Joana d’Arc Batista Herkenhoff
Manoel,
que faço das coisas que sei?
quiabos se colhem com a pele em veludo
antes que cheguem a espinho
couve se colhe com estalo
e se corta na mão, a risco, sem medo
lençóis são mais úteis
dependurados ao vento de alguma infância.
já sei:
escrevivevê-las
desusar palavras
cujas coisas já se foram
no mofo no pó do tempo
lamparina de querosene
redes negras de picumã
fornalha caiada
branca de tabatinga
cinza quente de borralho
uma palangana sem alça
uma terrina enferrujada
um catre
um caco
um cisco
um tacho de cobre areado
com bucha limão e
areia
uma peneira
poeira
poalha
paiol
baldrame
caibro
estaca
mourão
de renda e tule
outras formas de delicadeza
solidéu
arminho
gorgorão
ponto russo
chiada
dedal
chuleio
pesponto
botão
entretela
deixar tudo guardado
nesse papel encerrado
que nem espanador
de pena
a poeira
consegue arrancar
…
Joana d’Arc Batista Herkenhoff é Doutora em Letras pela Ufes, Professora, Escritora Residente do Centro Cultural Eliziário Rangel. Ministra cursos, oficinas literárias e atua na assessoria em escrita literária e acadêmica. Divulga seus poemas na conta de poesia no Instagram @aloucadeespanha
