A-estratégia-de-falar-sobre-um-assunto-sem-dizer-os-nomes-dos-envolvidos

Andre Vidiz
Sem Firulas
Published in
3 min readJan 27, 2017

“Meia que pode deixar Corinthians e venda de lateral do Flamengo agitam Mercado da Bola”. Logo na sequência deveria-se ler “Jornalismo esportivo decreta sua falência”. A frase citada, que deu origem a esse texto, talvez não funcione sob nenhum aspecto (com exceção, acho, do gramatical — assunto no qual não sou confiável para julgar). Primeiro: é tão estúpida que até para entender o que ela está querendo dizer você tem que se esforçar: o sentido não surge naturalmente como num bom texto.

Depois — e mais importante! — ela escancara como parte da imprensa esportiva morreu. Ao explicitar que o único pedaço de informação da matéria que realmente importa é o nome do jogador envolvido, o portal está admitindo que não serve para mais nada. O papel do jornalismo é pegar as informações públicas, além de buscar outras que faltem, e transformar em algo mais relevante. Se a matéria não agrega nada àquilo que pode-se ler num tweet ela não tem porque existir.

Se antes um jornal que apenas publicasse os fatos do dia tinha algum valor, hoje nem a tentativa de ter alguma notícia exclusiva basta. A informação voa e logo chega por outros meios ao leitor. Isso não é novidade, isso inclusive é muito black mirror, mas até agora todas as alternativas falharam. A mídia tradicional não conseguiu convencer os leitores de que suas informações são mais confiáveis e aprofundadas que as de um tweeteiro qualquer e que vale a pena gastar 2 minutinhos entendendo a situação de maneira mais detalhada. Análise e opinião também parecem gerar cliques insuficientes, de modo que o caminho adotado vem sendo “juntar-se a eles” e abraçar a abordagem mais rasa e sensacionalista à qual deveria se opor.

O problema é que ao juntar-se aos seus novos concorrentes, portais e jornais passam a competir em terreno desfavorável. Se a informação é rápida e rasa, fica muito melhor numa timeline e não justifica a visita a uma página externa. Chegamos aqui ao 3º ponto disfuncional da nossa manchete: ela é pouco eficiente exatamente naquilo a que se propõe. Muita gente se recusa a clicar nesse tipo de manchete pois se sente manipulado. Outra parcela até clicaria, mas por conhecer do assunto já deduz a única informação que não está no título (nesse caso seria mais inteligente o portal fazer o contrário: dizer o nome do jogador e não expressar qual é a situação dele). E, finalmente, muitos vão receber a mesma informação antes, de modo que a matéria não vai ter nada de novo para eles.

Se o beco sem saída é desesperador para quem vive desse tipo de notícia, para os leitores parece apenas uma pergunta inócua: seria o jornalismo esportivo mais uma profissão a ser substituída pela internet?

--

--