O Incendiário

Sarauema
Sarauema
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2 min readJan 28, 2021

Benicio Targas

(Mar de Fogo — Aníbal Estrada)

Por que Deus me tornou um incendiário?
Não sei amar sem inflamar o meu peito,
meu coração queima
até se transformar em poeira.
Porque insisto com palavras?
Se palavras queimam
e tornam cinzas onde são escritas…
Vende-se poesia
para comprar novas ataduras.

Por que este incêndio mental?
Fujo para o cômodo mais iluminado da minha cabeça.
Mal cabe uma cadeira,
fico encolhido
e passo os dias me virando…
Vende-se contos
de humanos falhos.

Alguns nasceram destinados a brincar com o fogo…
Eu não vi a escuridão como o homem de preto.
Minha pele não resiste ao calor como ao do rei lagarto.
Também nasci como um pino redondo num mundo quadrado.
Sou o velho reclamando com Deus por ter que amarrar os sapatos.
Eu não combati o bom combate.
Vende-se poesia,
para estancar melancolia.

Sou um livro aberto empoeirado,
perdido entre as páginas,
fadigado pelo cansaço diário dos rastros das cinzas que me perseguem.
Quando escrevo, sinto que estou jogando faíscas
e causando incêndios.
Vende-se contos
para continuar alimentando minhas fraquezas.

Hoje seria um dia perfeito para chorar,
mas minhas lágrimas também queimam.
Pois me tornei um incendiário…

BENICIO TARGAS é poeta, escritor periférico e incendiário. Em caso de incêndio mental, faça-me visitas! Instagram: @beniciotargas

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