//5 Equívocos sobre o feminismo na igreja

Saleiro
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6 min readDec 15, 2017
Eddy Lackmann

Eu sou fundadora e editora de um blog que busca empoderar mulheres cristãs, destacando contribuições de mulheres de fé (do passado e do presente). Também lançarei em breve um livro que procura expor o modelo de Deus à feminilidade com base nos relatos bíblicos da vida de Eva (livre das tradições e dos estereótipos que podem “tão facilmente nos assediar” como mulheres cristãs).

Quando digo às pessoas o que estou fazendo, costumo me deparar com respostas prontas. Para aqueles(as) que entendem a necessidade da minha mensagem, é positivo. No entanto, o outro extremo do espectro de pessoas tem afirmado que meu trabalho tem uma agenda feminista, que Deus não aprova. Para ser honesta, ainda estou trabalhando “com temor e tremor” tanto em minha fé quanto em minha identidade de cristã feminina-feminista. No entanto, penso que esta última reação das pessoas vem dos muitos equívocos que existem sobre o feminismo dentro da igreja, que levou o seu objetivo a ser mal interpretado ou demonizado. Aqui estão os cinco principais equívocos sobre o feminismo que eu encontrei como resultado disso:

EQUÍVOCO #1: O FEMINISMO É UM CONCEITO SECULAR QUE É CONTRA A VONTADE DE DEUS.

Para as pessoas que defendem essa crença, eu diria que o feminismo é uma questão social que ainda afeta muitas mulheres — incluindo as cristãs. Isso mostra que não é secular ou “mundano”. Por exemplo, eu sou apenas a segunda geração da família da minha mãe a ter recebido educação. Isso porque, como uma jovem (crescendo na Nigéria), foi negado a minha avó acesso à educação, simplesmente porque ela era do sexo feminino. Mesmo agora ela continua analfabeta, o que restringiu profundamente suas opções e oportunidades na vida e isso continua a impacta-la hoje.

No entanto, infelizmente, minha avó não é uma relíquia de uma época passada — daí a criação de iniciativas como a “Let Girls Learn”, em 2015. Essas iniciativas são essenciais porque, citando o próprio site do projeto:

  • “Educar meninas pode transformar vidas, famílias, comunidades e países inteiros”;
  • “Quando meninas são educadas, elas vivem vidas mais saudáveis e mais produtivas”;
  • “Elas ganham habilidades, conhecimento e confiança para quebrar o ciclo da pobreza e ajudam a fortalecer suas sociedades”.

É importante registrar que a misoginia existe dentro de cada cultura — incluindo a do mundo ocidental. Na verdade, recentemente me deparei com o Rebelgirls.co, que sugere que isso começa a afetar meninas desde a infância, pelas seguintes razões:

  • Falta de representações femininas equilibradas nos papéis principais em livros infantis e programas de TV.
  • Representações constantes de personagens femininas principais como donzelas que precisam ser resgatadas por homens, que, como ilustra este vídeo, tendem a ser bastante ridículas.
  • Estas então dão lugar a questões sobre confiança quando as meninas atingem a escola primária. Mas não terminam lá, já que essas meninas crescem para ser mulheres que precisam navegar em níveis mais elevados de sexismo sistêmico, tais como: diferenças de remuneração entre homens e mulheres, o mansplaining e a cultura do estupro.

Essas questões não desaparecem para as mulheres cristãs simplesmente por causa de sua fé em Deus. Nós ainda temos que nos relacionar e viver dentro deste mundo; então essas questões também nos afetam. Não só isso, também temos que adicionar o peso da misoginia que ocorre dentro da igreja, o que inclui o gigantesco problema da representação feminina limitada (em termos de quão pouco somos mencionadas em geral e nos contextos em que somos mencionadas quando somos debatidas e, particularmente, onde estão as matriarcas da fé), a objetivação de nossos corpos “perigosos” e a falta de apreciação dos papéis e identidade das mulheres, entre outras coisas.

Minha pergunta é: Se Deus realmente chamou os cristãos para ser “a luz do mundo” e buscar a justiça social (conforme Isaías 58: 6 e Mateus 25:40), como pode ser contra a vontade de Deus destacar as muitas injustiças sociais que a misoginia produz?

EQUÍVOCO #2: OS TERMOS FEMINISTA E CRISTÃO SÃO MUTUAMENTE EXCLUDENTES.

Outro equívoco comum que encontrei é que você não pode ser cristão e ter ideais feministas. Na minha experiência, as pessoas com esta visão são muito rápidas para apresentar os muitos textos bíblicos e teológicos que sustentam suas opiniões sobre a “ordem natural de Deus”, em que as mulheres devem estar sujeitas à autoridade e ao domínio do homem. Na perspectiva deles, qualquer coisa contrária é contra a vontade de Deus.

Há, porém, vários problemas com isso. Para mim — como alguém que passou quase cinco anos estudando Eva — posso dizer que essa foi e não é, de fato, a ordem natural de Deus em relação às mulheres.

Jesus, que é “o autor e consumador da nossa fé”, tinha valores feministas. Ele tratou as mulheres igualmente:

  • Representando bem as mulheres nas parábolas que Ele contou (por exemplo, a parábola da moeda perdida ou a viúva persistente).
  • Educando mulheres (Lucas 10: 38–42).
  • Nunca envergonhando mulheres, mesmo quando poderia ter feito (João 8: 2–11 e João 4: 1–41).
  • Permitindo que as mulheres tivessem posições de autoridade, como financiadoras e evangelistas (Lucas 8: 2–3 e Marcos 16: 9–11).
  • Advogando por mulheres (Lucas 7: 36–50 e Marcos 14: 3–9).

Além disso, Gálatas 3: 26–29 deixa muito claro que não há parcialidade com Deus. Que “pela fé em Cristo Jesus (…) não há homem nem mulher; porque todos somos um em Cristo”. Se este é o caso, e nós somos Seus discípulos, como podemos dizer que o feminismo desmente os valores cristãos? E por que a igreja não está fazendo mais para seguir este aspecto do exemplo de Cristo?

EQUÍVOCO #3: O FEMINISMO É ANTI-HOMENS.

Dado a minha identidade interseccional (de ser negra e mulher), esta é a melhor analogia que posso dar para o porquê o feminismo não é anti-homens:

Da mesma forma que o movimento Black Lives Matter simplesmente busca destacar que as vidas negras, na verdade, importam (em uma sociedade que age de forma totalmente contrária), o feminismo é um movimento que permite que as mulheres falem sobre questões que as afetam (em uma sociedade que muitas vezes tenta silenciá-las, como ilustrado em meus pontos anteriores).

Dizer que “vidas negras importam”, então, não significa que a vida dos negros importam mais do que outras vidas; nem é o equivalente a ser anti-branco. Da mesma forma, uma mulher que destaca as questões que a preocupam não equivale a ser contra os homens ou anti-homens. Ao contrário, o objetivo comum é (e sempre foi) expor o sofrimento de um grupo desfavorecido na esperança de que seus maus tratos cessem. É assim que todas as mudanças sociais foram alcançadas e este é o propósito do feminismo.

EQUÍVOCO #4: OS HOMENS NÃO SE BENEFICIAM DO FEMINISMO.

Uma vez tive uma conversa com um conhecido, na qual eu disse a ele que uma das coisas que eu faço através do meu blog é basear meus devocionais exclusivamente nas mulheres da Bíblia. Sua resposta foi: “Por que apenas as mulheres? Isso não parece justo (…)”. Então eu tive que educá-lo sobre muitas questões de representação que existem. Eu acho que isso também tende a ser uma atitude predominante em relação ao feminismo — que não é justo porque só procura beneficiar as mulheres. Mas os papéis de gênero e o patriarcado não só afetam negativamente as mulheres, também impactam negativamente os homens. Daí, fenômenos como: masculinidade tóxica, o papel do pai na vida de seus filhos não ser considerado tão importante como o da mãe, homens temendo pedir ajuda e com isso parecerem fracos e homens não conseguindo expressar um conjunto de emoções, incluindo a sensibilidade.

A verdade é que todo mundo pode ganhar com o feminismo, incluindo os homens.

EQUÍVOCO #5: O FEMINISMO É REDUNDANTE PORQUE ALGUÉM NUNCA EXPERIMENTOU MISOGINIA (DENTRO OU FORA DAS PAREDES DA IGREJA).

Para este conjunto final de pessoas, eu diria que você deve entender que você vem de um lugar de privilégio, especialmente se você é um homem heterossexual cisgênero. No entanto, a sua falta de experiência não significa que o problema não existe. Por favor, não desvalorize as experiências de outras pessoas, dizendo que está tudo em suas cabeças. Isso é gaslighting e é abusivo, especialmente quando todas as questões e iniciativas que apresentei neste texto mostram o contrário. Em vez disso, “venha e vamos refletir juntos” trabalhando em busca de soluções.

— Nina Dafe

Fundadora e editora do faraboverubiescollection.com, e autora de “The Ultimate Guide to Eve”. Sua missão é ajudar mulheres a entender o modelo de Deus para a feminilidade e tornar-se a mulher que Ele ordenou que elas fossem. Curtiu? Comece o curso dela por e-mail “Compreenda o plano de Deus para a Mulher em 5 Dias” agora, é gratuito.

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