Afro Samurai: O tesouro desconhecido dos animes

E se eu dissesse que existe um anime, sobre um samurai negro de cabelo afro, num Japão feudal/cyberpunk, que fuma um beck e é dublado pelo Samuel F*cking Jackson?!

Patrian
O Incoerente

--

Afro Samurai é uma daquelas obras de arte que, inexplicavelmente, não receberam a devida atenção. O anime de 2007, com apenas 5 episódios, é inspirado em um mangá de mesmo nome de 1999. O tema? Vingança. Uma brutal e dolorosa vingança. Incrivelmente violento, sem aquela enrolação típica dos animes convencionais, com uma ambientação única e cheio de influências poderosas, do visual à trilha sonora, Afro Samurai é algo inesquecível.

A mitologia é simples: duas faixas lendárias. O cara com a Numero 1 é considerado um deus. É intocável e respeitado, podendo ser desafiado apenas pelo homem que possuir a bandana Numero 2. Já possuir a bandana de Numero 2 significa, basicamente, que você tem um problema. É vagabundo do mundo inteiro querendo te desafiar, matar na trairagem ou te passar a mão na bunda e reivindicar sua posição. Nosso protagonista é o cara da faixa Numero 2, é claro.

A história se passa em um Japão feudal/cyberpunk com características pós-apocalípticas. O que faz com que a ambientação e o visual do anime sejam únicos. Seus traços, cores e a violência gráfica são alguns dos elementos mais marcantes e impressionantes da obra. A quantidade surreal de sangue causaria inveja em Kill Bill, de Quentin Tarantino. O design dos personagens, seus estilos de batalha e armas, agregam elementos de RPG ao anime.

Mas os aspectos visuais estão longe de serem os únicos pontos fortes do anime. Afro Samurai é dublado por ninguém menos que Samuel L.Jackson que, como sempre, faz um trabalho magistral ao dublar tanto o protagonista Afro (que fala pouco), como seu companheiro de jornada Ninja Ninja (que fala demais). E para dar vida ao vilão Justice, o grande Ron Perlman entrega uma dublagem impecável.

Tão incrível quanto a dublagem, é a trilha sonora, composta inteiramente de Hip-Hop — o que me conquistou logo na abertura. O anime não seria o mesmo sem as composições do rapper RZA, feitas especialmente para a obra.

Quanto aos personagens, Afro é um guerreiro frio e solitário, que não vê problema em fatiar os que lhe desafiam, mas parece não ter nenhum prazer nisso. Ele não possui as ambições de se tornar um deus ou obter mais poder, mas um sentimento visceral de vingança. O único motivo para portar a bandana Numero 2, é sua necessidade de vingança contra o Numero 1, Justice, o guerreiro que matou seu pai. A história de Afro é contada através de flashbacks e aos poucos vamos entendendo como, e o quê, ele se tornou.

Para contrastar com o protagonista, que fala muito pouco durante todo o anime, temos Ninja Ninja, o seu companheiro de estrada que age como sua consciência. Ninja também insere o alivio cômico a trama e é o tipo de personagem que adora botar pilha errada. E ele fuma um pouquinho de maconha, mas só alguns quilos. Por episódio.

O que fortalece ainda mais Afro Samurai como uma obra de arte dos animes, são suas influências. Takashi Okazaki colocou toda a sua paixão pela cultura hip-hop e pela relação Japão/Rap em sua obra. Além disso, o anime reverencia o lendário samurai negro Yasuke, que lutou no Japão do Século 16 e ganhou a fama de invencível.

Além dos 5 episódios do anime original, em 2009 foi lançado o filme Afro Samurai: Resurrection, que possui um estilo de animação ainda mais refinado e complementa alguns elementos do anime original.

O anime chegou a ser exibido pela MTV (inclusive no Brasil), ganhou dois jogos considerados ruins e possui um número razoável de fãs, mas nunca se tornou um grande sucesso de publico e repercussão. Talvez essa obscuridade, a falta de informações e conteúdos a respeito, deixe a obra ainda mais enigmática e underground. Um tesouro desconhecido dos animes.

Para mais indicações, siga o Incoerente nas redes sociais

--

--

Patrian
O Incoerente

Escrevo menos que gostaria e tenho mais gibis do que consigo ler. samuel.patrian@outlook.com