La storia vivente del Calcio

A memória do futebol italiano em pessoa

Fábio Felice
Sem Firulas
3 min readApr 11, 2020

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* texto originalmente publicado na Revista Corner #9

Museo del Calcio. Firenze, Italia. (Foto: Fábio Felice)

Pouco mais de um minuto depois da campainha tocar, um senhor de andar cadenciado, com um chapéu-panamá na cabeça e um par de óculos com lentes quadradas surge para abrir o portão na rua. A alguns quilômetros do centro de Florença, na Itália, ele toma conta do Museo del Calcio. Este senhor é Fino Fini, nove décadas de vida, a maioria delas dedicadas ao futebol.

Fino Fini, 90 anos. (Foto: Fábio Felice)

Florença é a capital da Toscana e a casa de algumas das mais relevantes obras de arte de toda a humanidade. O berço do Renascimento também abriga o único museu italiano inteiramente dedicado ao futebol. Michelangelo estaria orgulhoso do acervo que hoje é exposto na construção amarela localizada ao lado dos campos de treinamento da FIGC, a Federação Italiana de Futebol. Lá estão camisas, bolas, taças, flâmulas, medalhas, ingressos e muito da história do futebol mundial, não só italiano. E é o simpático Fino Fini quem toma conta de tudo.

A camisa de Pelé no Museo del Calcio. (Foto: divulgação)

Dr. Fini foi médico da Seleção Italiana entre 1962 e 1982, o que significa que ele sentou no banco de reservas da Azzurra em seis Copas do Mundo e cinco Eurocopas. Nesse período, os italianos ganharam um mundial (1982), um torneio europeu (1968) e viram o surgimentos de lendas como Luigi Riva, Giacinto Facchetti, Gianni Rivera, Dino Zoffi, Bruno Conti, Marco Tardelli e Paolo Rossi. Fino Fini estava lá, colecionando bons amigos e acumulando uma enormidade de relíquias que contam a história do futebol. Entre os amigos, Pelé. Entre as relíquias, a camisa usada pelo maior jogador de todos os tempos na final da Copa do Mundo de 1970.

Copa do Mundo de 1970. Em pé, os jogadores Dino Zoff e Gianni Rivera. Sentados, os médicos Chieti Vecchiet, Fino Fini e o treinador Ferruccio Valcareggi. (Foto: divulgação)

Em 1996, Dr. Fini virou diretor da Fondazione Museo del Calcio (um centro de documentação histórica e cultural do futebol italiano) e passou a mostrar tudo o que juntou — e a receber ainda mais presentes. São centenas de itens expostos no Museo, alguns bem curiosos como os óculos escuros que Arrigo Sacchi usou durante a Copa de 1994, e verdadeiras preciosidades, como uma camisa usada por Di Stefano em 1958, as chuteiras calçadas por Roberto Baggio na Copa de 1990 e o uniforme que o capitão Fabio Cannavaro vestiu na final que deu à Itália o tetracampeonato mundial em 2006.

A Copa de 1982 é a que mais rendeu lembranças materiais ao museu. Camisas dos jogadores italianos, ternos da comissão técnica, flâmulas das seleções participantes, medalhas dos campeões e réplicas da taça estão lá representando o mundial vencido pela Itália do então medicinale Fino Fini. Depois de mais um dia de trabalho e já perto de trancar as portas do museu, o nonagenário italiano reflete com calma, em silêncio, antes de responder sobre como foi estar no gramado da mais icônica partida daquela Copa (e uma das maiores de toda a história), o Brasil x Itália no Estádio Sarriá, em Barcelona. Ele relembra que ao Brasil bastava empatar para avançar. E sacramenta, de maneira simples, com a serenidade de quem é a própria memória do futebol mundial: “Però vinciamo noi. Solo questo”.

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