Aço, Corneta e Amendoim

Fábio Felice
Sem Firulas
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3 min readFeb 13, 2017

Nada supera o forjamento na produção de peças de aço”, sacramenta o site do GRUPO CORNETA, formado por empresas especializadas em ferramentas, cutelaria e autopeças, de origem alemã e mais de 220 anos de tradição. Os CORNETA vieram ao Brasil no início do século passado e instalaram sua primeira fábrica em 1932, na região da Pompéia, mais precisamente na esquina das ruas Turiassu e Caraíbas. Bem em frente ao portão de entrada do então Palestra Italia, hoje Palmeiras.

Duas histórias ligam a fábrica ao time alviverde. E a corneta ao futebol.

A primeira relata que alguns conselheiros do Palestra Italia, opositores à diretoria na época, tinham o costume de se reunir num bar vizinho à Fábrica Corneta, antes do início das reuniões do Conselho Deliberativo. Muito barulhentos, eles caminhavam em bloco para dentro do clube, chamando sempre muita atenção.

Um dia, alguém disse algo assim: ‘lá vem a turma da corneta’”, conta o historiador e conselheiro palmeirense Jota Christianini. “O pessoal costumava gritar muito nas reuniões. E ‘do pessoal da Corneta’ para “corneteiro’, foi meio natural”. O pessoal que reclamava de todas as decisões da diretoria era a turma da corneta. Os corneteiros.

Fábrica Corneta na Rua Turiassu nos anos 50.

A segunda história conta que os funcionários da Fábrica Corneta descansavam em frente ao clube nas horas de almoço, nos intervalos da jornada de trabalho e nas trocas de turno. Com tempo livre, analisavam e teciam comentários sobre os associados, as instalações e o time (que treinava ali). As críticas, muitas vezes carregadas de humor ácido, superavam os elogios e os trabalhadores da fábrica ficaram conhecidos por pegarem no pé dos atletas durante os treinamentos.

“Eles atravessavam a rua, sentavam na mureta e ficavam falando mal do clube e principalmente dos jogadores” relata Siro Casanova, sócio do Palmeiras desde 1956. O pessoal que reclamava do time era a turma dos cornetas. Os corneteiros.

Ambas as histórias datam da segunda metade dos anos 30 e do começo dos 40. Neste período, o time alviverde venceu nada menos que 7 títulos.

Palestra Italia virou Palmeiras, ‘reclamar’ virou ‘cornetar’ e o aço virou amendoim. CORNETEIRO virou adjetivo nacional para definir aquele que reclama do time, da cobrança de lateral, da diretoria, do gramado, do uniforme, do que puder reclamar. No Palmeiras, onde aparentemente este adjetivo foi cunhado, a turma da corneta virou Turma do Amendoim. Em mais de um século de história do clube, o que nunca faltou foi torcedor descascando petiscos salgados e cabeças-de-bagre nas arquibancadas.

A FÁBRICA DA CORNETA não se encontra mais na esquina da Turiassu com a Caraíbas. O que já não se faz necessário. Nada supera o amendoim na produção de uma cornetada futebolística.

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