Quem vai ser a primeira escolha? Conheça os principais nomes do Draft 2018 da MLB!

com a colaboração de Almir Lima Jr. e Rafael Guimarães

Segunda Base
Segunda Base
12 min readJun 2, 2018

--

Em um dos drafts mais abertos dos últimos tempos, o abridor Casey Mize e o catcher Joey Bart são os dois favoritos para irem para os Tigers com a primeira escolha geral. (Montagem: Reprodução)

Enquanto a temporada vai rolando a todo vapor, a partir da próxima segunda (4) os front offices vão trocar a chave para se concentrarem na realização do Draft da Major League Baseball deste ano. O recrutamento, que chega a sua 53ª edição em 2018, está se configurando como um dos mais abertos dos últimos anos, com o Detroit Tigers, dono da primeira escolha geral, ainda indeciso sobre quem vai ser o jogador selecionado, contribuindo para um efeito dominó que espalhou a indecisão para os outros times do topo da ordem.

Com as mudanças no último acordo trabalhista entre a MLB e a Associação de Jogadores, uma das novidades é que todos os times terão ao menos uma escolha de primeira rodada a partir desta edição. Antes, caso uma equipe que contratasse um free agent que tivesse recebido oferta qualificatória do seu antigo time, perderia a sua escolha mais alta no recrutamento (e se ela fosse uma das dez primeiras, seria a segunda mais alta).

O draft representa uma das principais formas dos times construírem seus plantéis para o futuro; nesta temporada, dos 1.080 jogadores utilizados, cerca de 74% saíram do recrutamento. No primeiro dia, realizado nos estúdios da MLB Network em Nova Jérsei, serão realizadas as primeiras duas rodadas junto da rodada de escolhas compensatórias (para recompensar os times que perderam free agents que receberam escolhas qualificatórias) e das rodadas de escolhas de balanceamento (distribuídas para as equipes de menores mercados da liga). Na terça (5), as escolhas continuarão a ser feitas até a décima rodada e serão retomadas na quarta (6), quando as equipes terminarão seu recrutamento escolhendo até a 40ª rodada.

Com as mudanças no último acordo trabalhista, todas as equipes terão ao menos uma escolha de primeira rodada neste draft. (Foto: Mike Stobe/Getty Images)

Como funciona o draft da MLB?

Diferentemente dos drafts das outras grandes ligas americanas, o da MLB acontece durante a temporada e também durante o começo da College World Series, a finalíssima do beisebol na NCAA. Além disso, é também o mais extenso: são quarenta rodadas, dividas em três dias. É uma das seleções mais intrigantes, pois trata de prospectos. São raríssimos os casos de jogadores que vão para os times principais de cara, sem passarem pelas ligas menores. Então, provavelmente, os nomes selecionados nesta semana só serão vistos nas Grandes Ligas daqui a algum tempo.

São elegíveis para o draft jogadores recém-graduados do high school (equivalente ao Ensino Médio brasileiro) ou que estejam pelo menos no segundo ano do college (universidade) e tenham pelo menos 21 anos; não há limite máximo de idade. Ainda, é obrigatório que o jogador resida nos Estados Unidos e seus territórios (como Porto Rico ou as Ilhas Virgens) ou no Canadá.

Uma das particularidades do recrutamento da MLB é a restrição de dinheiro distribuído (pool) ao longo das primeiras dez rodadas. Antes da seleção, a liga divulga quanto cada time poderá gastar para assinar com os selecionados nos primeiros dois dias. Geralmente, os times que selecionam mais alto e os que tem mais seleções tem mais dinheiro para gastar. Neste ano, os Royals, que terão seis escolhas (!) no top 100, terão US$ 12,8 milhões no pool, enquanto os Dodgers, donos da última escolha na primeira rodada, terão apenas US$ 5,2 milhões para gastar.

Além disso, cada escolha possui um valor máximo de bônus, que caso seja ultrapassado, resultará em multa. Nas primeiras dez rodadas, cada escolha tem um valor diferente: a primeira geral tem como limite US$ 8,1 milhões, enquanto a última da décima rodada vale US$ 137 mil. Caso o acordo do valor exceda os limites nesse intervalo de rodadas, não há penalidade, porém, após a décima rodada, quando o limite máximo de valor é de US$ 100 mil, o excedente será contado para o valor disponível para as primeiras rodadas, o que faz com que os times tenham de bolar uma estratégia para conseguir o máximo de talento sem exceder o pool. Caso ocorra a excedência em mais de 5%, o time perde a sua primeira escolha do próximo draft.

Quem vai ser a primeira escolha?

É difícil argumentar contra Casey Mize. O pitcher destro fez uma campanha forte com Auburn, apesar da equipe não ser tão forte. A principal característica de Mize parece ser uma segurança rara para um jogador jovem, demonstrando uma capacidade de não perder o controle da velocidade e da direção dos arremessos mesmo em situações apertadas e já com alta contagem de pitches. Aqui é importante destacar algo para os fãs pouco acostumados com o college: as estatísticas no esporte amador costumam ser mais inchadas, então o ERA de 3.07 do jogador é muito melhor do que parece à primeira vista.

O principal concorrente à roubar a posição de Mize parece ser Joey Bart, catcher de Georgia Tech. Uma verdadeira máquina de chegar em bases, é provavelmente o principal jogador em termos ofensivos nesse draft. Uma combinação rara do especialista em slug que se espera ter na posição de catcher com bom pensamento defensivo. A principal dúvida com relação a Bart talvez seja sua velocidade, tanto com os pés quanto em realizar os arremessos na defesa. Muitos scouts também criticam sua propensão a partir para o swing em arremessos ruins. Essas características podem ser vistas por diferentes times tanto como fáceis ou difíceis de corrigir, e portanto Bart pode acabar sendo a primeira escolha ou a décima sem que ninguém fique surpreso com qualquer uma das duas posições.

Por último, talvez correndo por fora, temos Brady Singer, mais um pitcher saído da fábrica de arremessadores que se tornou a Universidade da Florida. Assumindo em 2018 o posto de ace da equipe, Singer teve um começo de temporada assustador, mas caiu de produção a partir da metade do ano. O fim de temporada tem sido um melhor momento, mostrando que é um jogador capaz de voltar de uma sequência ruim sem problemas. A questão sobre ele é: até onde o seu sucesso vem do fato de jogar no melhor programa defensivo do país?

O destro Casey Mize, ace de Auburn, é considerado de longe como o melhor jogador da classe, mas pode não ser escolhido como primeiro. (Foto: Wade Rackley/Auburn Athletics)

Os melhores rebatedores de college na classe

A classe de 2018 do college parece tão promissora em termos ofensivos como todos os anos. Além de Bart, outro grande nome com o bastão é Nick Madrigal, a estrela maior do time de Oregon State que causou terremotos por onde passou em busca do título universitário. Um jogador com excelente taxa de chegada à primeira base. Apesar de ser um jogador pequeno para os padrões do baseball e da falta de força para transformar as rebatidas em home runs, é um jogador capaz de direcionar a bola rebatida e que facilmente transforma arremessos menos pretensiosos em corridas impulsionadas.

Além de Madrigal, podemos citar Travis Swaggerty, o outfielder de South Alabama conhecido pelo seu estilo agressivo. Apesar de acertar menos a bola que seus concorrentes Madrigal e Bart, é provavelmente o rebatedor mais forte do draft. Precisa desenvolver a paciência e a frieza. Foi pego tentando roubar a base em um terço das suas tentativas pois parece escolher mal o momento para isso. Diferente das características de Bart, que parecem ser corrigíveis, os problemas de Swaggerty são mais de personalidade e intangíveis. Mas o potencial físico do jogador é atraente demais para deixar passar.

Um jogador peculiar e que deve aparecer entre as escolhas mais altas é Alec Bohm, terceira base da pequena Wichita State. Vindo de um programa menos poderoso que a maioria dos seus concorrentes, Bohm é visto como um líder capaz de melhorar o ataque do seu time em momentos apertados. A etiqueta que costuma acompanhar os seus scouting reports é a de “especialista em impulsionar corridas”, e muitos relatórios falam de um jogador capaz de sacrificar a própria glória em troca de garantir a vitória. Ainda assim, é um jogador absurdamente físico e por isso tem um teto potencial de talento muito alto. Sendo um jogador disciplinado, é provável que continue evoluindo de maneira regular.

Jonathan India é outro nome vindo do Florida Gators que vem ganhando espaço. Teve um ano maravilhoso ofensivamente e contribuiu muito para a defesa da equipe como 3B. A grande questão com India é o fato de que ele nunca teve um bom desempenho nos outros anos de sua carreira universitária e já era considerado um jogador reserva do Gators na pré-temporada. Essa falta de currículo gera medo em muitas equipes e causa um certo estranhamento. É provável que passe mais tempo sendo testado nas minors que seus concorrentes, mesmo que demonstre um bom desempenho desde o primeiro momento.

Para encerrar a lista, temos um jogador que parece ser sobrenatural. Steele Walker é um outfielder do Oklahoma Sooners que parece ser dotado de uma capacidade sobrenatural de escolher os momentos certos para o swing, demonstrando um instinto felino que não permite que seja facilmente enganado por sinkers e outros changeups.

Moldado no mesmo estilo de José Altuve, Nick Madrigal é o destaque da classe de rebatedores vindos do college. (Foto: Steven Branscombe/USA TODAY Sports)

Os melhor pitchers universitários

Em uma classe com Casey Mize e Brady Singer, a presença de Shane McClanahan, ace de South Florida, praticamente passa despercebida. Entretanto, o que temos aqui é um jogador que, com 21 anos, já tem um arremesso que toca consistentemente nas 100 milhas por hora. Com o apoio de um time profissional, o jogador rapidamente irá se tornar um verdadeiro canhão. O problema aqui é desenvolver a precisão do jogador: conforme seu potencial aumentou em força, caiu em precisão, numa movimentação comum. É preciso saber como o jogador vai recuperar sua capacidade de posicionar a bola.

Ryan Rolison tem algo que costuma trazer os jogadores para o alto no draft: a melhor bola curva da classe 2018. Somado a isso temos uma fastball regular e precisa que pode gerar um combo fatal. O canhoto de Ole Miss é um daqueles jogadores que, com a ajuda de um catcher cerebral, pode formar uma battery destruidora e capaz de obliterar ataques. Precisa, entretanto, resolver problemas que parecem fazê-lo sofrer muito com fadiga ao longo das partidas. Isso pode envolver realizar correções em suas mecânicas de arremesso, o que é sempre perigoso para o futuro dos jogadores.

Fechando a lista temos Jackson Kowar, mais um jogador vindo do Gators e sua tradição defensiva. Com uma fastball precisa que possui potencial para ficar mais rápida e um arremesso changeup dos melhores da classe, ele é considerado um jogador praticamente pronto para contribuir com muitas equipes no bullpen. Entretanto, muitos scouts acreditam que ele deveria tentar desenvolver uma break ball enquanto estiver nas minor leagues para realmente se tornar um jogador valioso.

Dono de uma bola rápida que chega às 100mph, o canhoto Shane McClanahan faz parte de uma classe profunda de abridores no college. (Foto: GoUSFBulls)

E a garotada do high school?

Em 2017, pela primeira vez na história do já cinquentenário recrutamento das Grandes Ligas três jogadores vindos do ensino médio foram selecionados com as três primeiras escolhas, mas desta vez tal cenário é bastante improvável (e muito por causa da hegemonia da classe forte de jogadores da faculdade citada acima). Entretanto, nessa nova era do draft onde o gerenciamento dos recursos destinados ao pagamento dos bônus se configura como parte fundamental na tomada de decisões, os times podem surpreender com suas estratégias.

Caso Detroit decida fugir das altas demandas salariais de Mize e Bart, um nome ventilado para a primeira escolha geral é a do outfielder Jarred Kelenic, de 19 anos, que poderia assinar com um bônus bem abaixo dos US$ 8 milhões reservados para a top pick. Vindo do estado de Wisconsin, onde o clima frio não permite a realização da tabela completa de jogos no high school, ele fez sucesso atuando pelas seleções americanas de base e é particularmente reconhecido pela sua habilidade rebatendo, sendo considerado o melhor rebatedor da classe vindo do ensino médio. O único negativo é que na defesa, os scouts não estejam certos de que ele possa permanecer no campo central futuramente.

Falando em rebatedores, se você é fã de home runs, Nolan Gorman talvez seja um prospecto que te interesse. O terceira base que estudou no estado do Arizona foi o campeão do último Home Run Derby de jogadores de ensino médio realizado na edição passada do All-Star Game da MLB em Miami e também ganhou o evento no Under Armour All-American Game, um dos principais eventos de showcase para o draft. Dono do bastão mais potente da classe, ele não é o queridinho dos scouts, que questionam a sua habilidade de estabelecer contato contra competição superior e sua capacidade de se manter jogando na esquina caliente.

Arremessadores canhotos arremessando na casa das 95mph sempre são uma commoditie valiosa nos drafts, e é por causa disso que Matthew Liberatore sai na frente da concorrência para ser o principal pitcher — ou melhor, jogador — vindo do high school, talvez por ter sido o atleta mais consistente na temporada que antecedeu o draft, diferente de outros nomes que apareciam junto dele no topo da lista de principais prospectos como o destro texano Ethan Hawkins, que preocupa times por lesões, e o shortstop californiano Brice Turang, que não correspondeu às altas expectativas dentro do campo.

Liberatore, radicado no Arizona, ainda é um trabalho em progresso, com espaço para masterizar seus arremessos secundários, como sua curva (que já chama a atenção por uma alta taxa de spin rate), mas o que se destaca mesmo é a sua capacidade de habitar a zona de strike misturando os locais da sua boa bola rápida mantendo a velocidade mesmo em aparições longas, sendo uma das apostas mais salvas de top 10 dessa parte da classe.

Após se destacar jogando pelas seleções americanas de base, canhoto Matt Liberatore deve ser escolhido no top 10. (Foto: Brace Hemmelgarn/Getty Images)

Outro arremessador que pode aparecer nas primeiras escolhas é o destro Cole Winn, que vem tendo seu nome ventilado nos Giants, que detém a segunda escolha. Vindo da Califórnia, ele ascendeu meteoricamente nos quadros do draft ao se destacar no circuito pela seu repertório que apresenta potencial de três arremessos acima da média (com destaque para uma slider reformulada com a qual ele consegue misturar velocidades), além de apresentar uma das mecânicas mais limpas de toda a classe.

A dúvida cruel: o dilema dos jogadores two-way

Considerado o trigésimo sexto melhor prospecto desse draft pela MLB Pipeline, o outfielder Kyler Murray, da universidade de Oklahoma, parece ser um nome certo para ser chamado por uma das equipes durante a primeira noite do recrutamento, onde as três primeiras rodadas são preenchidas. Mas Murray é um caso a parte. Ele pode escolher assinar contrato para jogar beisebol (e ganhar um bônus milionário por isso) ou então continuar na faculdade para ser o substituto do quarterback Baker Mayfield, selecionado pelo Cleveland Browns com a primeira escolha do último draft da NFL, no ataque dos Sooners para esta temporada do college football, e quem sabe se tornar uma promessa para a NFL.

Para tentar a sorte no futebol americano, Murray quase certamente irá recusar qualquer oferta caso escolhido neste draft para focar na faculdade, onde continuará jogando os dois esportes. Ele já tem 21 anos, então o relógio para ser prospecto de beisebol já disparou. Mas não se engane, ele é um jogador que está bem cotado nas listas (muito por conta de seus ótimos números no bastão nesta temporada universitária) e um time que se apaixonar por isso pode acabar oferecendo mais que o slot prevê para tentar “acabar com a dúvida” e levá-lo de vez para o beisebol. Essa dúvida vai ser forte, mas ao menos ele pode pedir ajuda ao seu pai, Kevin Murray, que arremessou nas ligas menores pelos Brewers e foi quarterback de Texas A&M durante a década de 80 e passou por situação parecida na época

Prestes a substituir Baker Mayfield como quarterback de Oklahoma, Kyler Murray pode receber bônus milionário para focar no beisebol neste draft. (Montagem: MLB.com)

Quem se identificaria com esse dilema de Murray é Jordyn Adams, também outfielder, mas vindo do ensino médio da Carolina do Norte. Aos 18 anos, ele é considerado o jogador mais rápido de toda a classe e é frequentemente comparado com Byron Buxton, que foi a segunda escolha geral dos Twins em 2012 e hoje é parte significativa do futuro da franquia. Se um time quiser assinar com Adams, terá que primeiro passar por cima de seu pai, que é o técnico da linha defensiva do time de futebol americano de North Carolina, universidade com a qual já assinou compromisso para receber bolsa e jogar beisebol e como wide receiver (onde também tem futuro). Entretanto, seu talento no diamante chama a atenção e a maioria dos mock drafts estão colocando seu nome na primeira rodada, que seria o único lugar que poderia seduzi-lo a não ir para a faculdade (por causa dos bônus consideravelmente maiores).

Ordem das escolhas na primeira rodada

1. Detroit Tigers
2. San Francisco Giants
3. Philadelphia Phillies
4. Chicago White Sox
5. Cincinnati Reds
6. New York Mets
7. San Diego Padres
8. Atlanta Braves
9. Oakland Athletics
10. Pittsburgh Pirates
11. Baltimore Orioles
12. Toronto Blue Jays
13. Miami Marlins
14. Seattle Mariners
15. Texas Rangers
16. Tampa Bay Rays
17. Los Angeles Angels
18. Kansas City Royals
19. St. Louis Cardinals
20. Minnesota Twins
21. Milwaukee Brewers
22. Colorado Rockies
23. New York Yankees
24. Chicago Cubs
25. Arizona Diamondbacks
26. Boston Red Sox
27. Washington Nationals
28. Houston Astros
29. Cleveland Indians
30. Los Angeles Dodgers

--

--

Segunda Base
Segunda Base

Desde 2011, o Segunda Base traz conteúdo original e análises sobre a MLB, produzidos por uma equipe de apaixonados por beisebol