Universidade é lugar de luta

Murilo Cepellos
Se Joga
Published in
4 min readOct 10, 2016

Na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, o esporte tem um papel importante na luta contra a homofobia dentro e fora das quadras. Na equipe de vôlei masculino da FFLCH não há lugar para a intolerância.

Roberto Antiga Jr, aluno do curso de Ciências Sociais, já sentiu na pele a homofobia que permeia as competições esportivas universitárias. Segundo ele, o é esporte essencial na agenda de lutas e inclusão dentro do ambiente estudantil. Os uniformes com as cores do arco-íris, representando a bandeira LGBT, chamam a atenção desde antes da bola subir. Ao começar o jogo, os gritos e comemorações deixam claro que a intenção realmente não é passar despercebido, mas, sim, mostrar que o esporte também é lugar para os gays.

Campanhas sob medida

Nos Jogos Jurídicos Paulistas de 2015, disputado pelas principais faculdades de Direito do estado, foi lançada a campanha Jogos sem Racismo, Machismo e LGBTfobia. Os universitários e as entidades responsáveis foram convidadas a adicionar o símbolo da campanha às suas fotos de perfil no Facebook e Twitter, através deste link.

Mais de 50 pessoas aderiram à campanha, um número irrisório se comparado às cerca de 26 milhões de pessoas que coloriram suas fotos em homenagem ao direito conquistado pelos norte-americanos de se casarem com pessoas do mesmo sexo em junho de 2015, mas, dentro do micro-cosmos dos futuros advogados paulistas, a campanha simbolizou uma tomada de consciência por parte dos organizadores para evitar novos casos como o de Beto, em todos os âmbitos.

Em outras competições universitárias, posturas mais rígidas no que diz respeito a providências para inibir esses casos têm sido adotadas.

Antes do BIFE de 2014, competição que reuniu além da própria FFLCH, a FAU-USP e a ECA-USP, a comissão organizadora montou a CAO, Comissão AntiOpressão, dedicada exclusivamente a tentar coibir práticas intolerantes e amparar qualquer pessoa que venha a sofrer ações preconceituosas, tanto durante as competições, que ocorrem durante o dia, quanto durante as festas do período noturno.

“Porque o BIFE é pra todas e todos! Vem ser você mesmo com a gente! Machistas, racistas, lgbtfóbicos e preconceituosos de qualquer tipo NÃO PASSARÃO! Nem no BIFE e nem nunca!” dizia um post nas redes sociais da Atlética Lupe Cotrim, dos futuros comunicadores e artistas da USP.

Lá fora

Há um abismo entre a realidade do esporte universitário brasileiro e o norte-americano em termos de estrutura, profissionalismo, cobertura midiática, público e investimento. Mas assim como no Brasil, são os alunos atletas, ou, no caso dos estados unidos, os atletas alunos, que têm puxado a fila da discussão sobre a homofobia no esporte.

Em fevereiro de 2014, o defensor do time de futebol americano da Universidade de Missouri, Michael Sam, se assumiu publicamente, pouco antes de ser escolhido pelo St. Louis Rams para jogar na NFL. Isso marcou definitivamente o seu nome na história do esporte ao se tornar o primeiro jogador gay na mais importante liga da modalidade. Quando soube de sua convocação para NFL, teve a reação mais sincera possível.

Na época, Michael disse que era o primeiro, mas com certeza não seria o último jogador a se assumir publicamente e acertou em cheio. Dois meses depois, em abril de 2014, foi a vez do basquete universitário americano ganhar o seu primeiro representante assumidamente homossexual. “Nos últimos meses eu estava me perguntando quando um jogador da primeira divisão do basquete universitário iria se assumir, então eu disse ‘porque não eu’? Não queria mais me esconder de maneira alguma. Nunca estive tão feliz nos meus 22 anos de vida”, disse Derrick Gordon, da Universidade de Massachusets, à ESPN.

O jovem recebeu os cumprimentos de Jason Collins, que semanas antes se tornava o primeiro jogador em atividade na NBA a sair do armário, aos 35 anos.

Em outubro de 2015, mais um marco contra a homofobia no basquete universitário. O técnico da Universidade de Bryant, Chris Burns, publicou sua emocionante história no site Outsports e abriu espaço para quem antes se escondia atrás das pranchetas.

“Desde que eu comecei a contar às pessoas no basquete universitário que era [gay], percebi que meus medos eram muito piores do que a realidade” disse o técnico.

O treinador conta como foi difícil se esconder durante a sua juventude, quando atuava pelo colégio e pela Universidade, e deixa um recado de incentivo para que outros se livrem das amarras do preconceito e se joguem também, assim como ele, Michael Sam e Derrick Gordon.

“Tome o seu tempo até sentir-se confortável. A jornada de cada um é única e especial, ninguém deve sentir-se pressionado a nada. Mas quando chegar a hora de compartilhar quem realmente você é, você sentirá tanto alívio, esperança, liberdade e amor. É um sentimento realmente especial!”.

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