Como a abordagem no bastão influenciou o mercado de agentes livres

Segunda Base
Segunda Base
Published in
4 min readApr 2, 2018

por Leonardo Parrela

Carlos Santana, agora nos Phillies, é um dos símbolos da nova forma de enxergar os números dos rebatedores. (Foto: Getty Images)

Muito se falou durante a offseason que os clubes gastaram pouco, ou que o mercado foi “lento”, entre outras coisas. Rebatedores com mais de trinta home runs, outrora disputados a mihões por equipes, foram deixados de lado. Isso pode ter a ver com uma tendência, que se manifestou na última temporada da MLB e pode ser mais presente ainda neste ano: a abordagem no bastão.

Apenas para ilustrar, vamos usar como exemplo os cinco melhores rebatedores da liga em dois aspectos: home runs e walk per strikeout ratio. Giancarlo Stanton (59), Aaron Judge (52), JD Martinez (45), Khris Davis (43) e Joey Gallo (41) compuseram o grupo de cinco jogadores com mais home runs enquanto Joey Voto (1.61), Justin Turner (1.05), Mike Trout (1.04), Anthony Rendon (1.02) e Anthony Rizzo (1.01) fizeram parte do grupo de BB/K.

Muitas pessoas, ao montarem um time, desprezariam a potência dos cinco primeiros nomes para ficar com a ocupação de base e o número de bolas colocadas em jogo pelo segundo grupo. E não é como se o segundo grupo pecasse em potência: todos os jogadores tiveram, pelo menos, 20 home runs. Em entrevista recente à ESPN, David Ortiz disse que, conforme ao passar do tempo, mudou sua abordagem no bastão. “Eu passei a preferir colocar a bola em jogo, conseguir rebatidas duplas e ter um bom contato do que aumentar o número de strikeouts em troca de um home run. Se você tem um número alto de strikeouts, você prejudica o seu time”, afirmou um dos melhores rebatedores designados da MLB.

A classe de agentes livres desta temporada dos chamados “rebatedores de potência” incluiu Yonder Alonso, Lucas Duda, Eric Hosmer, Carlos Santana, Mike Moustakas, JD Martinez entre outros. Fora o negócio absurdo e inviável para a maioria das franquias que envolveu Eric Hosmer e JD Martinez, um rebatedor cobiçadíssimo, Carlos Santana foi quem conseguiu bastante a maior quantia de dinheiro. Dentre os citados, Santana foi o que menos rebateu bolas pra fora do estádio (23), mas foi quem teve o melhor walk per strikeout ratio (1.00).

Os times ao montar seus elencos estão escolhendo, preferencialmente, alguém que ocupe mais bases do que simplesmente despejar dinheiro num jogador que só rebate home runs e que seja eliminado com relativa facilidade pelos arremessadores. Estamos vivendo a era do sabermétrica do jogo, onde todos os movimentos são calculados e sempre o time é montado visando tirar o melhor de cada jogador.

Gallo (36.8), Judge (30.7) e Davis (29.9) estão no grupo dos jogadores com os maiores percentuais de strikeouts, assim como Stanton (23.6) e JD Martinez (26.2). A relação potência/produtividade para a equipe foi avaliada com cuidado. JD Martinez queria um contrato maior, mas ainda sim 110 milhões por cinco anos são um bons números.

E a menor oferta de dinheiro a esse tipo de jogador “ultrapassado”, vem num novo contexto pra liga. Equipes que estão competindo na atual MLB não prezam, necessariamente, por um jogador que rebata home runs. Some isso ao fato que os últimos campeões da MLB (Astros e Cubs) não montaram seu atual elenco despejando dinheiro em jogadores que só rebatem home runs. Atualmente, para se ganhar dinheiro na liga, é preciso ser mais que isso. E acho que, em função desse contexto da abordagem do bastão, os jogadores no mercado ganharam pouco dinheiro.

Lorenzo Cain, um ótimo defensor e um jogador com rendimento aceitável no ataque, ganhou um contrato de cinco anos/oitenta milhões de dólares. Carlos Santana, um rebatedor que se enquadra no atual tipo de procura dos times, assinou por três anos/60 milhões. Zack Cozart, também três anos por menos dinheiro (38 milhões). A liga de gastos exorbitantes e contratos de dez anos ficou para trás e é preciso entender isso. Contratos como os de Giancarlo Stanton, Alex Rodriguez, Prince Fielder, Adrian Gonzales e afins serão cada vez mais raros de acontecerem novamente.

Ao final desta temporada, Bryce Harper e Manny Machado serão agentes livres. São jogadores jovens, com bons índices de ocupação de base e home runs e provavelmente ganharão seus milhões de dólares. Ninguém tem dúvidas que Mike Trout assinará por muito dinheiro quando a hora chegar, assim como Kris Bryant, Nolan Arenado e tantos outros. São jogadores que já estão acostumados com essa nova abordagem no bastão/mentalidade ofensiva e serão buscados a todo custo. Eles também assinarão por menos dinheiro do que os jogadores dos anos 90 e início dos anos 2000, mas o reconhecimento — em forma de pagamentos -, também acontecerá.

A nova geração de executivos da liga está preocupada em gastar com qualidade para evitar contratos ruins que deixarão o time preso a veteranos sem tanta produtividade à longo prazo. A busca é para sempre correr o menor risco possível e isso, fatalmente, envolve dar menos dinheiro a jogadores que não são considerado os melhores, apesar do jogo envolver, cada mais vez dinheiro.

Todos os dados dessa coluna foram retirados do site Fangraphs.

--

--

Segunda Base
Segunda Base

Desde 2011, o Segunda Base traz conteúdo original e análises sobre a MLB, produzidos por uma equipe de apaixonados por beisebol