Ferramenta de Content First: 3 passos para projetar narrativas em produtos digitais

Um modelo de design com foco em conteúdo para uma comunicação mais eficiente entre marca e público.

Paula Berlim
sbf-tech
10 min readJan 24, 2024

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Capa do artigo com o título “Content First: 3 passos para projetar narrativas em produtos digitais.”

A necessidade de Content First não pode estar descolada da discussão de como produto digitais devem se comunicar com seus públicos de forma eficiente e consistente.

E fazer isso vai muito além de ter um guia de tom e voz da marca para times de design e produto. É sobre exercitar na prática a lógica de conteúdo como o condutor de uma experiência fluída e que inspire confiança para o engajamento, a conversão e a transformação na relação usuário — marca.

Por isso, nosso time de Content Design decidiu criar uma ferramenta de Content First que conecte o conhecimento teórico de marca e de boas práticas de Content Design com o desafio diário de ideação dos times de design de produtos.

Agora convido você, designer e content designer, a:

  1. Entender o que é e por que adotar o design com foco em conteúdo (content first) no seu dia a dia.
  2. Saber como usá-lo de forma eficiente e útil.
  3. Conhecer os resultados que você e seu time podem alcançar a partir da mudança na forma como conteúdo é encarado no produto.

Mas o que é Content First, afinal?

O design com foco em conteúdo (content first) é uma metodologia difundida principalmente por Torrey Podmajerski, em Redação estratégica para UX, para projetar a experiência como um diálogo entre um emissor (a marca) e um receptor (o usuário).

“O diálogo está em nossa composição genética. Os seres humanos se revezam na fala e na resposta de maneiras que ultrapassam idiomas, continentes e culturas. Dialogar é algo muito mais antigo do que responder a pixels em interfaces e a sons em alto-falantes; portanto, ainda governa a forma como respondemos a esses estímulos.

[…]

Quando interagem com a experiência, os usuários estão dialogando com ela.” Torrey Podmajerski.

É muito comum que após o levantamento de informações das necessidades dos usuários e priorização de soluções para desenvolvimento, já iniciamos a prototipação com a escolha de componentes de design.

O content first propõe uma inversão nessa lógica: primeiro entendemos qual é a narrativa e a comunicação da jornada que atende essas necessidades dos usuários para depois escolher quantidade de telas, componentes de design e texto final.

Isso porque existem alguns fatores que precisam estar em coerência para a comunicação ser bem-sucedida e a compreensão acontecer, como propõe a teoria da comunicação de Roman Jakobson. E esses fatores estão presentes também em interfaces de produtos digitais.

Modelo de comunicação de Roman Jakobson com emissor e receptor conectados em extremidades laterais opostas e ligados por componentes de contexto (o cenário, com jornada, tarefas e ações), mensagem (o conteúdo, com narrativa e texto), canal (o cenário, com formato) e o código (o conteúdo, com recursos, heurísticas, idioma, acessibilidade).
Teoria da comunicação, de Roman Jakobson, com adaptações focadas em produtos.

Provavelmente você já viu esse quadro nas aulas de português dos tempos de escola, mas o que de fato importa para nós aqui é que as interfaces representam um diálogo entre marca e usuário. Esse diálogo contém componentes de:

  • Personagens. São os “quem” (marca e usuário).
  • Cenário. São o “porquê” e “por onde” (contexto e canal).
  • Conteúdo. São o “o que” e “como” (mensagem e código).
Modelo de comunicação de Roman Jakobson com emissor e receptor (quem) conectados em extremidades laterais opostas e ligados por componentes de contexto (o porquê), mensagem (o que), canal (por onde) e o código (como).

Simplificando: marca, contexto e objetivo de comunicação.

É com esse racional que construímos as diretrizes de tom e voz de Nike e Centauro no Grupo SBF e aplicamos no dia a dia por meio do Content First para que sejamos capazes de projetar a comunicação e, a partir dela, escolher a forma correta de entregá-la.

Na prática:

  1. Entendo o contexto do usuário e o que ele precisa fazer para chegar no seu resultado esperado.
  2. Mapeio o que nosso sistema precisa comunicar para que o usuário tenha uma jornada sem fricção, se identifique com a nossa marca e tenha confiança para completar todas as tarefas.
  3. Decido quais componentes de design e conteúdo vão me ajudar a entregar essa comunicação.
Modelo de comunicação de Roman Jakobson com emissor e receptor conectados em extremidades laterais opostas e ligados por componentes de contexto, mensagem, canal e o código. Abrangendo todo o modelo, existe um quadro que indica que ali tem a comunicação, e abrangendo a extremidade de receptor, existe um quadro que indica que ali tem compreensão.
Segundo a teoria de Roman Jakobson, a comunicação é bem-sucedida quando há compreensão.

Quando todos esses fatores são desenhados e projetados com objetivos claros, a nossa chance de ser compreendido pelo usuário e a comunicação acontecer de forma fluída são maiores.

Nos preocupamos muito com o código (componentes de design, fontes, tipografias, idiomas, etc) e não temos tanta clareza sobre como esse código deve interagir com o contexto e os personagens do diálogo. O Content First propõe que a gente visualize todos os fatores em conjunto para fluxos e narrativas que tenham sentido entre si.

Beleza, Paula, mas como funciona isso na prática da ideação e prototipação?

Vem comigo que vou apresentar a ferramenta e os 3 passos para fazer design com foco em conteúdo. Ela foi construída em um modelo de cocriação com Wilson Iwano, designer da Nike no Grupo SBF, que topou o desafio de criar no Figma uma solução feita para designers e pessoas de produtos digitais. E aqui já fica nosso agradecimento enorme por agregar tanto para a solução!

Acesse agora o modelo no figma para toda a comunidade de design da Ferramenta de Content First para usar na sua organização e seu contexto e personalizar como quiser. Lá, tem todos os componentes da ferramenta e orientações de como usá-los. Aproveite!

Ferramenta de Content First: projetando narrativas de produtos digitais.

Antes de começar, vale lembrar que ferramentas por si só não são o objetivo do fazer design. Elas nos auxiliam quando usadas com propósito e no momento certo, para o fim correto. Por isso, use o Content First para:

  • Desenhar o fluxo da solução que foi priorizada.
  • Mapear todas as tarefas do usuário que precisam acontecer para uma jornada fluída de experiência — com base nas informações levantadas na sua etapa de pesquisa — bem como possíveis cenários de erro e ruptura.
  • Projetar a comunicação da jornada antes de iniciar a prototipação.
  • Calibrar com coerência o tom e voz da marca em cada passo do fluxo.
  • Documentar seu racional de design e conteúdo e compartilhar em design critiques ou validações com stakeholders.

É uma ferramenta que inicia a etapa de ideação conectando os aprendizados da pesquisa e imersão com a forma final da solução.

Agora sim, vamos à prática! Siga os 3 passos a seguir para fazer design com foco em conteúdo. É ainda melhor se você acompanhar junto com o modelo no figma. Bora?

Ao longo do conteúdo vamos usar um exemplo de compra em um e-commerce por meio de link cuponável (quando usuário é impactado com uma promoção por meio de um link parametrizado).

Modelo de Content First do Grupo SBF.

Passo 1: definir o escopo da narrativa.

Escreva a intenção do usuário (ponto A) e qual o resultado esperado dele (ponto B) no escopo do seu fluxo. Aqui, entendemos o contexto do nosso usuário (externo ou interno), bem como sua jornada para um resultado.

Dica: recomendamos que o resultado seja sempre uma ação, como em um jobs to be done. Use verbos para descrever qual é esse objetivo final e ter clareza do escopo da narrativa que você está trabalhando.

Voltando ao nosso exemplo:

  • Intenção (ponto A): comprar um produto usando um cupom de desconto (via link cuponável).
  • Resultado esperado (ponto B): finalizar a compra com o desconto do cupom.

Observe que o limite da narrativa é a finalização da compra com o desconto. Não estamos considerando o fluxo de pós-vendas, por exemplo.

Uma boa definição de escopo significa clareza sobre o contexto da comunicação (cenário e o porquê da comunicação).

Modelo de Content First do Grupo SBF.

Passo 2: mapear as tarefas principais da narrativa.

Agora que você já tem o escopo definido, mapeie quais são as tarefas principais em etapas que devem acontecer do ponto A ao B. Aqui, entendemos o contexto de cada tarefa — o que deve acontecer para um fluxo sem fricção — como em uma jornada do usuário.

Resuma a tarefa no título e selecione o momento principal do ciclo de vida do produto que ela corresponde: atrair, converter, recepcionar, engajar, dar suporte ou transformar.

  • Tarefa 1: ganhar consciência e entendimento sobre o link cuponado.
  • Momento principal: atrair.

Dica: selecionar corretamente o momento do ciclo de vida do produto em cada tarefa principal vai ajudar você a entender o propósito dela.

Recorte do modelo de Content First com pontos A, intenção do usuário, e B, resultado esperado, conectados em extremidades opostas. Existe uma seta do ponto A ao B que conecta os dois e, entre essas extremidades, existe uma tabela com um cabeçalho que contém o título da tarefa e o seletor de etapa do ciclo destacados.
Você pode adicionar quantas tarefas forem necessárias. No exemplo, são 6 ao todo.

Passo 3: entender e projetar o conteúdo que você precisa entregar ao usuário.

Hora de entrar nos detalhes da comunicação! Após mapear as tarefas principais, para cada uma delas, responda as perguntas do Content First. A partir das respostas, você terá as informações para decidir a quantidade de telas, conteúdos e componentes de design no seu protótipo.

Aqui, entendemos como deve ser a mensagem e o código — o conteúdo em si. Mas não é a versão final dele, apenas sua definição. E é completamente normal que você tenha que revisitar essas definições quando estiver no protótipo, pois contextos podem mudar e necessidades diferentes podem surgir.

Quais ações o usuário precisa fazer aqui?

Quais tarefas de sucesso ele precisa completar para que a tarefa principal seja concluída?

Retome sempre o contexto da etapa e onde o usuário quer chegar.

Dica: pense em tudo que precisa acontecer para que ele complete a tarefa principal. Considere possíveis bloqueios e limitações do sistema, como cenários de erros.

Como vamos ajudá-lo a fazer isso?

O que precisamos comunicar? o que o sistema precisa dar ao usuário?

Defina como deve ser o conteúdo da mensagem. Não é o conteúdo final em si.

Dica: aqui vamos definir o objetivo principal da comunicação. Os agrupamentos do modelo são os mesmos que definimos no tom e voz das marcas do Grupo SBF e estão conectados com os momentos do ciclo de vida de um produto digital.

Como a nossa marca deve se expressar?

Quais conceitos de voz e tom vão de encontro ao que o usuário precisa nessa tarefa?

Aqui, você está representando a marca (o emissor) da narrativa. No modelo, as opções são generalistas e você deve personalizar de acordo com as diretrizes de tom e voz da sua organização. Recomendamos calibrar segundo a dimensão de tom proposto por Nielsen Norman Group.

Dica: calibre o seu tom e voz com muita intencionalidade. Para cada marca do Grupo SBF, designers podem consultar sua respectiva documentação para entender quando e como usar cada uma delas. Inclusive, você pode conferir aqui como foi o processo de tradução de tom e voz para Nike.

Essas orientações também já estão conectadas nos próprios componentes do figma para unir conceito à prática.

Com esses 3 passos, você já está com tudo certo para desenhar a solução final. Assim, terá mapeado o que precisa acontecer considerando o contexto de comunicação.

Para resumir!

Passo 1: definir o escopo (do ponto A ao B).

Passo 2: mapear as tarefas principais.

Passo 3: entender e projetar o conteúdo que precisa ser entregue ao usuário (ao responder as perguntas do Content First).

É sobre aplicar com coerência o conhecimento de marca tanto em forma quanto em conteúdo priorizando o diálogo eficiente entre produto e consumidor.

Importante ressaltar que a ferramenta foi inspirada pela metodologia proposta por Torrey Podmajerski e adaptada pelo time de Content Design do Grupo SBF considerando o contexto da companhia. Não significa que é a única maneira de fazer Content First e recomendamos que você também adapte ao que fizer mais sentido para a sua organização.

E ah, se quiser trocar ideias sobre diferentes formas de Content First ou tiver dúvidas sobre a nossa ferramenta, chama a gente no Linkedin! Paula Berlim e Luana Gomes.

Impacto do Content First no processo de design

Como resultado do uso de pessoas designers, notamos:

  • Melhor desenho de fluxograma e arquitetura de informação.
  • Aplicação coerente e intencional de conceitos de tom e voz no conteúdo final, bem como uma melhor assimilação das suas diretrizes.
  • Uso como formato de documentação para defender escolhas de conteúdo e design com stakeholders de outras áreas, como produto e engenharia.
  • Maior cocriação e colaboração com outras pessoas designers.
  • Qualidade dos atendimentos de conteúdo elevada para debates de narrativa e estratégia de conteúdo, não apenas revisão final de texto.

Agora, estamos em uma etapa de aprendizado pela repetição e prática no dia a dia até que todos os times tenham confiança de usar o Content First como recurso acionável e útil na etapa de ideação, mas já é nítida a entrega de valor da ferramenta que eleva a qualidade da discussão de conteúdo, marca e usuários nos produtos.

É este o resultado que esperamos que você também tenha.

Valeu por chegar até aqui! Use e abuse do modelo que disponibilizamos e se quiser trocar mais ideia sobre ou tiver dúvidas, é só chamar. E fique de olho nas redes do Grupo SBF para qualquer atualização da ferramenta. 😉

Agradecimentos especiais:

Wilson Iwano, pelo engajamento e contribuição na cocriação em desenvolver uma ferramenta de designers para designers.

Luiza Prade e Ayrton Gutierrez pela parceria na missão de consolidar o modelo de Content First em nome da companhia para toda a comunidade de design.

Nara Mulati, Lucas Moschione e Thales Souza por experimentarem a ferramenta com intenção e por apresentarem resultados incríveis nos atendimentos de Content Design.

Tamíz Freitas, por ser a primeira usuária do conteúdo e dar feedbacks tão úteis e valiosos antes de compartilhar com a comunidade.

Luana Gomes, por topar ser a melhor parceira no desafio construindo junto e elevando Content Design no Grupo SBF.

Eliseu Zanesco, por todo o apoio como líder para desenvolver algo tão criativo enquanto ContentOps.

Marina Domingues, por todo apoio como líder e sempre ter nos puxado em desenvolver ações eficientes para elevar a qualidade de conteúdo na companhia.

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