Walk intencional é um problema para o beisebol

Segunda Base
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Published in
4 min readMay 15, 2016

[tw-divider]Por Glaydson Prado[/tw-divider]

O beisebol é um esporte fascinante. Com infinitas nuances a cada arremesso e de longe é o meu preferido, mas é bem imperfeito. As longas e exaustivas entradas-extras, ultimamente a baixa na ofensiva dos times, os arremessos diretamente direcionados aos jogadores por qualquer motivo que seja, a questão do bat-flip. Há mesmo um “jeito certo” de jogar o jogo? Isso não soa extremamente antigo e ultrapassado? Mas hoje estamos aqui para discutir o problema dos walks intencionalmente cedidos.

O beisebol é, em sua essência, um esporte com o ritmo menos frenético se comparado a outros como o nosso futebol, o futebol americano, o basquete ou mesmo o hóquei no gelo. O que não é um problema até aí, já que como em qualquer dos esportes mencionados há sim os momentos de calmaria durante as partidas. O ponto é que as superestrelas destes esportes são extremamente decisivas em toda e qualquer jogada. O Cristiano Ronaldo e o Messi pegam a bola em todas as jogadas ofensivas de seus times, LeBron James idem, Patrick Kane participa, ao que parece ser, de metade dos gols do Chicago Blackhawks na NHL e Tom Brady pega na bola 70 vezes por jogo, mas o beisebol é diferente, pois a superestrela de um time por ter apenas quatro oportunidades de decidir o jogo.

Um exemplo é Bryce Harper, do Washington Nationals. Harper tem força no bastão para rebater um home run em qualquer aparição sua ao bastão. Bares em Washington param para assistir quando ele vai ao home plate. Porém, se você tira dele a oportunidade de ser decisivo no jogo, todos nós perdemos com isso. O walk intencional é uma falha gigantesca do jogo. Uma maneira de managers escolherem a saída mais fácil ao simplesmente não enfrentar as maiores estrelas do jogo sem ter que pagar um preço muito caro ao fazer isso.

O maior problema do walk intencional é que a punição é praticamente nula. Ainda há que eliminar o rebatedor que se segue, é bem verdade, mas ainda sim o walk intencional é só uma pessoa em base ou, se já houver alguém em base, os corredores avançam uma base, entretanto o resultado poderia ser bem maior. Geralmente é uma estratégia burra, já que mais homens em base significaria mais corridas cedidas, caso o rebatedor que seguiria conseguisse um home run, mas as porcentagens fazem com que a estratégia de ceder o passe livre para a estrela acabe compensando.O Washignton Nationals enfrentou o Chicago Cubs, do aclamado por sua inteligência Joe Maddon, por quatro jogos e foram varridos relativamente de maneira fácil. Maddon simplesmente se recusou a arremessar para Harper durante toda a série. Isso é uma tendência que só tende a aumentar e não somente com Harper, mas, ainda falando do Chicago Cubs, Kris Bryant ou Anthony Rizzo.

Não é a estratégia de andar intencionalmente a estrela adversária que é repulsiva, mas sim que a punição é ínfima. Chega a ser uma atitude anticompetitiva, tira a empolgação do jogo, é entediante e horrível para o esporte e a liga. Acaba com a tensão de um at-bat emocionante e a substitui por 30 segundos de duas pessoas “brincando” de jogar a bola um para o outro. Um passe livre, praticamente sem consequências, para evitar enfrentar o melhor jogador do adversário.

No último domingo (8), Harper foi ao home plate sete vezes, viu 27 arremessos e andou seis vezes sendo que também foi atingido por um arremesso. Apenas dois dos 27 arremessos foram strikes. Não entrarei no mérito do rebatedor que o seguiu e não ter conseguido fazer o adversário pagar por tal estratégia, mas certamente é algo preocupante e que não deverá acontecer apenas com Harper ou com os Cubs.

Há vários aspectos do jogo que já fazem parte há tanto tempo que os mais conservadores ficam revoltados quando questionamos qualquer um destes, mas é necessário questioná-los, debater, buscar o melhor para o jogo e evoluir. A NFL, por exemplo, muda regras num estalar de dedos e sem cerimônia nenhuma. Não que a MLB deveria fazer o mesmo, porém, há de pensar sobre incentivos e punições para pontos antiquados do jogo.

Os mais liberais dizem que um walk intencional deveria valer duas bases — ao invés do rebatedor andar apenas até a primeira-base ele já iria para a segunda-base e todos os corredores a sua frente andariam não uma, mas duas bases também — e isso certamente faria com que os rebatedores fossem premiados com alguns strikes, só que dificilmente acabaria com a estratégia. Outra ideia que gira a web é a de que os catchers seriam impedidos de ficarem em pé atrás do home plate, o que certamente faria o walk intencional mais difícil de acontecer.

Dificilmente alguma dessas ideias, ou as dúzias de outras que circulam a internet, será adotada, mas não ficaria surpreso se a estratégia virasse norma em todas as partidas da liga. Bryce Harper, Mike Trout, Carlos Correa, Corey Seager e outras dezenas de jogadores seriam vítimas disso e todos nós perdemos com isso.

O beisebol é entretenimento acima de tudo e qualquer esporte é melhor quando as estrelas têm em mãos o poder de decidir o jogo. Como Harper disse outro dia: “Let’s make baseball fun again” (Vamos deixar o beisebol divertido de novo).

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