Porque ser Ágil é tão importante?

Mateus Silva
seedabit
Published in
7 min readJul 3, 2018

“Ágil” segundo o dicionário significa — que se movimenta com excesso de facilidade; que se move de maneira rápida; velozque acha uma solução rápida; que se consegue desenrolar com facilidade — porém qual o sentido em ser ágil? por que precisamos adotar o ágil como parte da nossa identidade?

Apesar da história retomar que os métodos ágeis são oriundos da década de 90 com base na construção do próprio SCRUM e outros frameworks e métodos, foi através do manifesto ágil, em fevereiro de 2001, que um grupo de 17 desenvolvedores renomados mundialmente definiu neste manifesto, quatro valores principais para “SER ÁGIL” dentro do desenvolvimento de software, são estes os valores:

Indivíduos e interações - mais que processos e ferramentas;
Software em funcionamento - mais que documentação abrangente;
Colaboração com o cliente - mais que negociação de contratos;
Responder a mudanças - mais que seguir um plano;

Mas o que isto nos diz sobre “o sentido de ser ágil”? Através dos quatro valores do manifesto ágil, iremos transgredi-los e associá-los não somente a desenvolvimento de software, vamos buscar juntos encontrar um significado maior para cada um destes valores.

Indivíduos e Interações:

O indivíduo é a manifestação de uma capacidade, e esta manifestação estimula a quem o vê. Usada em muitos contextos, tanto “Sócrates” como “a Lua” são indivíduos.

Cada ser humano, único, possui em sua existência única, uma forma de observar o ambiente e o universo ao seu redor. Tal capacidade humana foi inúmeras vezes surpreendida com novos desafios, estes que vão desde o uso de ferramentas para a caça, à criação das mais recentes tecnologias existentes hoje.

E estes desafios, sejam relacionados ao desenvolvimento de software ou não, só são superados graças não somente a capacidade humana, mas pelas “interações” que cada indivíduo — com suas ideias e conceitos únicos — podem criar uns com os outros. Segundo conceitos sociológicos, interações são ações recíprocas entre dois ou mais indivíduos durante as quais há compartilhamento de informações.

Fica claro e evidente que aquela velha frase — “juntos somos mais fortes” — não é a tona. É através da cooperação entre cada indivíduo, que os desafios se tornam menores, seja através da troca de experiências, ou do simples ato de auxiliar no processo de construção da solução, que tais interações construídas impactam de forma positiva não somente a solução gerada, mas os próprios indivíduos que fizeram parte destas interações.

Quem já não teve aquele colega de classe que não se comunicava, mas que após alguns semestres fazendo projetos e atividades em grupo passou a conversar mais com toda a turma e até à apresentar um potencial ainda maior? que apenas estava oculto, por este não interagir com outros indivíduos? Isto é um exemplo claro da mudança positiva que a individualidade de cada um, através das interações com outros indivíduos, pode gerar, sem esquecer evidentemente do respeito mútuo que devemos por obrigação, ter, uns para com os outros.

Software em Funcionamento:

Dispositivos não possuem serventia se não entregarem uma solução conjunta e harmônica entre hardware e software, assim assemelha-se a nós, não adianta nosso corpo estar funcionando bem, sem que nossa consciência também esteja bem. Somos o conjunto harmônico de corpo e mente sã, por mais que se cuide do corpo, se não houver a mesma atenção com a mente, nosso “software” vai estar cheio de gargalos, bugs, lapsos.

Ter sempre software funcionando é um desafio em qualquer projeto de desenvolvimento de software. Este desafio está ligado a entregar cada “parte” do sistema ou aplicação de forma funcional, integrada, ao fim de cada ciclo de desenvolvimento. Buscando não somente entregar o software funcionando, mas entregar “valor” ao cliente.

Segundo o budismo, tudo é impermanente e está em constante “estado de fluxo”, sendo que a noção do — eu — permanente, é uma das principais causas das aflições humanas e que, através da compreensão do — não eu — podemos ir além de nossos tormentos e desejos. Através do auto-conhecimento,

“se você viver de acordo com o caminho de harmonia, você cria felicidade e harmonia a sua volta”,

as vezes as pessoas acabam se esforçando muito em direções contrárias, enquanto um segue ao norte, ou segue ao sul, gerando determinado conflito/desarmonia. Mas o ser humano é capaz de aprender com o treino, podemos treinar e aprender qualquer coisa.

Somos humanos, temos a capacidade de aprender e construir novos conhecimentos, mediante isto, nosso “software mental” em constante atividade se desenvolve, cria novas conexões neurais, cresce e está sempre “funcionando”. Mas não basta apenas este “software mental” estar funcionando, precisamos entregar e garantir a funcionalidade de suas integrações, para que no ciclo posterior, o que antes fora desenvolvido possa ser interconectado ao desenvolvido no novo ciclo, unindo todas as experiências, sentimentos e sensações vividas para que possamos tomar decisões mais assertivas.

É importante desenvolver-se, porém é mais importante construir alicerces fortes para esse desenvolvimento.

Colaboração com o Cliente:

Quando lhe damos com um projeto, dentre todas as partes envolvidas, não existe maior interessado neste que o cliente — afinal é ele que está pagando suas contas—, e um fator crucial para o sucesso de um projeto é colaborar com o cliente . Muitos se questionam como construir essa colaboração, se deveria trazer o cliente mais próximo ao projeto, para que ele opinasse ainda mais sobre o resultado — gerando fuga ao processo de desenvolvimento, afinal a última palavra sempre é a do freguês, se ele quiser mudar algo você tem que estar pronto para essa mudança— ou se essa colaboração deve ser mais sucinta, através de feedbacks definidos — o que dependendo do cliente pode gerar um desagrado, por ele não estar acompanhando de forma próxima, o andamento do projeto — .

Poderia passar horas e horas teorizando segredos sobre a colaboração com o cliente, mas não existe segredo quanto a isto, tudo pode ser resumido em uma única palavra: “depende”. Depende de qual tipo de cliente você está lhe dando, usando como base o modelo SONCAS, existem diversos tipos de cliente, ele pode ser um cliente SIMPÁTICO, ou um cliente SEGURO e pra cada tipo de cliente você terá que ter uma interação única com ele. Mas não só depende de qual é o tipo do seu cliente, pode também depender do seu P.O, caso haja um, ou até das cláusulas contratuais, que nestas podem sim definir como se dará toda a comunicação com o cliente.

Mas este valor do manifesto não aborda unicamente sobre o cliente, também fala sobre colaboração do “time”, que não se espantem , mas na verdade a parte mais interessada no projeto não é o cliente, — mesmo que ele esteja pagando as contas — é o “time” — enganei vocês—, que luta e se esforça diariamente buscando o sucesso do projeto.

O sucesso do projeto está inteiramente atrelado a colaboração dos indivíduos que fazem parte do time. É esta colaboração, esta interação, que modela e da forma a solução. Essa interação deve sempre ser acompanhada por um indivíduo, no SCRUM, este é o papel do “Scrum Master”, se o desenvolvedor estiver com sede, o “Scrum Master” tem que ser o cara que vai comprar uma água no deserto para que esse impedimento seja sanado. Cuidar do time, para que todos colaborem harmoniosamente em busca do sucesso do projeto, é um papel não só do “Scrum Master” mas de cada integrante do time.

Responder a Mudanças:

Por fim, a parte mais temida de todas. Mudança para muitos é sinônimo de estranheza, incerteza, até medo. Será que mudar é tão ruim assim? Estamos realmente preparados para mudanças? Como devemos responder a elas?

Ótimos questionamentos, não? Eu não sei a resposta de nenhum deles, você, caro leitor(a) vai ter que descobrir suas respostas, mas, eu posso compartilhar um pensamento a respeito…

Fazendo uma menção humilde as palavras da Monja Coen,

“os seres humanos podem ser comparados a quatro tipos de cavalos, um cavalo ao ver a sombra do chicote ele sai galopando, outro só galopa se levar uma chicotada leve no pelo, o terceiro cavalo tem que machucar a carne se não ele não anda e o quarto cavalo apenas anda se o chicote fincar fundo no osso.”

As analogias são que ao ouvir da transitoriedade, da mudança, o primeiro cavalo percebe rapidamente tal transitoriedade, mesmo que ela ainda esteja distante, começa a apreciar a existência e a viver com plenitude, com energia, gostando de estar vivo; o segundo, refere-se a quando esta mudança reflete em nosso ambiente, nosso convivo, tendo que nos tocar de forma leve para que possamos sentir que ela chegou; o terceiro cavalo é quando fere a carne, quando acordamos atentos a uma mudança brusca, nos assustamos com a sensação da sua chegada, e o quarto cavalo é aquele quando afeta diretamente a você. — Qual destes cavalos seria você? —

Tudo na vida acontece uma única vez, nada é igual ao que já foi, temos que aproveitar nossa existência e responder da melhor forma as mudanças que chegarem, mesmo não estando preparados para elas.

Então…

Ser ágil não se trata apenas de ser eficaz, eficiente ou rápido, ser ágil é dar apoio mesmo que não seja necessário, adaptar-se aos ambientes, colaborar e interagir, evoluir não somente a si próprio, mas buscar a evolução conjunta. É tornar o impossível, possível, através do esforço conjunto. É não ser apenas “um”, mas dividir-se em “vários”, compartilhando suas experiências e sentimentos com o “time”, buscando assim alcançar um objetivo em comum.

Ser ágil é ser feroz e ser manso, feroz para ter coragem de recomeçar sempre e manso para saber lhe dar com as individualidades de cada um, através do respeito e equidade. Ser ágil não é mais apenas entregar o resultado dentro do escopo definido, é entregar resultado que gere valor e impacto.

Você é ágil? Não? Então porque não começar hoje?

--

--

Mateus Silva
seedabit

Um cara qualquer - Sobrevivendo em um lugar qualquer - Procurando um lugar qualquer - Para ser além deste qualquer.