Chris Ritchie
Quero descuidar dos meus pensamentos,
tirar deles a pose ereta,
deixar que rolem nus na orla,
salpicados dos brilhos da biotita,
purpurina preta da praia natal.
Quero eles no sol a pino,
desnecessitados de filtro,
se amorenando conforme o destino,
matando a fome com biscoito de polvilho,
a sede no rasinho do mar,
sem noção de perigos, de gentes más
que roubam o tempo, que decretam o fim.
Que sejam os meus pensamentos
só pela noite surpreendidos
sem sono e sem pressa de se lavar.
Quero eles sujos em doces gritos,
muito morenos do amor contigo,
meu destino escapulido de oráculos
que um poema de dezembro viu.
Vão seguros pelas mãos dadas,
coesos com nossos pés n’água,
irrastreáveis além do sorriso
que devolve aos viúvos
a glória de ter sido
de alguém todas as praias
e ainda amar.
…
Chris Ritchie nasceu em Santos, SP em 1967. Sua formação inclui Letras USP, com Mestrado em Poesia (1997), Diploma em Gestão Educacional na International House of London (2001) e o certificado do Curso Livre de Preparação de Escritores da Casa das Rosas (Clipe, 2015). Finalista do Prêmio Sesc com contos Encruzilhadas, 2014, e, em 2015, com o romance Glasgow Green, independente, 2020. Entre as antologias, destacam-se A poesia queima — Antologia da resistência, Patuá, 2018 e Úmidas Paisagens — Contos sobre feminino, sexo e maturidade, Penalux, 2018. Publicou O Tantra de Tudo, Patuá, 2015; Na Terra do Fogo, Matitaperê, 2016; Olé nas Fúrias, Oito e Meio, 2017; Ainda não, ainda nunca, Quase Oito, 2018. Em inglês e português, é criadora de conteúdo e livros personalizados, professora, preparadora de texto, revisora, tradutora e intérprete.