Cubs, McFly, Carneiros, Zodíaco

Segunda Base
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4 min readApr 5, 2015

[tw-divider]Por Antony Curti[/tw-divider]

Tudo começou com a família Ricketts comprando o time. Depois veio Theo — que se você for supersticioso, quer dizer Deus em grego — e um plano de reconstrução. Agora esse plano parece estar começando a funcionar: vem Maddon, vem Lester (e quem não adora abridores canhotos?). Aí para colocar aquela cereja gostosa no topo, a clássica previsão em De Volta Para o Futuro 2 — que foi escrita por um fã dos Cardinals e dos White Sox.

Não bastava isso, agora tem motivação. Antes da temporada 2015 o lendário Mr. Cub, Ernie Banks, faleceu — e digamos que uma World Series cairia bem para honrá-lo. Ok, você quer mais? Te dou mais. 2015 é o ano do carneiro no horóscopo chinês — e caso você não saiba, há uma gigantesca maldição envolvendo carneiros (goats) e o Chicago Cubs. Será que agora vai? Bom, 2003 também foi o ano do carneiro e os Cubs, além de vencerem a NL Central, ficaram a 5 outs de chegar à World Series pela primeira vez em décadas — até que aquilo de Steve Bartman aconteceu e a torcida dos Cubs deve achar melhor que eu não fale mais nada. Ah sim, vale lembrar que Lester e Theo Epstein, ambos, são de capricórnio (o signo do bode/carneiro).

É muita coisa acumulada. E aí vem a pergunta: será que os Cubs finalmente vencerão a World Series pela primeira vez desde 1908? É a seca mais longa da história dos esportes americanos. É a que mais se romantiza. Sabe aquele negócio de Corinthians e Libertadores há um tempo atrás? Então, potencializa isso por muito mais.

Agora vai? O cenário positivo

É a pauta mais batida da história — mas considerando que Marty McFly previu e que o Opening Game de 2015 é com os Cubs, é uma pauta também válida. Primeiro de tudo: é prematuro. Praticamente todos os analistas americanos colocam 2016 como o breakout year do time. Mas sejamos mais românticos e inspirados por todas as coincidências que coloquei acima — supondo que Banks negociou com Deus pessoalmente pela glória em outubro.

A fórmula de 85–90 vitórias (o que seria o bastante para o Wild Card, haja vista que os Giants tiveram 88 em 2014) existe no elenco atual em Chicago. Jon Lester é o abridor principal de uma rotação um quanto tanto subestimada — não obstante, Chicago tem um bullpen que lança mísseis e deve gerar uma quantidade considerável de strikes durante o ano. Ao mesmo tempo, o lineup tem peças interessantes — Anthony Rizzo, principalmente, que teve um excelente final de 2014 quando o assunto foi power swing.

Quando falei de Lester, falo de uma melhora em seu desempenho. Afinal de contas, é muito mais fácil lançar na NL Central do que em qualquer divisão da liga americana — Jon teve anos de AL East, não esqueçamos (e é uma das melhores divisões quando o assunto é rebatedores). E quando falar dos prospects a gente vai falar de… Kris Bryant. Líder em home runs no Spring Training, Bryant está fazendo jus a absolutamente tudo o que foi falado sobre ele até agora. Temos também Soler nesse mix — ele fora rankeado em 14º como prospect — e ambos podem muito bem ser o NL Rookie of The Year.

Mas nem tudo são flores: o cenário negativo realista

De toda forma, é preciso ser pé no chão — por mais romântica que a história dos Cubs o seja. Da mesma forma que comentei sobre o ataque acima, comento de modo realista aqui. A on-base percentage dos donos do Wrigley foi terrível no ano passado — a equipe foi a 28ª da liga no quesito e nenhuma equipe de pós-temporada esteve em posição pior do que 17ª. Ao mesmo tempo, por mais que elogiemos Rizzo e eventuais home runs em 2015, uma andorinha só não faz verão — ou melhor, solo home runs não fazem o verão de uma franquia. Além disso, por mais carnaval que se esteja fazendo em cima de Bryant — sabe Deus quando ele sair de Iowa para Chicago — ele e Soler são apenas calouros. O time, além disso, conta com outro jovem, Javier Baez — uma máquina de strikeouts (e os Cubs lideraram a MLB no ano passado quando o assunto foi strikeouts).

A rotação, por mais subestimada que seja, não tem experiência para carregar um time à pós temporada. Nem Hammel nem Arrieta lançaram em pelo menos 200 entradas numa temporada. O canhoto Travis Wood conseguiu exatamente 200 em 2013. E a gente não pode esquecer: Pirates e Cardinals vem muito forte para 2015. Para os que sonham com wild card, a divisão oeste da Liga Nacional pode mandar um time por ele e outro como campeão — e fica difícil imaginar Pittsburgh ou St. Louis fora da pós-temporada. Nessa zona ainda temos Mets e Marlins querendo aprontar no leste. Os Cubs, em suma, podem ser um time na média — mas a média não basta no beisebol.

Se Chicago não passar das 80 vitórias — e esse é um cenário plenamente plausível — será por seu ataque ser inconsistente e cadenciado pontualmente em rebatidas duplas e home runs; mas nunca na on-base tão sagrada do Moneyball. 2015 tem de ser enxergado — por mais maluquices e coincidências que temos no primeiro parágrafo desta coluna — como um ano de aquecimento, de colocar as peças (sobretudo as jovens) no lugar. 92 vitórias é sonho, 82 é realidade. Mas quem disse que queremos realidade no Wrigley Field?

E se os Cubs ganharem?

Apocalipse em Chicago é a melhor descrição. É nó na garganta atrás de nó na garanta, de maneira exponencial. Se você quiser imaginar como seria, o comercial do MLB The Show 2012 — so real it´s unreal — leva qualquer torcedor dos Cubs às lágrimas. Será que Marty McFly deveria ter colocado uma grana nos cubbies? Provavelmente não. Mas sonhar é muito mais gostoso.

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