O fantasma da Vila ‘Hell’miro

São Paulo, que lá enfrenta o Santos às 21h45 desta quarta-feira (15), pelo Paulistão, tem sido uma das maiores presas no “inferninho particular” do alvinegro praiano

Esdras Pereira
segue o jogo
4 min readFeb 15, 2017

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Tricolor Paulista não vence equipe da Baixada Santista fora de casa há oito anos; no estadual, jejum é ainda maior (Foto: Melhor de Santos)

“Jogar aqui, na Vila Belmiro, é como jogar no inferno.” A sensação de disputar uma partida no tradicional estádio da Baixada Santista foi descrita dessa maneira pelo boliviano Diego Cabrera, em 2008. À época, o então atacante do Cucuta, da Colômbia, teve o (des)prazer de pisar no gramado em derrota por 2 a 0 pela Libertadores. E o inferno, de fato, é logo ali para muitos adversários da equipe, atualmente comandada por Dorival Júnior. O São Paulo, que lá enfrenta o alvinegro às 21h45 desta quarta-feira (15), pela 3ª rodada do Campeonato Paulista, tem sido uma das principais presas no local, chamado carinhosamente de “Templo Sagrado do Futebol”.

O Tricolor Paulista não vence o Santos no estádio desde 2009, quando ganhou, apertado, por 4 a 3, pelo Brasileirão. Pelo campeonato estadual, o jejum é ainda maior: são 14 anos sem vitórias — a última foi por 2 a 1, em 2003. A Vila Belmiro é palco, desde 1930, de clássicos San-São. Levando em conta todas as competições em que já se enfrentaram naquele gramado, foram 97 jogos até aqui: 41 vencidos pelo Santos, 29 pelo São Paulo e 27 empates. 161 gols para o mandante, 146 para o visitante.

(+) Confira o histórico de todos os embates do clássico

Mas e para a equipe do Morumbi conquistar os três pontos nesta noite, qual o melhor caminho? Futebol não é ciência exata, porém Rogério Ceni deve imaginar que a partida de hoje será completamente diferente daquela de 2009, em que, ainda como goleiro, selou a vitória com uma cobrança de falta de cinema, aos 23" da segunda etapa. Isso porque as propostas de jogo das atuais equipes muito pouco se assemelham às de oito anos atrás (ainda bem!).

Rogério Ceni tentará voltar a vencer na Vila Belmiro, agora como treinador. (Foto: Rubens Chiri / São Paulo FC)

O famoso jargão “relembrar é viver”, neste caso, soa como um dos mais adequados (veja os melhores momentos do 4x3). No jogo em que o ex-arqueiro ainda defendia a meta tricolor, a maioria dos gols teve seu início em bolas cruzadas na área (três deles em cobranças de escanteio, dois em jogadas de profundidade pelas laterais).

Hoje, o comportamento de Santos e São Paulo em campo apresenta semelhança no que se refere à ofensividade, embora o time da Baixada esteja à frente na eficácia de seu sistema de jogo. Alguns dos motivos: ter mantido sua base de jogadores do ano passado e seu excelente treinador, bem como ter contratado peças pontuais de reposição. O principal problema, talvez já esperado por Dorival Júnior com as lesões de Gustavo Henrique e Luiz Felipe no último ano, é a zaga. Mesmo com a chegada de Cleber, que estava no Hamburgo (ALE) e ainda não estreou, o técnico tem testado esquema com apenas um zagueiro de origem, Lucas Veríssimo. Yuri, que é volante, jogou as duas primeiras partidas ao seu lado. Apesar de melhorar a qualidade na saída de bola da equipe, a falta de equilíbrio defensivo teve como consequência as redes sendo balançadas quatro vezes em dois jogos.

Eficácia do sistema de jogo santista tem relação com a continuidade do trabalho de Dorival Júnior (Foto: Ivan Storti / Santos FC)

Atacar demais é perigoso?

A respeito do Tricolor Paulista, embalado pela goleada do fim de semana (5 a 2 diante da Ponte Preta, em casa), obviamente é muito cedo para avaliar o trabalho desenvolvido por Rogério Ceni. Mesmo assim, tudo indica que, com ele, os torcedores podem esperar uma postura muito mais ofensiva, por exemplo, do que a de seu antecessor, Ricardo Gomes. Logo de cara, Ceni tem deixado claro que preza pelo ataque. Brinca, inclusive, que “cansou de defender” — analogia à posição em que teve carreira de sucesso. Precisa, no entanto, tomar cuidado para não sofrer do mesmo problema do Atlético Mineiro 2016, comandado por Diego Aguirre e Marcelo Oliveira. O Galo era dos mais fatais ao atacar, mas, defensivamente falando, penava pela dificuldade de compactação das linhas. O clube do Morumbi, no estadual, sofrera seis gols em dois jogos.

Raio-x

Para o São Paulo, o primeiro clássico oficial do ano, em caso de resultado positivo, será a oportunidade de chutar para escanteio o jejum na Vila. Com relação a inferno, Ceni e seus comandados — para satisfazerem a alegria do “patrão” –, certamente pretendem substituir, ao fim do jogo, o fantasma da “Hellmiro” por “Hells Bells”, do AC/DC, canção adorada pelo ex-goleiro. O time ocupa a liderança do grupo B, com três pontos, seguido pelo Linense, de mesma pontuação.

Esperanças de gol: Gilberto e Rodrigo já marcaram três gols cada na competição estadual. (Fotos: Paulo Pinto / São Paulo FC e Ivan Storti / Santos FC)

Já ao Santos, a partida servirá como chance de alavancar o grande potencial de seu inferno particular e, de quebra, continuar sendo a maior das dores de cabeças recentes do torcedor são-paulino. O alvinegro é vice-líder do grupo D, com seis pontos, atrás do Mirassol, que tem 9, mas já entrou em campo nesta rodada.

Em TV aberta, o confronto será transmitido pela Rede Globo, às 21h45.

Escalações prováveis para o clássico, segundo o GloboEsporte.com:

Santos: Vladimir; Victor Ferraz, Lucas Veríssimo, Yuri e Zeca; Thiago Maia, Leandro Donizete e Lucas Lima; Vitor Bueno, Copete e Rodrigão. Técnico: Dorival Júnior

São Paulo: Sidão, Bruno, Maicon, Rodrigo Caio e Buffarini; João Schmidt; Thiago Mendes, Cícero, Cueva e Luiz Araújo; Gilberto. Técnico: Rogério Ceni

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