recebido através do Clube RE:View, o livro é uma introdução ao estudo da Hermenêutica e Teologia Bíblica e busca apresentar como o texto bíblico deve ser abordado e influenciar a nossa interpretação da realidade, quase como prolegômenos do estudo da disciplina hermenêutica em si. Além disso, ainda que a publicação e o material sejam de ótima qualidade, a edição e revisão deixou a desejar, visto que encontrei inúmeros erros de diagramação, digitação e formatação.
O conteúdo
Introdução
O livro inicia definindo Teologia Bíblica e Hermenêutica e apresenta suas relações com a filosofia, ciência, cosmovisão e epistemologia. O autor nos apresenta um pouco da filosofia reformada e apologética pressuposicionalista. Ele demonstra que todo o pressuposto básico hermenêutico da realidade é circular e que isso é inescapável: consideramos a Bíblia portadora de autoridade porque ela revela um Deus que é portador de autoridade e se revelou pela Bíblia. Tentar encontrar outra fonte de autoridade, como os sentidos, razão ou emoção funcionaria da mesma forma, visto que, no caso da razão, é ela mesma quem nos fornece a sua suposta autoridade sobre a interpretação da realidade. Baseado nisso, o autor levanta 4 pilares da interpretação bíblica que ele considera fundamentais:
1. A existência do Deus Bíblico
Seguindo sua argumentação inicial, Cone se junta à toda tradição da filosofia reformada, defende que “não há epistemologia consistente a não ser a que pressupõe a existência do Deus bíblico. De fato, não há verdade, lógica ou fato sem a existência do Deus bíblico”. Junto com Cornelius Van Til, ele afirma que “qualquer argumento para a existência de Deus que não comece com sua existência é obstinado”. Ou seja, mesmo aqueles que buscam demonstrar que Deus não existe, partem inconscientemente do pressuposto de que Ele existe, como uma autoridade pessoal e superior, para que, apenas com isso, possam pressupor a sua capacidade de argumentar logicamente e de lidar com fatos ou verdades.
2. A auto revelação autoritativa de Deus ao homem
O ponto principal deste pilar é que Deus se revelou de forma autoritativa e propositiva ao homem pela Palavra e que a revelação geral ou natural não é capaz de obter uma resposta que resulte em regeneração do homem. Isso significa que o texto possui autoridade sobre nossa forma de viver e até mesmo sobre a forma que interpretamos esse texto. Além disso, significa que seu conteúdo não se resume a registros de revelações de Deus a algumas pessoas, mas a revelação em si dada por meio desses escritores. A nossa abordagem ao texto bíblico será completamente diferente se o lermos sem o considerar como propositivo e autoritativo. Não é possível uma abordagem genuinamente cristã sem a consideração desses pressupostos.
3. A incapacidade do homem natural de compreender a revelação de Deus
O terceiro pilar é consequência natural da antropologia cristã: o homem em seu estado caído é incapaz de desejar a Deus, fazer o bem de forma plena e até mesmo compreender corretamente a Sua Palavra. Como argumenta Calvino em suas Institutas, não existe nenhum aspecto do homem que não esteja corrompido pelo pecado: razão, emoções, moralidade, percepção de beleza, relacionamentos e outros. Por isso, somos incapazes por nós mesmos de compreender a revelação de Deus da forma que ela deve ser compreendida: história da salvação, chamada ao arrependimento e mudança de cosmovisão. Sem a ação do Espírito Santo ninguém pode chegar a uma boa hermenêutica bíblica.
4. Uma hermenêutica consistente
Este é o pilar mais longo e surpreendente do livro. O autor faz uma longa defesa do dispensacionalismo revisado, em oposição ao aliancismo e ao dispensacionalismo progressivo. Mesmo não concordando com toda a posição do autor quanto à interpretação de algumas profecias, diferenciação entre Israel e Igreja e outros temas, Cone enfatiza a centralidade doxológica em toda a revelação e que isso deve estar sempre em vista ao lermos as escrituras, ou seja, que o propósito principal de toda a revelação e de tudo o que existe é a expressão da glória de Deus e de nos levar a adorá-lo.
Processos na Teologia Bíblica
Neste capítulo final, Christopher Cone nos introduz ao processo exegético, sintético e sistemático da leitura e interpretação das escrituras e como esses processos se relacionam e são utilizados no entendimento das doutrinas e proposições.
Conclusão e recomendação
Considero este livro um ótimo material para aqueles que desejam se aprofundar no estudo de hermenêutica e teologia bíblica, mesmo que não concordem totalmente com a teologia do autor. É um livro que vale a pena ser lido e reimpresso em uma segunda edição melhor revisada. Foi de grande valia para meus estudos desse ano e recomendo a leitura.
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