// Jesus, o “Ladrão Vacilão” e a Mulher Adúltera:

Saleiro
Saleiro
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2 min readJun 12, 2017

Foi no flagra. Não adiantava mais se justificar. Estava escrito na sua testa. Foi colocada no meio da praça, à vista de todos. Logo mais, as pedras da intolerância lhe tatuariam o corpo inteiro com as agulhas da hipocrisia, que embriagadas de sangue, projetavam naquela mulher uma oportunidade coletiva de maquiar culpas individuais.

Mas, em dado momento, entra na cena um Mestre que os interrompeu propondo o seguinte: “quem nunca vacilou que dê o primeiro rabisco!”

Mestre os ensinou que vingança é só um crime que veio depois de outro, e que “crime”, na verdade, é uma postura de coração antes de ser uma conduta da aparência. Ensinou que quem tenta interromper os ciclos de maldade com mais maldade só eleva ao quadrado a perpetuação do mal.

Mestre denunciou uma civilização viciada no analgésico da condenação alheia, que busca esquecer de seus crimes condenando os crimes dos outros. Mestre denunciou os deslizes de uma “Sociedade do Espetáculo” antes mesmo de Guy Debord escrever seu célebre livro. Foi Ele quem cuidou da mulher “showzificada” pelos monstros fariseus antes mesmo do “Urso Branco” ser um dos episódios mais proféticos da série Black Mirror, como mencionou meu camarada Cirilo Gonçalves, no texto em que você pode conferir aqui.

Mestre instruiu os seus seguidores e seguidoras a mostrarem as faces de um mundo pacífico quando acertados pelos golpes de uma realidade violenta.

Nazareno ensinou que precisamos tatuar misericórdia na alma de nossa sociedade, caso não queiramos vê-la furtada pelo mal e torturada pela crueldade diariamente.

Em sua plenitude, Ele nos nivelou por igual, ensinando que todos e todas estamos doentes demais para “tatuar” alguém. Mostrou que todos vacilamos e que todos precisamos de cura.

Eu poderia estar falando apenas da passagem da “Mulher Adúltera” do Evangelho segundo João, poderia estar falando somente sobre Black Mirror e o episódio do Urso Branco, ou mesmo sobre Ruan, o dito “ladrão vacilãotrending topic da semana. Entretanto, eu ainda estou falando das mentalidades de vingança que tatuam a humanidade de nosso interior, dia após dia, milênio após milênio.

No meio desse caos, o que ainda me faz suspirar o ar de uma realidade melhor são as palavras do Mestre, que além de nos redimir as culpas, nos libertam da necessidade de sair por aí procurando a quem condenar. São dEle as palavras que dizem: “Eu não te condeno, agora vá, e não peques mais.”

— Guilherme Pinheiro

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