Design Thinking não resolve problemas

Pedro Piovan
SEIVA BRUTA
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5 min readNov 27, 2018

Venho refletindo sobre o poder de impacto do design thinking com base no conteúdo que leio e o que é falado sobre ele, tanto por especialistas quanto em mídia aberta.

Vejo que o design thinking (principalmente para quem atua com a abordagem) esta começando a cair na curva das expectativas infladas, se colocarmos no gráfico da hype:

Em tese, acompanhando o machine learning no gráfico.

É claro que as grandes empresas ainda estão implementando o tema e experimentando como utiliza-lo, subindo ainda mais as expectativas sobre o design thinking.

Este é um momento muito cauteloso para a área: muitas promessas sobre a capacidade de entrega, muitos especialistas, poucos processos e principalmente baixo fundamento para tomar ações.

Olhando para esse cenário um pouco nebuloso sobre o futuro do design thinking, vejo uma forte tendência: se o design thinking não se mobilizar para entregar resultados (outcomes), teremos mais um frame de inovação que foi hypado e que, ao longo do tempo, perde sua expressividade por uma alta frustração — não entregou o que se prometeu.

Para isso, nós, designers, design thinkers, growthers ou qualquer nome que queira dar para você que trabalha neste setor, precisamos compreender o que realmente fazemos, o que entregamos e para que a abordagem serve e para que não serve.

O objetivo deste artigo não é bater um martelo ou querer ditar as regras de como utilizar o design thinking, mas sim iniciar uma provocação como objeto de auto-reflexão para nós, designers.

Muito se diz que o design thinking é um dos melhores frames para inovação: de fato é, porém só se nós sabemos navegar por ele e entender o que ele pode entregar para nós.

Essa abordagem ganhou muita expressão pois, finalmente, resgatou algo que as empresas estavam esquecendo: o ser humano.

Por um vício de controlar processos, bater metas e de implementar tecnologia a qualquer custo, as empresas esqueceram que o que realmente importa é o ser humano.

Ao ser uma abordagem que valoriza o ser humano e busca entende-lo com toda a sua complexidade, o tema ganhou grandeza. Mas para o que serve exatamente?

Para entendermos para que serve, temos que entender para o que não serve.

O que o design thinking não entrega

Como frame, o design thinking permite que você explore problemas reais com base em pessoas, emoções, sensações e dados. Além disso, permite que você idealize, de uma forma organizada, soluções que realmente podem solucionar o problema de fato. E melhor ainda, pode testa-lo junto ao usuário final.

Porém, paramos por aí. Por essência em seu processo, o design thinking não leva em consideração uma etapa importantíssima: o hard work. Ele não leva em consideração a implementação da solução ou até mesmo a construção dela por inteiro. O que chega perto dessa etapa seria o processo de iteração — porém a iteração é um processo de contínua validação, e não construção da solução.

Em cenários nos quais o problema já esta localizado e claro e são definidas as soluções necessitadas (ou que podem ser encontradas realizando uma reunião organizada), o design thinking não cumpre o que se propõe. Por essência, a abordagem do design permite definir exatamente a receita de bolo necessária para fazer o bolo perfeito, porém o processo não é focado na construção do bolo em si.

Li recentemente um artigo que dizia: o design thinking cria receitas perfeitas. Se alguém vai para um restaurante e pede um prato, e depois de 30 minutos você entrega uma receita…. o cliente vai ficar pistola.

O design thinking como processo é uma ótima ferramenta para relembrar times e empresas que devem primeiro ouvir as pessoas, mudar o mindset para um modelo colaborativo e pensar em teste antes de implementação. Porém ele não sugere a solução funcionando de forma prática em si.

O que o design thinking entrega

Para todos que gostam de usar a abordagem, primeiro precisamos saber o que entregamos.

Por definição em seu processo, o design thinking entrega um output muito sólido: exatamente com o que deve ser feito para que aquela necessidade seja de fato saciada.

Quando combinamos com outros métodos que sugerem implementação da solução de fato, é aqui que, na minha opinião, a mágica acontece. O output do processo do design thinking é um excelente input para a implementação da solução de fato.

Exemplo: recentemente uma CEO de uma indústria chegou para mim e disse que queria vender a empresa, e que a abordagem do design poderia ser excelente para entender exatamente o que ela precisava fazer para chegar mais perto deste desejo. O processo do design thinking entregou exatamente o que ele se propõe: um roteiro de como solucionar os três principais gargalos da empresa que ela nem sabia que existia. Agora, o nosso foco é de fato implementar a solução criada para os três gargalos — utilizando desde consolidando um processo de vendas sólido até sustentando um processo de contratação de pessoas.

Sugiro sempre a combinação do design thinking com outros métodos para suprir a necessidade real de nosso cliente: ele quer o problema resolvido e não como resolve-lo.

É por isso que cada vez mais os processos de growth hacking e até o design sprint tem ganhado tanta expressão: eles resolvem o problema de fato. Unindo essas abordagens junto ao processo do design thinking permitimos que o problema seja identificado e solucionado, de fato.

O nosso papel como designers é educar o mercado em relação a isso:

O design thinking como processo permite entregar outputs, não outcomes.

Ou até melhor: design thinking é o meio, não o fim.

Em nenhum momento meu objetivo é esgotar a discussão, mas sim se aproximar de uma provocação que nós precisamos fazer para nós mesmos.

Queria ouvir sua opinião sobre isso. Se quiser bater um papo, inclusive, só me chamar aqui: pedro@ensaio.cc

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Pedro Piovan
SEIVA BRUTA

Design Sprinter, Business Designer e Fundador da Ensaio. Ajudando organizações em um mundo de transformação digital. pedro@ensaio.cc