Abaixa!

Jéssica Motta
Saravá Furioso
Published in
3 min readJul 4, 2013

Tão hipster que odeia hipster, ela disse.

Repara que engraçado. Sempre acabo, em certa altura do raciocínio, achando que sou exatamente aquilo que critico. Como se o universo tentasse jogar a verdade na minha cara toda hora, e eu insistisse em desviar, pra ver se cai na cara de quem estiver por perto.

Acho hipsters bastante chatos. Chatos pra caralho. Do fundo do coração.

Demasiadamente cheios de opiniões grupais e vazios de opiniões individuais. Até aí, nenhuma novidade, qualquer tribo é assim. Porém, hipsters têm aquela mania chatérrima de ter mais desopiniões, que opiniões propriamente ditas. Mais coisas que desgostam, mais músicas que não escutam, mais pessoas que não convivem (ao menos em público).

Ser amigo de hipster é como namorar alguém no armário. Em casa, ótima companhia, mas tenta fazer ele te levar ao show do Los Hermanos. Pode até levar, mas um óculos enorme vai enfiar em ti, se não esconder teu creme de barbear semanas antes do show e por a culpa no carma. Em um relacionamento no armário também pode haver a coisa da enfiança de óculos, mas não em público.

Tenho alguns aspectos hypes, que talvez faça alguém se confundir ali nos primeiros 30 segundos depois de me conhecer.

Uso óculos, e não de modelo esportivo, nem modelo atriz de vídeo pornô caseiro. Aparentemente ter problema de visão, é sintoma hype.

Gosto de LH e um pouco de indie. Bingo, não nego.

Sou tatuada, e não de estrelas vazadas no ombro, nem tribais, nem âncoras na panturrilha.

Tenho, inclusive, esse gosto pelo antigo, que é a base do que se considera hipster hoje em dia.

Acho pouco. Pra mim, aspectos superficiais assim não fazem de ninguém, nada.

Eu se fosse hype, olhava pra mim e não me levava no show do LH.

É só olhar por mais de 31 segundos pra perceber que só uso óculos por motivo de: não enxergo. Gosto de LH, mas na minha playlist também tem Bonde Das Maravilhas.

Minhas tatuagens são de artistas brasileiros, e flores com significado - hype tem mania de odiar a própria nacionalidade e canonizar o estrangeiro.

Meu gosto pelo antigo se limita a alguns músicos e escritores. Basicamente.

Acha que eu amaria passar o resto dos meus dias tomando café, ouvindo uma vitrola fanha, enquanto beijo meu namorado que se parece com o Canha (mendigo que vive na minha rua, nomeado por mim). Eu, fora. Tirando a participação especial do Canha, passaria um final de semana assim, tranquilamente; uma vida, não.

Gosto é da mistura. Quanto mais cultura puder agregar, melhor. Escuto de tudo, leio de tudo, vejo de tudo, sinto de tudo. Tudo passa por mim e sai diferente, enquanto eu passo por tudo e permaneço a mesma. Minhas mudanças são mais sazonais, que vulneráveis a situações. De tempos em tempos, algo me desperta a mudança e venha o que vier, não desmudo. Aparentemente, pessoas mudam por vários caminhos. Exceto hipsters.

Acredito que a característica que mais grita o oposto de hype, em mim, é a falta do silêncio.

Hypes em redes sociais, e na vida inclusive, prezam muito pelo menos por mais. Menos palavras, menos textos, menos imagens, menos expressão. Aguardo o dia em que vão criar uma rede social exclusiva. Não terá nada, sem fundo, nem letra, nem imagem, nem o próprio nome. Se bobear, nem url. Só uma foto de costas, de longe.

Silêncio na minha linguagem, significa que estou a beira do colapso. Se eu paro de lutar, acabou a guerra.

Não estou bem certa se um hipster real admitiria ser um. Quem curte uma auto-afirmação periódica, sim. Uma camiseta do batman, e se é geek. Uma falta de banho, e se é roots. Um beck uma vez no mês, e se é vida loka.

Pensando por esse aspecto, dizer que se é tão hype que odeia hypes, faz completo sentido. Antes o universo me dizer que sou, e não admito, a dizer que no meu tumblr eu penso que sou, mas bem da verdade, fica pra próxima vida.

Ter certeza do que é, é problema. Quem tem certeza não busca, não evolui.

Universo jogar verdades na minha cara, é bom. Melhor ainda, se eu me abaixar e pegar no hipster de trás.

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