Como não ser romântico sobre o beisebol?

Segunda Base
Segunda Base
Published in
3 min readAug 1, 2015

[tw-divider]Por Antony Curti[/tw-divider]

A maioria das pessoas utiliza a palavra “romântico” numa conotação que não tem muito a ver com aquele movimento cultural do Século XVIII. Naquela época tudo estava muito chato. Iluminismo, Revolução Francesa e todo aquele racionalismo que acabou sendo combatido com esse movimento que te fez bocejar nas aulas de português da escola. Em essência, o romantismo era sobre ideais: o drama humano, os ideais utópicos, o eu. O subjetivo. As históricas que cativam. Que emocionam.

E te pergunto: Existe emoção mais humana que o choro? Provavelmente não. Nascemos chorando e ele é a primeira manifestação da tristeza no controle das emoções de nosso cérebro. Nesta semana fui tomado por perplexidade por algo que pensei que não veria mais nos esportes profissionais. Num mundo que LeBron leva seus talentos de um lado para outro e que Lewandowski troca o Borussia pelo Bayern de Munique como alguém troca de namorada, tudo parece líquido — como Bauman bem retrataria em sua obra sociológica. Nos esportes americanos mais ainda, já que trocas são a essência da movimentação de jogadores ainda em contrato. E você sabe: o beisebol é o esporte que mais pulsa trocas.

Eis que o choro, o romantismo, o esporte e as boas histórias se encontraram numa maneira que somente o beisebol poderia conceber. Wilmer Flores, shortstop dos Mets, foi “avisado” pelos presentes no ballpark na quarta-feira. Avisado que ele fora trocado: as redes sociais. Enquanto Flores ainda estava dentro de campo, uma troca parecia se desenrolar: Zack Wheeler e ele seriam trocados para o Milwaukee Brewers por Carlos Gómez. Este praticamente se despedia de Milwalkee — fotos com a galera no avião indicava isso — e o New York Times já dava a troca como certa.

Flores soube. Engoliu seco como uma slider que caprichosamente pousa na luva do catcher após quebrar o plano do home plate dentro da zona de strike. Wilmer foi ao seu at bat na sétima entrada sob ovação no Citi Field. Ali ele soube. Era o último at bat de azul e laranja. Na oitava, quando voltou para defender, eram as lágrimas que quebraram o os olhos e a alma de Flores. Aquele era o time que ele já havia defendido na MLB — afinal, assinou com a organização dos Mets em 2007 e subiu até as grandes ligas sem conhecer qualquer outro tecido que não fosse algum com vínculo metropolitano

Mas… Às vezes as coisas mudam. Como numa fly ball que cai da luva do outfielder, como aquela ground ball que passou pelas mãos de Bill Buckner em 1986 (desculpem-me, torcedores dos Red Sox), a troca se desfez. Ninguém sabe oficialmente o porquê — embora o mais provável seja uma questão médica com Gómez. De repente o namoro se reatou, de repente a esperança de continuar nos Mets voltava. Ele não saberia disso até o final de um jogo banhado por lágrimas.

Parece que as estrelas (ainda) são como nós, seres humanos que choram do momento que nascem até o momento que morrem. Controlamos com o superego quase todas as emoções pueris: menos o choro. Ela é a manifestação mais romântica e mais humana. Não poderia aparecer em outro lugar senão no beisebol, um esporte no qual a torcida cria raízes com o time durante 162 choros de uma temporada.

Duas noites depois de apertar o coração dos torcedores dos Mets, duas noites depois de derramar lágrimas no diamante… Ele disse adeus — como Rômulo diria. Disse adeus para a bola, não para os Mets. Depois de um grande jogo do lado defensivo da bola, Flores explodiu a bola para fora do campo. Eram entradas extras — a décima-segunda, para ser mais exato. Um home run tão solo quanto seu apertado coração estava na quarta. Mas que fora o bastante para vencer ante os Nationals em importantíssima vitória para os rumos da divisão leste da Liga Nacional.

Dizem que não há choro no beisebol, dizem que homens não choram. Wilmer Flores quebrou mais esses paradigmas. Como não se emocionar? Como não torcer?

… como não ser romântico sobre o beisebol?

--

--

Segunda Base
Segunda Base

Desde 2011, o Segunda Base traz conteúdo original e análises sobre a MLB, produzidos por uma equipe de apaixonados por beisebol