Henrique Pariz Filho
O natal é uma estrela de paetês dourados no chão do mercado
É a fome no prato do mendigo
& osso roído, tutano chupado, pelo dente podre do cachorro
É a dádiva do grafite da árvore morta [ponta de lápis nos dedos trêmulos do poeta
natal é um menino natimorto envolvido de placenta hemorrágica [com seus trinta e três anos & seu cartel persuasivo
É o sacrossanto pau-brasil [desmatado & queimado
& lascas de bichos assados pelos ladroeiros do berço do sem-teto jesus [guiado por uma estrela morta no chão do mercado
natal não merece letra maiúscula, pois é um sonho americano & nós somos latino-americanos
É um paciente em fase inicial de um câncer de pulmão [fumando um maço por dia, ele resolveu diminuir até morrer
& um motorista com cinquenta pontos na cabeça depois de matar uma família [era dia 24 de dezembro, este também não merece letra maiúscula
natal é um homem pobre que vende o almoço para ajudar outro pobre & ficar com fome [essa historieta se passa em Hollywood do Espírito Santo, centro espírita que acabara de ser apedrejado
& um roteiro do qual ninguém quer ver
Esqueci de avisar: esse ano não tem Natal, pois este foi assassinato pelo poeta ao pisar em uma estrela no chão do mercado [um falso brilho que lhe cegou & cinco pontas reversas que furou-lhe a sola do pé
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HENRIQUE PARIZ FILHO (h3nr1qu3_0, no Instagram) nasceu em Linhares, no ES, em Dezembro de 91. Agitador cultural, o poeta toca o projeto no Instagram @palavrasmargina_es, além de editor e co-fundador da Moqueca Editorial. Lançou seu primeiro trabalho, chamado NU descascando (2019, edição do autor) e um e-book com textos híbridos, mesclando entre contos, crônicas e biográficos, na Amazon, de nome De$contos (2020, Moqueca Editorial), além do e-Zine chamado Notas que trago nas entranhas, mais recente livro de poesias (2020, edição do autor).