Ídolos que Teimam em Viver

O novo melhor amigo da FIFA e a dura missão do fanatismo

Fábio Felice
Sem Firulas
4 min readOct 25, 2017

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Gianni Infantino e Diego Maradona. Valsa ou tango?

- Como estariam os Mamonas Assassinas hoje?

- Putz, tocando em festa de formatura de faculdade.

- E o Senna, se não tivesse morrido, sabe onde ele ia estar?

- Na Stock Car?

- Não, falando no microfone durante uma passeata contra a corrupção na Av. Paulista.

- Putz.

Você provavelmente já esbarrou com alguma dessas questões hipotéticas que brincam com o imponderável. Onde estaria fulano, caso vivo. O 'se' nunca ganhou jogo e também não vai ressuscitar ídolos para que possamos encaixá-los e julgá-los nos dias atuais. Como seria o Instagram do Garrincha? É uma dúvida incompatível. Mané se afundou depois que parou de jogar, já que os ídolos, mortais, também são de carne e osso. E muitas vezes vomitam em cima da idolatria que eles mesmos construíram. Aos fãs, resta limpar a sujeira em silêncio ou queimar os pôsteres da parede.

Há pelo menos 30 anos, todas as ações e declarações de Pelé são colocadas em pé de igualdade com seus mais de 1200 gols. E, desde que parou de jogar, Pelé fez e falou tanto quanto balançou as redes durante a carreira. A hiperdimensão daquilo que Pelé faz é um indevido reflexo daquilo que ele fez em campo. A repercussão é desmedida. Pelé é cria de Edson. Pelé virou mitológico pelo que fez com os pés e Edson jamais foi referência pela maneira que agia ou falava. E tudo bem. Pelé não morreu, já que Edson vive.

Antero Greco pede: larguem do pé do Pelé!

O Pelé-pós-Pelé (ou Edson sem Pelé) é um dos alvos preferidos de Romário, outro caso de ídolo inquestionável no campo e cidadão discutível fora dele. Romário tem 1002 gols na carreira e 1 noite na cadeia. É hoje um dos senadores com maior arsenal político no Brasil. Ganha aplausos da comunidade do futebol quando ataca Marco Polo Del Nero mas levanta suspeitas desanimadoras quando acerta conchavos escusos em Brasília. É a dura tarefa de viver.

Desentendimento entre ídolos. Para a gente, foi piada. Para a TV de Portugal, foi escândalo.

Recentemente, a conta chegou para Diego Maradona. Histórico crítico voraz da FIFA e dos cartolas que comandam o futebol mundial, o argentino virou um sorridente arroz de festa nas sempre questionadas festividades da entidade. Abraça Gianni Infantino, o atual presidente da FIFA, como se abraçasse Caniggia. Apoia decisões contestadas e meramente comerciais, como o novo formato da Copa do Mundo, e defende em público a repaginada postura da entidade, repetindo o novo slogan da FIFA a quem quiser ouvir.

Em poucos anos, Maradona passou de combatente da Máfia a garoto-propaganda dos mafiosos. Dor de cabeça e embaraço para os fiéis da Igreja Maradoniana.

O não-tão-distante ano de 2015.

A patrulha sobre o que nossos ídolos dizem e fazem, embora desnecessária, é resultado da nossa vontade de estar perto deles. É o que alimenta nossa idolatria — jamais saciada apenas por lances em vídeos no youtube ou recortes de revistas guardadas. Queremos saber o que pensam, com quem simpatizam, que ideias defendem, em quem votam, como se posicionam… e a decepção é recorrente.

Ídolo questionando Ídolo. Uma constante.

Os que já morreram descansam sem precisar entrar em vespeiros, abraçar figuras questionáveis e opinar de maneira avulsa. Como disse o personagem Harvey Dent certa vez num filme do Batman: ou você morre herói, ou vive até virar vilão. E já que a expectativa de vida do ser humano é cada vez maior, o próprio Maradona - o mais recente contestado da praça - mostra seu desejo para que se consiga separar os mundos: la pelota no se mancha. Que assim seja, Diego.

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