Quem vai ficar com Stanton?

por Almir Lima Jr.

Segunda Base
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5 min readNov 15, 2017

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Após oito anos nos Marlins, chegou a hora de Stanton trocar a comodidade de Miami para jogar por um contender. (Foto: Getty Images)

Antes do jogo 2 da última World Series, Giancarlo Stanton foi o centro das atenções na sala de coletivas do Dodger Stadium. Ele estava lá para receber o prêmio Hank Aaron de melhor jogador ofensivo da Liga Nacional, mas no final das contas, o que todo mundo queria saber era se ele já tinha falado com os novos proprietários do Miami Marlins. Em meio aos rumores sobre ser trocado para o time conseguir realizar seu desejo de reduzir drasticamente a sua folha de pagamento, ele ainda não havia conversado com Derek Jeter, o novo comandante da franquia, sobre seu futuro. A situação não mudou até hoje, enquanto as negociações para trocar o slugger já começaram. Está bem claro que os próximos passos de Stanton serão em outro rumo.

Nesta semana, aconteceu em Orlando o encontro anual dos gerentes gerais da MLB e a principal atração foi Jeter. Ele foi um dos últimos a dar entrevistas e não se comprometeu a trocar Stanton, principalmente pela dificuldade que o monstruoso contrato do outfielder impõe. Os US$ 325 milhões prometidos a ele no acordo válido por 13 anos, com término previsto para 2027, é o maior da história do esporte em valores brutos, e a partir do ano que vem, ele receberá nada mais, nada menos que US$ 69 mil por dia (embora esse valor não chegue nem perto do recorde, que — adivinhe — é do brasileiro Neymar, dono de US$ 150 mil diários até 2022 vindos dos cofres do Paris Saint-Germain), sem falar nos possíveis bônus por premiações de fim de temporada. De qualquer forma, é uma boa grana e um compromisso de longo termo para uma franquia assumir, um problema grande para trocar o contrato de mãos.

Nesta temporada, Stanton teve sua melhor temporada, tanto em níveis estatísticos quanto os de saúde. Ele não teve nenhuma passagem pela lista dos machucados, ficando de fora de apenas quatro jogos, e teve o maior número de aparições no bastão em sua carreira, liderando a liga em home runs (59) e corridas impulsionadas (132) jogando em um time mediano, o que lhe rendeu um WAR de 6.9, o maior número da NL, empatado com Anthony Rendon, dos Nationals. Na defesa, os números o colocam como o terceiro melhor right fielder do Senior Circuit em DRS (métrica usada para definir o valor defensivo total de um jogador), atrás apenas de Yasiel Puig e Jason Heyward.

O valor de Stanton nunca esteve tão alto e tão baixo ao mesmo tempo. Ele ainda tem 28 anos e seus melhores anos podem estar prestes a chegar. Por outro lado, será que vale a pena pagar US$ 25 milhões anuais — e ainda ter que dar prospectos de qualidade para os Marlins — até ele fazer 38 anos? E outra: os Marlins estão dispostos a pegar menos talento em retorno numa eventual troca para transferir o contrato na totalidade ou Jeter estaria disposto a pagar parte do contrato? São variáveis que a negociação apresenta e que podem fazer uma resolução ser negativa.

A história está cheia de exemplos que mostram os problemas desses compromissos de longo prazo. Em 2013, Prince Fielder assinou contrato de 9 anos com os Tigers para ser o primeira base da equipe. Hoje, após sofrer uma lesão séria, está aposentado e receberá US$ 72 milhões de dólares dos Rangers até 2022 para ficar em casa. Albert Pujols fechou com os Angels por 10 anos em 2012 e hoje, aos 37 anos, não lembra nem parte da ameaça no bastão que era nos Cardinals (e levará para o bolso US$ 114 milhões até 2021 por isso). Os Yankees pagarão US$ 42 milhões válidos por este e o próxmo ano para Alex Rodríguez enquanto ele, já aposentado, brilha nas transmissões da Fox americana. O que diferencia Stanton desses casos? O slugger oferece uma mesa farta para um time que precise de alimento, embora essa abundância tenha tempo para terminar. Ele é super atlético agora, mas com o passar dos anos, sua mobilidade diminuirá, sua defesa começará a declinar e talvez seus números ofensivos também. E então? O que fazer depois?

O valor atual de Stanton o faz um alvo fácil para a grande maioria dos contenders que tem dinheiro para gastar. Natural do subúrbio angelino, ele cresceu como torcedor dos Dodgers, que vindos de um vice-campeonato da World Series, com muito dinheiro saindo da folha nesta offseason e um farm system repleto de talento, podem ser um destino favorável para o outfielder, que preferivelmente gostaria de ir para a Costa Oeste. Os Giants também poderiam aparecer na equação, já que estão inclinados a adicionar um jardineiro de potência para a próxima temporada, mas o que pode dificultar a negociação é a falta de promessas nas Ligas Menores.

Outros destinos, como os Cardinals e os Red Sox, que assim como os Dodgers tem dinheiro livre e talento para usarem como moedas de troca, também estão aparecendo frequentemente nos rumores, mas aparentemente Stanton não parece inclinado a dispensar sua cláusula de restrição pra troca para se mudar para um dos dois times.

Se formos analisar o lado dos Marlins, o nível de investimento atual parece inviável para um time que provavelmente não tem chances de chegar aos playoffs e que tem um dis piores farm systems da liga. A nova administração quer diminuir a folha para US$ 90 milhões, então Stanton é só a ponta do iceberg. Absolutamente todo mundo da equipe está disponível no mercado e Jeter não parece nem um pouco preocupado em levar a campo um perdedor nas próximas temporadas se isso significar um futuro vencedor no longo prazo. Então, a motivação para trocar Stanton é muito maior do que apenas se livrar de seu contrato. É um movimento com potencial para alterar o futuro da franquia.

Derek Jeter, um dos novos proprietários dos Marlins, está destinado a reconstruir o time do zero e Stanton é parte importante no processo. (Foto: Getty Images)

O encontro de inverno da liga, a ser realizado no começo de dezembro na Walt Disney World, em Orlando, é onde as grandes peças do dominó do mercado começam a cair. Stanton é muito bom para ficar nos Marlins mergulhando de corpo e alma numa reconstrução na organização de cima para baixo. Qualquer que seja o time que tenha ele no plantel no próximo Opening Day, terá um dos dez melhores rebatedores da liga na atualidade. Que comecem os jogos!

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