“meus demônios mais gozosos, descarados”

A poesia de Moira Marques Portugal

Tenho muito medo, hã?
medo da espera
medo de escolher
não dormir
minha mente febril
de madrugar.
medo de encolher.
por que não escolho, então
meu desejos mais secretos?
meus demônios mais
gozosos, descarados,
enfim, por salto de fé,
lapso de lógica,
cortam meus terrores
infundados. munida
para fugir da vida
por que, mas por que
cargas d’água
me recuso a ser
corsária? desbravar
meu ventre, periquita,
coração e medo,
tornar-me sábia
dos sete mares
da masturbação.
monstros marinhos
aterram-me à noite,
no escuro, profundezas
afloram-me à pele e intuição,
despétalam-me da aflição,
buraco negro entre o hoje
e o amanhã, negro irmão.

Paulista e Paulistana, Moira Marques Portugal é bacharel em letras pela USP, embora ela ache que isso não importa muito. Às vezes não sabe bem por que escreve, mas continua escrevendo, e lhe faz bem. Às vezes descobre por que escreve e não consegue escrever, então ela resolveu não insistir muito, só publica umas coisas aqui e acolá (Revista Sete Faces, por exemplo).