//Cristianismo e política: de que lado da crise nós estamos?

Guilherme Pinheiro
Saleiro
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3 min readNov 18, 2017

Eu achava que seria arrogante da parte de um povo de fé afirmar que sua fé não cabe nas ideologias e polarizações que passeiam pela história. Achei e não acho mais. Arrogante (e imoral) seria impor (ou tentar impor) essa convicção, tendo em vista que a imposição é intolerante, austera, egoísta e violenta.

Divorciado dessa intenção escrevo o que você está lendo numa mentalidade de compartilhar o que penso e não de divulgar o lado certo. Compartilho que sou tendencioso a pensar que a posição dos seguidores de Jesus diante do cenário atual é totalmente subversora. Não cabe nos setores políticos, não se detém nas superficiais rodas de raciocínio sociológico atual e nem mesmo se comporta às propostas “revolucionárias” ou “conservadoras”. É “inconformável”, rebelde, fugaz, arisca e esquiva às tentativas totalitárias de sistematização do Espírito político que nos vocaciona à justiça na história, como sujeitos de si e construtores de um mundo melhor.

Somos aqueles e aquelas que denunciam o corrupto e cuidam de sua família abandonada ao sofrimento de perder um ente por causa da entidade política na qual ele se transformou. Nós anunciamos cuidado aos netos do Temer ao mesmo tempo em que denunciamos as falhas de seu Vovô. Não negligenciamos os deslizes Lulistas mas também não aceitamos capas de revista desumanas e desrespeitosas. Denunciamos a corrupção de Aécio pensando de que forma podemos participar de um processo de libertação do pó. Tô falando sério! Não estamos em nenhum desses lados, nem mesmo em cima do muro, estamos propondo um novo lugar de pensamento, mais inteligente e menos quadrado do que as atuais arquiteturas sóciopolíticas.

Nós lutamos por justiça assentados no Amor. Não queremos um mundo melhor para alguns de nós, queremos um mundo mais justo para todas as pessoas, de maneira a fazer com que abramos mão de nossas mágoas políticas para cuidar dos que foram magoados pelos políticos e também dos políticos magoados. Nossa visão extrapola uma visão de mundo que fataliza e desacredita na redenção integral do ser humano. Nós acreditamos e lutamos a fim de que até o mais corrupto pode vir a ser o mais honesto e restituir 4 vezes mais os que por ele foram prejudicados. Lembrou de Zaqueu?

Ensinamos que a corrupção está presente desde a fila de um banco até uma operação investigativa. Acho que eu e você já ouvimos muito sobre isso, a questão é praticar, ou torcer para que nunca sejamos eleitos à nenhum cargo público de modo a correr o risco de manifestar a corrupção da fila de banco numa câmara sei lá o que.

Enquanto busca-se a vitória numa arena 2D, nós anunciamos que a arena é tridimensional e permite outros jogos, diferentes dos que tem sido jogado por aí. Um amigo, Fellipe dos Anjos, compartilhou comigo uma frase de Rubem Alves que até agora não saiu da minha cabeça e que cabe perfeitamente nesse início do que é minha conclusão: “A questão não é o próximo movimento da peça dentro do jogo institucionalizado. A questão é se um novo jogo pode ser jogado. ”

E é justamente a comunidade do Reino do Bem, que se movimenta de acordo com os passos de Jesus, aquela que anuncia uma nova arena, um novo jogo, e uma nova consciência para as peças em movimento. Nosso jogo tem como princípio o Amor e a Justiça, e essas peças não jogam senão em dupla. Justiça sem amor é vingança, e não é nisso que acreditamos e nem é isso que desejamos.

Diante de tudo isso, talvez minha primeira reação seja pacificar as tretas e apresentar para os tretantes uma nova alternativa de se fazer política. Seja provocar expansões de consciência através de relações profundas. Seja se ver fora das relações causa-efeito, do #TeamA #TeamB, 13 ou 45, da Coxinha e do Caviar, do “foi não foi”, do “tive culpa não tive culpa” e começar a se enxergar dentro de um problema muito mais profundo: a superficialidade que tomou conta da família humana está nos afogando num jeito de existir que não responde aos anseios de nosso ser. Nossa crise é existencial, muito antes de ser política.

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