Há quatro anos, um alvinegro perdia um ilustre torcedor

Esdras Pereira
segue o jogo
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3 min readMar 6, 2017

Santista (ou corintiano?), Alexandre Magno Abrão, o Chorão, teve o microfone silenciado em 2013, após sofrer overdose de cocaína

Chorão foi encontrado morto aos 42 anos, em seu apartamento (Foto: Reprodução / Futebol MT)

Início da noite de 5 de março de 2013, pouco mais de um mês depois de iniciar o curso de jornalismo. A essa altura daquele dia, muito provavelmente já havia parabenizado um de meus melhores amigos da vida por seu aniversário. O tempo passou. Alimentado e de banho tomado. Um pouco de TV pra descansar a mente. O baque estaria por vir. Pronto, hora de dormir.

É um tanto louco como muitos dos piores acontecimentos chegam pela madrugada. Se o dia 5 de março começara bem com um grande amigo completando seus 19 anos, o seguinte se iniciou com uma daquelas notícias que nos pregam peça, surpreendem e doem na alma.

Seis horas da manhã. Toca o despertador. Como é habitual há algum tempo — consequência de nosso mundo cada vez mais Black Mirror –, com os dois olhos ainda semiabertos, checo alguns tweets no celular. Não poderia ser verdade aquilo que estava prestes a clicar. Às 5h18 de 6 de março de 2013, o corpo de Alexandre Magno Abrão, o Chorão, havia sido encontrado em seu apartamento, em Pinheiros, zona oeste da capital paulista.

Chorão foi um ícone do rock nacional. Compositor polêmico, cantor que inspirava (e continua inspirando) a trilha sonora de inúmeras vidas, inclusive a minha. Mas, a exemplo de vários grandes artistas de nosso país, sucumbiu aos prazeres e alucinações das drogas, e partiu aos 42 anos após sofrer overdose de cocaína, conforme revelou o exame necroscópico à época.

Sempre ouvi falar que Chorão era santista fanático. Mas, em entrevista ao SPTV, da Rede Globo, em 2013, o produtor Rick Bonadio, responsável por boa parte dos álbuns do Charlie Brown Jr, dissera que o coração de torcedor do cantor, na verdade, era dividido por dois clubes:

“O Chorão nasceu aqui na Zona Norte de São Paulo e se mudou para Santos. E ele tinha um carinho muito grande pelo time do Santos. Então, acho que ele tinha dentro dele esses dois times do coração. Mas, na verdade, o Chorão era corintiano.” (Rick Bonadio)

Santista ou não, o músico ditou o ritmo da festa do retorno de Robinho ao alvinegro praiano, no início de 2010 e, vez ou outra, marcava presença nas numeradas da Vila Belmiro. Tinha, também, uma tremenda paixão pelo skate. Em alguns shows da banda, deslizava shape, trucks e rodinhas sobre o palco. Ele, aliás, chegou a fundar um espaço para a prática da modalidade, denominado Chorão Skate Park, na Baixada. Como era alugado, depois de sua morte, o local teve de ser fechado por falta de recursos.

Chorão e uma de suas paixões: o skate. (Foto: Reprodução / Youtube)

Certo é que o santista (ou corintiano?), dos mais ilustres, teve seu microfone silenciado há quatro anos. Chorão faz falta. Suas canções, porém, sobrevivem à ação do tempo. E assim será, tenho por mim. Eu creio que não conheço alguém que não saiba ao menos uma das várias músicas cantadas por ele durante a carreira.

Se realmente existe um lugar ao sol depois de tudo que enfrentamos e vivemos por aqui, o músico, certamente, encontrou seu novo mundo, onde o céu é azul, sem nuvens. Lá, ao que tudo indica, as pontes são indestrutíveis e reina, sobretudo, aquela paz. E se as nuvens aparecerem e a chuva vier, com a camisa 10, vocês já sabem… E o melhor de tudo, por aquelas bandas, ele não precisa nem usar sapato.

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