Borboletas

Meu pau de óculos

Jéssica Motta
Saravá Furioso
Published in
3 min readFeb 21, 2014

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Borboletas o caralho.

Desculpem o palavreado. Essa é minha maneira sutil de demonstrar que discordo de tal dito popular. Não me parecem borboletas no estômago. Nem nenhum outro inseto. Simplesmente não sei o que há de errado com meu estômago, mas algo há. E não são borboletas.

Mania chatérrima de pré-definir uma sensação! Quero ter o direito de ter a sensação que eu quiser, e fazer a metáfora que eu bem entender.

A mim, a genuína senação que consta é: estranhamento. Meio que uma distorção na minha visão, no meu tato, no meu paladar, da minha audição. Tá tudo estranho, diferente. E eu gosto do estranho. Não é atoa que faço biblioteconomia.

Eu não estava pronta pra essa sensação vir tão de repente, no momento que eu botei o pé pra fora da minha bolha particular. É uma sensação gostosa, apesar de fora da zona de conforto. Mas fora de verdade, contrário de dentro. É tudo novo, tudo inesperenciado. Existe essa palavra? Viu, nova também.

Parece que cada detalhe tem um valor, um despertamento. Fico olhando praquele sorriso dentro do carro por horas, dentro mesmo daquele segundo. As medidas de tempo parecem estar novas também, um dia é mil anos e mil anos é um dia. Acho isso lindo, tinha esquecido de como é. Aquela velha sensação cronológica estava enjoando, hora de trocar as embreagens.

Juro que parei pra escrever prometendo que não iria discorrer por horas sobre as carasterísticas em si, e sim, sobre o que eu sinto. Mas é tão importante assim o que eu sinto? O foco nesse momento não é outro?

As pessoas confundem muito, ter um foco em algo ou alguém por um tempo, e ter tirado o foco de si mesmo. O foco já esteve em mim tanto tempo, porque não posso muda-lo de angulo? O foco é meu e eu ponho onde bem entender. Achei que isso fosse me preterir na vida, mas justamente o contrário, me cresce dentro de mim, me lança em direção a vida, só pelo fato de eu não saber pra onde estou sendo lançada e não ligar como vou voltar. Voltar eu sempre volto, sei o caminho de casa. Como um cavalo selvagem que pode correr o campo o dia todo, e a noite sabe de onde veio e pra onde voltar. To interessada é em correr. Não me importa pra onde.

Coisa mais engraçada a gente mudar tanto em tão pouco tempo. E que chato seria se não fosse assim. Uma vez que a gente se liberta, não quer mais saber de ficar em casa, quer aproveitar toda a liberdade. Liberdade pra mim não é zona de conforto. Como dizia Falcão do Rappa, paz sem voz, não é paz, é medo.

É tão diferente tudo que eu to achando bonito. Até isso na gente muda. As pessoas são diferentes, é tudo diferente. Um brinde à diversidade!

Tá, isso foi piegas.

E quer saber? Nem tô. Tô evoluída, tô solta, tô fluida, tô lá na frente, não volto nunca mais!

Enfiem no cu as borboletas. Não sinto nada disso. Sinto algo maior, algo diferente. Um valor por algo além de mim. Me abri pra vida, pra natureza, pro universo. Admirar um olhar calmo me detalhando em pensamentos, achando desculpas pra me tocar as mãos, os braços, o rosto, é apenas a maneira que eu achei agora pra me abrir de todo, pra tudo que a vida pode me dar. E ela dá mastigadinho, eu que preciso saber abrir o bico.

Enfiem no cu as pré-definições de felicidade ou de amadurecimento. Eu tenho o meu próprio amadurecimento definido e redefinido, definido de novo, definido diferente, definido ao contrário, definido preto e branco ou colorido.

E agora é colorido, voa, vive em ciclos. Mas não tem nada a ver com borboletas, vai por mim.

Tem a ver com meu pau de óculos.

Porra, estraguei o texto.

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Jéssica Motta
Saravá Furioso

Consequências da alfabetização indiscriminada.