Eu não escolhi te amar, futebol

Não é possível que isso seja somente um jogo, amigos

Esdras Pereira
segue o jogo
4 min readFeb 23, 2017

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Gatito Fernández, goleiro do Botafogo, teve noite de herói em seu país de origem, pela Libertadores. (Foto: Vítor Silva/SSPress/Botafogo)

Meu pai nunca teve tanto gosto pela paixão nacional. É daqueles que sabem que o São Paulo conta com Rogério Ceni. Se abusar, ainda pensa que como goleiro. Minha mãe, tampouco, mas creio que entenda até mais do riscado e de seu clube, o Corinthians. Com certeza, por ser a responsável em me levar às mais diversas quadras de Sorocaba e Votorantim durante o tempo que me aventurei pelo futebol de salão. Já comemorou gols, me viu ganhar, perder, ser expulso. Já quase arrumou briga com pai de adversário na arquibancada (é mole?). Além dela, o incentivo e o apreço pela peleja vieram de alguns tios e avôs. E, obviamente, travaram um certo embate na tentativa de influenciar a decisão de escolha do time do menino que nascera em 1994.

Mas, nem hoje, amanhã ou depois pretendo usar esse espaço para falar parcialmente sobre o meu clube do coração. A questão central, agora, é o futebol como sendo um dos maiores amores, da minha e, quem sabe, da sua vida. A noite desta quarta-feira (22) foi só mais uma prova disso tudo. Dificílima para quem é indeciso, por sinal:

Acompanhei todo o primeiro tempo de Botafogo e Olimpia, pela Libertadores, e vi o ferrolho alvinegro, bem postado, sofrer pouco diante dos paraguaios. Apenas um chute rasteiro tirou o sono de Helton Leite, lá pelos 43 minutos. Jogadores no vestiário, toca mudar para o Dérbi paulista. Maldita hora de tomar essa decisão. Bem no momento do erro grotesco de Thiago Duarte Peixoto.

Sobre o equívoco do árbitro, já falei, retwittei, enfim, usei a rede social de Evan Williams, Noah Glass, Jack Dorsey e Biz Stone com essa finalidade. Também não deixei passar em branco na de Mark Zuckerberg. Não vou me estender nesse ponto, a não ser acrescentar uma coisa: o futebol, sim, precisa do uso da tecnologia a seu favor. Porém, acredito ser necessário fomentar o debate sobre como usá-la corretamente. Minha modesta opinião é que, desafios, como no tênis e no vôlei, seriam uma possibilidade. O número de tira-teimas, no entanto, confesso que ainda não consigo sugerir, cravar. E nem deveria.

Enquanto acompanhava o segundo tempo do clássico, zapeava pelo passeio cruzeirense no Mineirão (6 a 0 sobre o São Francisco, do Pará), espiava o Botafogo, do filho de Jairzinho, o furacão da Copa de 1970. E, por falar em Furacão, o rubro-negro paranaense, infelizmente, foi o que menos consegui acompanhar ontem. Pelo que li, passou perrengue, como era de se esperar após empatar em casa na primeira partida, mas avançou com uma bola na rede: 1 a 0 sobre o Deportivo Capiatá e vaga garantida na fase de grupos da Liberta.

Instantes finais

Controle remoto voltando ao Corinthians e Palmeiras. Pressão verde nos minutos iniciais da etapa complementar — o jogador a mais, logicamente, fez a diferença. O tempo passa. Cara de zero a zero. Gol do Olimpia lá no Paraguai, aos 34”, marcado pelo atacante Montenegro. Muda o número do canal. A essa altura, os postes do alvinegro carioca eram defendidos por Gatito Fernández (Helton Leite saíra lesionado aos 16”).

Jô foi o responsável por tirar o zero do placar na arena, em Itaquera. (Foto: Daniel Augusto / Agência Corinthians)

Aguardando o apito final do chileno Julio Bascuñan, em solo paraguaio, para assistir o que provavelmente seria sacramentado em uma decisão por pênaltis, gritos ecoam pela vizinhança, rojões estouram. Um sinal. Como se fosse “bolinha na tela”, como é dito pelos narradores da Rede Globo. E realmente, o indicativo não falha: Corinthians 1 a 0, tento anotado por Jô, pouco mais de 30 segundos depois de ter entrado em campo.

Passa um tempinho, fim de jogo na arena, em Itaquera. Rápido, volta logo ao Paraguai, via TV, é claro. Exatamente no momento em que Gatito Fernández se consagrara no último de seus três pênaltis defendidos, desta vez cobrado por Benítes. O Botafogo está na fase de grupos. A noite termina, com partidas de todos as cores, gostos, sabores. E a paixão pelo futebol… Ahhhh, essa eu tenho certeza que nunca vai acabar, passe o tempo que for.

(Foto: Antonio José / Poesia do Olhar)

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