“Financial Health: well past the green” | Arte por Raul Andreo de Paiva

Saúde financeira: muito além do dinheiro

A importância da educação e da inteligência emocional em momentos de crise

Kellee Imperator
Salus: Uma ode à prevenção
5 min readNov 25, 2020

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Foto: Kellee Imperator.

Alice é casada com Pietro e juntos são pais dos pequenos Benjamin e Laura. Foram pais ainda jovens, mas não fugiram da responsabilidade de ser família. Tudo seguia relativamente tranquilo. Enquanto trabalhavam, as crianças ficavam no Cemei (Centro Municipal de Educação Infantil), pertinho da casa em que moram. As contas de aluguel, água e luz estavam em dia, e na geladeira não faltava o iogurte de que os pequenos tanto gostam. Só que, em 2020, ano da pandemia, tudo mudou. O restaurante em que Alice trabalhava precisou fechar por alguns dias e retornou com diversas mudanças, porém, os clientes sumiram, e ela, junto a muitos colegas, perdeu o emprego. Com Pietro, não foi diferente. Trabalhava como garçom em eventos, e tudo parou para quem trabalha nessa área. Não bastando, o Cemei fechou sem prazo para voltar. Eis os quatro em casa, as crianças sem seus amiguinhos e professoras para lhes ensinar, e os pais sem emprego para pagar suas contas. Os boletos chegando não batem tão forte quanto o rostinho dos filhos pedindo o “guti”, que acabou e não sabem quando vai ter de novo. As emoções florescem.

Esta história é fictícia, mas ao mesmo tempo é a realidade de tantas famílias que batalham diariamente e, quando menos esperam, estão sem renda e sem estrutura financeira para manter o pagamento das contas básicas.

Quando mencionamos saúde financeira, os olhos se voltam para a carteira, mas você já parou para pensar nos efeitos que a falta de dinheiro traz para a saúde? Segundo uma pesquisa realizada pela CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) e pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito), em março de 2020, oito em cada dez inadimplentes sofreram impacto emocional negativo por conta das dívidas. E, quando se fala em impacto emocional, um grande leque de sentimentos negativos se abre. Os mais citados pelos entrevistados são alterações no sono; ansiedade; vergonha; angústia; irritação; tristeza. Muitas vezes esse acúmulo de sentimentos gera implicações em todos os aspectos da vida, interferindo nas relações pessoais e profissionais.

Na mesma pesquisa, outro dado preocupante é que quatro em cada dez pessoas buscam outras atividades para não pensar na inadimplência. O problema é que “28,2% aliviaram suas ansiedades em algum vício (como cigarro, bebida ou comida) e 24,7% acabaram comprando mais do que de costume — ou até perdendo o controle do consumo.”. Ao invés de resolver o problema, o indivíduo entra em um ciclo sem fim, prejudicando ainda mais sua vida financeira, além de colocar em risco sua saúde física.

Saúde financeira X Educação financeira

Marcio Araújo é especialista de Captação e Investimentos em Cooperativas de Crédito/Reprogramador Financeiro/Palestrante/ANBIMA. Créditos: arquivo pessoal.

Educação financeira, segundo o MEC (Ministério da educação), “Trata-se do conjunto de conhecimentos entendidos como essenciais para o fortalecimento da cidadania e voltados para ajudar a população a tomar decisões financeiras mais autônomas e conscientes”. Apesar da importância do tema, os adultos de hoje aprenderam muito na escola sobre assuntos diversos, mas não como serem adultos responsáveis e financeiramente saudáveis, não havia nenhuma disciplina com foco em educação financeira. Por outro lado, hoje contamos com muitos profissionais desta área que podem auxiliar na mudança de vida relacionada às finanças.

“A falta de educação financeira interfere diretamente na saúde física e psíquica das pessoas”, destaca Márcio Araújo, que é reprogramador financeiro. Com o auxílio de pessoas especializadas podemos ter acesso a ações inteligentes e práticas para que quem está com a saúde financeira abalada se cure e os demais mantenham-se saudáveis. “O primeiro passo para as pessoas que estão passando por dificuldade financeira é a chamada realidade, é entender a gravidade deste momento que ela está vivendo e parar de gastar dinheiro com coisas supérfluas e encarar de forma muito séria este momento”. Uma dica simples e essencial para qualquer nível de problemas financeiros.

Marcio falou sobre dois temas muito utilizados no setor de recursos humanos das empresas: absenteísmo, o fato de se abster, faltar ao trabalho para tratar a saúde; e presenteísmo, estar de “corpo” presente, porém, com a mente na vida pessoal. Dois itens que podem levar a um problema ainda maior — o desemprego –, afinal, as empresas necessitam de colaboradores comprometidos com suas funções.

Saúde física X Inteligência Emocional

Lorrana Menezes é especialista em Psicologia Organizacional e do Trabalho, graduada em Psicologia, coach de Carreira pelo IBC, com expertise em Desenvolvimento Humano Organizacional. Créditos: arquivo pessoal.

Perante o momento em que vivemos, é necessário estar preparado para o mercado de trabalho, afinal, em tempos de crise, estar e permanecer com emprego fixo são desafios diários. Depois de identificar os problemas financeiros, encará-los e resolvê-los, “é muito importante ter inteligência emocional”, destaca a psicóloga Lorrana Menezes, que é especialista em Psicologia Organizacional e do Trabalho. “Inteligência Emocional é o quociente de inteligência que diz respeito ao gerenciamento das nossas emoções”. Diante dos dados da pesquisa citada, os problemas financeiros geram diversas reações em nosso sistema emocional, desencadeando outros problemas, então é preciso olhar para a origem disso.

Para se destacar dentro das organizações, o profissional precisa de vários fatores como: resiliência (capacidade de se adaptar às mudanças); criatividade; inovação; visão sistêmica (capacidade de entender o todo a partir de suas partes e funcionamento de cada uma). “Um profissional com inteligência emocional justamente para saber gerenciar suas emoções e colocar tudo isso em prática”, destaca Lorrana. Estes são alguns itens para estar à frente, mas a psicóloga faz um aviso: “Às vezes, é fazer o básico, o respeito de cumprimentar, de saber que do outro lado existe um ser humano também”. Muitas pessoas se fecham em seu mundo, suas preocupações e não percebem que há um mundo em sua volta. Saber gerenciar as emoções não é nada extraordinário, é abrir os olhos para si e assim poder ver o outro.

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