[Resenha] A ciência do beisebol: livro “Moneyball”

Segunda Base
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4 min readMay 18, 2016

[tw-divider]Por Vitor Camargo (@tmwarning)[/tw-divider]

De certa forma, pode-se dizer que toda ciência começa com uma pergunta. Por que as coisas caem? Porque o sol nasce no leste e se põe no oeste? Por que as estações do ano acontecem? Essa curiosidade, essa vontade de entender algum fenômeno, leva pessoas a formularem perguntas e buscarem respostas para elas.

Então nada mais adequado que o livro mais famoso sobre a ciência do beisebol comece de forma idêntica: com uma pergunta.

E para entender essa pergunta, é preciso entender o contexto do livro. Moneyball é do começo do século XXI, e beisebol era um esporte diferente naqueles tempos. Não tínhamos um sistema de distribuição de receitas, limites para gastos, ou times com propostas diferentes — todo mundo pensava igual, e todo mundo gastava igual. E quando todo mundo gasta seu dinheiro igual quem tem mais dinheiro para gastar tem uma grande vantagem.

Mas a MLB tinha uma exceção, chamada Oakland Athletics. Apesar de ser o segundo time mais pobre da liga e estar eternamente em uma posição de desvantagem financeira contra o resto da MLB, o A’s continuava desafiando a lógica e sendo um dos melhores times da liga, ganhando mais jogos do que qualquer outro time tirando o Atlanta Braves.

Essa foi a pergunta que motivou o excelente Michael Lewis a escrever Moneyball: como um time tão pobre conseguia vencer tantos jogos no esporte onde dinheiro tinha o maior peso tinha um peso tão grande? Qual era a vantagem competitiva que o A’s tinha que lhe permitia competir no mesmo nível dos times mais ricos da liga?

O ponto inicial para responder essa pergunta foi o Oakland Athletics de 2002, mas logo o time se torna apenas o ponto de partida, a tela em cima da qual Lewis pinta toda uma incrível história que vem se desenrolando desde os anos 70. Lewis nos apresenta várias histórias diferentes, várias tramas interligadas, e as une de forma magistral no ponto onde todas elas acabaram se amarrando, naquele time histórico do Athletics que acaba sendo o ponto de partida e o ponto “final” de Moneyball.

E a verdade que Lewis descobriu é uma que, estranhamente, acabou ficando em segundo plano: se o A’s não poderia competir com os demais na base do dinheiro, ele precisava de algum outro tipo de vantagem competitiva. No caso, uma forma de conhecimento que nenhum outro time possuía. O da ciência do esporte.

De certa forma, sabermetrics pode se resumir a isso: a ciência do beisebol. Em outras palavras, ao invés de encarar o esporte com as certezas da visão tradicional, passar a olhar para o esporte como qualquer ciência: questionando as velhas certezas, testando empiricamente as hipóteses, e descobrindo novas verdades — verdades essas que, nas mãos certas, poderiam transformar em resultados.

E o interessante é que esse tipo de conhecimento não foi algo criado pelo Oakland A’s — era algo que vinha sendo desenvolvido desde décadas atrás fora da Major League Baseball. Enquanto as pessoas de dentro da liga repudiavam essa forma de conhecimento, ele prosperou entre fãs, estudiosos e entusiastas fora desse círculo. Billy Beane, Paul DePodesta e o A’s não criaram Sabermetrics, mas não por isso foram menos revolucionários: eles foram os primeiros a trazer esse conhecimento para dentro da MLB, e assim mudaram o esporte para sempre.

Então é isso que vocês ganham lendo o livro Moneyball: não só uma sensacional história escrita de forma brilhante por um dos melhores escritores de não-ficção do mundo, mas também a chance de acompanhar o desenvolvimento histórico de diversos conceitos e fundamentos que mudaram a forma como enxergamos o esporte hoje, e como eles acharam uma forma de entrar no mundo do beisebol e nas grandes ligas. E, como Lewis deixa claro, a história do livro não se limita a um time ou às estatísticas, ela é composta das histórias de pessoas como Chad Bradford, Jeremy Brown, Scott Hattenberg, e tantos outros que fizeram parte desse momento tão importante na história do beisebol. E Moneyball ainda tem uma grande vantagem de ser lido hoje em dia: nós sabemos o que aconteceu depois. Ao longo do livro, o autor abertamente especula sobre o futuro do beisebol, o futuro das sabermetrics dentro do esporte, e muitas outras coisas… só que nós sabemos exatamente o quão certo ou errado ele estava, e como aquelas sementes plantadas no começo do século mudaram a forma que a MLB funciona hoje em dia. Em um momento em particular, Michael Lewis comenta sobre a resistência dos torcedores de Boston quanto ao Red Sox adotar as Sabermetrics, notando ironicamente que o time vinha tentando ganhar do “jeito tradicional” faz 84 anos, sem sucesso, e que talvez a ciência poderia enfim trazer uma solução para a “Maldição do Bambino”. Essa passagem ainda me faz rir alto 12 anos depois.

A história do Oakland A’s é fantástica o suficiente. Mas as histórias humanas e pessoais que Lewis usa para enriquecê-la é o verdadeiro trunfo de Moneyball. Ele é um livro sobre beisebol, e um livro sobre pessoas, e as vezes é importante ser os dois.

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Desde 2011, o Segunda Base traz conteúdo original e análises sobre a MLB, produzidos por uma equipe de apaixonados por beisebol

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