TEATRO, MÚSICA E COLABORAÇÃO

Sandra Mara Selleste
Selleste Economia Criativa
5 min readDec 28, 2016

Um grupo de jovens proativos, a ideia de uma pedagoga, regidos por um jovem e competente maestro, juntos, realizaram um musical.

A proposta contou de forma contemporânea o nascimento de Jesus. Em um belo espetáculo, no dia vinte e três de dezembro de 2016.

Celso e Carol viveram José e Maria

Tudo começou com uma ideia da pedagoga Eliane de Jesus Vieira. Ela teve uma experiencia como voluntária na montagem de autos realizados nos parques Pedra da Cebola e Horto de Maruípe com um grupo de artistas profissionais.

“Sempre fui fã do Auto que acontece no Santuário de Santo Antonio. E também de teatro e musicais. É uma oportunidade lúdica onde as pessoas vivenciam determinado período da história”.

Recentemente os Autos foram retirados da programação oficial da prefeitura local. Foi então que Eliane resolveu agir, convocou um grupo de jovens da comunidade e fez a proposta: vamos montar um Auto de Natal?

O grupo desejando Feliz Natal!!!!

A montagem

O espaço que os acolheu, foi a Igreja Cristo Redentor em Vitória, capital do Espirito Santo.

Este espaço mantém em sua grade fixa de atividades complementares à evangelização, a música. A paróquia realiza essa atividade através da manutenção de um maestro que ministra aulas para canto coral, todas as quintas-feiras na própria igreja. Eliane, é uma das alunas e cantoras coralistas. Ao ver a animação do grupo de jovens ela não hesitou. Convidou o maestro Jailson Moura, para juntar-se a equipe, que aceitando propôs um desafio, realizar um musical de Natal.

Com a colaboração e animação de todos a atração tomou ares profissionais, teve teatro e apresentações dos cantores. Tudo ao vivo.

Outros voluntários foram sendo agregados, iluminador, sonoplasta, camareiras, enfim todo um staff. Uma equipe de 10 pessoas voluntárias na técnica.

Danielle — a bailarina que guiou os reis magos até o menimo Jesus

Perfil

Esse grupo de jovens é uma turma entre 12 e 30 anos de idade, em sua grande maioria moradores dos bairros da chamada Grande Goiabeiras. Para eles a história da família se confunde com a dos bairros. Moram na região há décadas, vieram acompanhando seus pais e avós.

A grande Goiabeiras é uma região de manguezal que foi, a partir da década de 50, sendo ocupada como espaço de periferia urbana. A ocupação não respeitou a área de manguezal sendo realizada de forma descontrolada. Quando no processo de crescimento metropolitano de Vitória a região não foi acompanhada planejadamente pelo poder público e ainda foi utilizada como deposito de lixo pelo setor publico e privado.

O perfil do grupo tem base cultural estreita, são descendentes destas famílias fundadoras do bairro. Pessoas que viram a chegada de água encanada e da iluminação, necessidade gerada pela construção da Avenida Fernando Ferrari, importante via para a construção do aeroporto de Vitória. Viram o nascimento do campus da universidade Federal do Espirito Santo e comemoraram com a saída do chamado “LIXÃO de Goiabeiras” para dar lugar as casas de alvenaria substituindo as palafitas.

Muito se pescou no Manguezal e as referências de patrimônio cultural do Estado, a panela de barro e a moqueca capixaba, deve-se a essas famílias.

Na atualidade a convivência do grupo de jovens vem das poucas atividades da vida comunitária e também das iniciativas religiosas. São jovens cientes que são habitantes de uma região com grande desigualdade social e que infelizmente constatam que com grande frequência quaisquer investimentos em atividades culturais e esportivas vem sendo negados a eles. Ficando a região sempre em segundo plano nas politicas públicas.

Flavio — Anjo Gabriel
Perlla e João — viveram pai e mãe em uma família unida pelo amor para ultrapassar tempos de poucos recursos financeiros.
Mayara Alfeu — nossa cantora

O que vi, senti e experienciei

Polliane, Eliane, Jailson, eu e Eduardo (Dudu) lá na janela!! rsrs — faltou nessa foto Jaysonel e Thamires e sua competente equipe.

Uma turma do Bem.

Fui convidada inicialmente pelo maestro Jailson Moura para ajudá-lo na preparação dos “atores” do núcleo da família. Amadores, eles estavam aflitos, com a grande responsabilidade.

João e Perla (pai e mãe) e Daniel e Julia (filhos) eram só ansiedade. Apesar do medo em realizar as cenas teatrais existia um brilho no olhar. Acabei me envolvendo com a energia de todos.

Era uma vontade tão grande de realizar que fui absorvida. E foi muito bom.

Carlos atuou como morador de rua — a grande mensagem do musical

Outro integrante do núcleo teatral foi o morador de rua.

Ele foi ajudado pela família na trama roteirizada por Eliane e Jailson.

Vi que quando se tem vontade não existe barreira técnica, elas são suplantadas. O que esse grupo de jovens fez em pouco mais de um mês foi resultado de uma união do bem.

Eles acreditaram, eles se alinharam, criaram metas e acima de tudo colaboraram.

Sai desta experiencia pensando: Por que em algumas coisas somos tão afeitos a colaborar e em outras deixamos tanto a desejar? Por que quando falamos em amor ao próximo em um grupo com os mesmos objetivos, todos se respeitam? Mas, ao contrario quando pensamos que “ o outro” não está em nosso Grupo somos hostis?

O musical foi realizado em tempo recorde, com pessoas diferentes, algumas não se conheciam e se tornaram amigas e sem nenhum recurso em espécie.

Meu desejo de Ano Novo é que esse Musical de Natal tenha realizado sonhos e também despertado vocações. Quem sabe não teremos entre eles mais profissionais empreendedores da cultura.

E, também, que toda a comunidade local possa fazer coisas incríveis e inspiradoras, respeitando a todos.

Ingrid viveu Isabel

--

--

Sandra Mara Selleste
Selleste Economia Criativa

Sou empreendedora na Selleste, Consultora no desenvolvimento de empreendedores para as Novas Economias, Fluxonomista4D, produtora cultural e atriz.