Não é nada pessoal.

Seu trabalho também não está tão a fim de você. E agora?

Vinícius Azerêdo
Blog da Transzmuta
Published in
5 min readOct 25, 2015

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Não é segredo que as pessoas não tem se entendido com empresas ultimamente. A verdade é que chegamos no limite. Não aguentamos mais nossos empregos. A vontade de largar tudo nunca bateu tão forte em tanta gente.

O que talvez não tenhamos percebido ainda é que o sentimento é recíproco. As empresas também não aguentam mais. E assim como você, estão prontas para partir para outra.

A realidade é que muita coisa está mudando com a Revolução Digital e vai continuar mudando cada vez mais rápido. Essa DR com nossas carreiras era inevitável. O que podemos fazer agora é tentar entender o que está acontecendo e, se necessário, aceitar o fim.

Não é só você que perdeu o interesse. Estamos nos afastando mutuamente.

Um terço dos trabalhadores nos Estados Unidos já são freelancers: pessoas que prestam serviços de forma independente, sem contrato trabalhista com nenhuma empresa. São pessoas que decidiram largar o compromisso sério com uma empresa por algo mais casual com várias outras e não abrir mão da sua liberdade. Para essas pessoas, já deu. Estão melhor sozinhas.

Na verdade, estão longe de sozinhas já que esse é um movimento que não para de crescer no mundo inteiro. O que era praticamente impossível antes da internet. No entanto, hoje existem dezenas de sites para encontrar “freelas” de maneira fácil e constante. Além, de infinitos artigos ensinando (e incentivando) o novo estilo de vida que muitas vezes compensa mesmo financeiramente.

Outra forma de desapego nascida em berços digitais é mais especificamente sobre o escritório. Por que ficar trancado em uma sala, se você pode viajar o mundo trabalhando do seu notebook? Ser Nômade Digital tem sido um dos grandes sonhos de consumo dessa geração, junto com criar o próximo Facebook e virar CEO, bitch.

Quando não dá para sair de vez, o jeito é achar um espaço dentro da própria empresa. O Home Office (famoso, trabalhar de casa) está virando uma prática comum depois te tanto enchermos o saco dos RHs. Tudo movido a notebooks com acesso remoto à rede corporativa. Não esqueça de agradecer ao pessoal de TI.

Tudo isso aponta para o que você já deve ter percebido. Estamos usando tecnologia como plano de fuga dos nossos empregos. Mas já desconfiou que talvez esteja fácil demais?

Para começar, sair do escritório não tem sido bom só para você. As empresas também estão aproveitando esse tempo longe. Num mundo super conectado de smartphones e redes sociais é até mais fácil gerenciar você online e custa menos. Além disso, se você está mais feliz e menos estressado, melhor ainda para os resultados da empresa. Esse é um daqueles casos que você acha que está fazendo falta, mas na verdade o outro lado está muito bem com a situação, obrigado.

Aliás, muitas start-ups bilionárias já nasceram querendo muito menos compromisso. Airbnb e Uber talvez sejam os exemplos mais conhecidos. A Uber, que oferece serviços de motoristas particulares através de um app para celular, na verdade não possui nenhum carro ou motorista. Já Airbnb lucra alugando quartos e casas, sem ser dona de nenhum imóvel.

Ambas são apenas plataformas para conectar quem tem com quem precisa. Igualzinho aquele site para freelance. Só que nesse caso, são as empresas que estão usando a tecnologia para ganhar mais liberdade dos funcionários. Com isso, elas conseguem ganhar escala ridiculamente rápido, com menos custos, burocracia e evitar a dor de cabeça de gerenciar milhares de funcionários a mais. (e possíveis processos trabalhistas)

Deixando a dor da mudança de lado, não adianta insistir no que não funciona mais. A Uber nos trata melhor, oferece água e abre a porta. Às vezes, tem doce e sorvete. Faz a gente mais feliz.

A nossa expectativa de consumo mudou com a era digital. Da mesma forma que nos acostumamos a comprar com um click e ganhar um brinde na promoção, cansamos de ficar esperando o táxi de braço esticado e ainda ter que passar no processo seletivo para pegar corrida. Abrimos o app do Uber e pronto.

A Revolução Digital está reinventando a maneira como consumimos e oferecemos trabalho da mesma forma que o e-commerce mudou como consumimos bens de consumo.

Pode ser difícil admitir quando estamos na posição dos taxistas e é nosso trabalho na reta, mas quando a sociedade segue em frente, não tem volta. Parece que as empresas estão aprendendo a viver sem a gente.

Se agora você está pensando “mas pera, e se fosse o meu na reta?”, começou a fazer as perguntas certas. Deitemos no nosso divã para uma última reflexão.

Empresas e pessoas não querem mais as mesmas coisas.

Temos um conflito de valores e interesses crescendo rapidamente. O dinheiro continua sendo importante, mas já não é a única coisa essencial que esperamos em troca do nosso tempo de vida colocado no trabalho. Não vai ser um novo pacote de benefícios que vai resolver dessa vez.

Para 6 em cada 10 Millennials (jovens nascidos entre 1980–2000), o “senso de propósito” é parte importante da razão pela qual escolheram trabalhar para seus atuais empregadores, segundo estudo da Delloitte. Ao mesmo tempo, a mesma pesquisa aponta que 75% desses jovens acreditam que as empresas em geral estão focadas nos seus próprios interesses em vez de ajudar a melhorar a sociedade.

Hoje, queremos mais equilíbrio, mais qualidade de vida. Não queremos ser uma etapa na linha de produção sem saber o que estamos construindo. Nosso impacto importa. Hoje, temos mais consciência. Queremos propósito.

Queremos mostrar quem somos com o que colocamos no mundo em vez do que tiramos da vitrine.

O problema é que empresas não são pessoas. Não possuem consciência própria e não evoluem sozinhas. Empresas são sistemas. Não acordam um dia e descobrem seu verdadeiro chamado. Não questionam se o que estão fazendo é bom. Não tem epifanias. Esse é o papel das pessoas dentro das empresas.

A Revolução Digital nos deu uma nova caixa de ferramentas. Estamos construindo as coisas certas com elas? Se as empresas ainda estão repetindo uma programação que não funciona mais, é nosso papel hackear o código e implementar as mudanças que queremos ver.

Então, vai esperar pelo pé na bunda ou vai fazer alguma coisa?

Só não comece um império de metanfetamina. Já sabemos que não acaba bem.

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