O homem que quase infartou Luiz Inácio Lula da Silva
Não, o nome dele não é Sérgio. Nem Michel, João, Marcelo ou Deltan. É Marcos Aurélio. Galeano.
Fosse um eletrodoméstico, Marcos Aurélio Galeano não seria, assim, uma Brastemp. O volante de Ivaiporã-PR, 11º atleta que mais vestiu a camisa do Palmeiras, caiu mais na desgraça do que nas graças da torcida que canta e vibra (e corneta) durante seus 474 jogos pelo clube. Galeano estreou em 1989 e, entre idas e vinda, ficou até 2002. Como todo expoente palestrino, o jogador foi vítima do bipolarismo que banha as alamedas da Pompéia. Escorraçado diversas vezes, hoje desperta paixões saudosas por um gol icônico no ano 2000 - que quase fez parar o coração do corinthiano e ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como o próprio revelou no programa Na Sala do Zé, do jornalista José Trajano.
Galeano tinha um futebol mais destrutivo do que construtivo. A sua condição de titular por muitos anos no Palmeiras vai ao encontro do estilo dos treinadores que dirigiram o clube no mesmo período. Felipão e Celso Roth compartilham o bigode e o apreço pelo jogo combativo. Galeano caía como uma luva de boxe no esquema tático dos gaúchos.
Como qualquer volante que se mantém titular por um longo período, Galeano errou tanto quanto acertou no Palmeiras. As falhas, grosseiras, talvez tenham ficado em maior evidência, mas ele sempre dividiu opiniões nas arquibancadas, como contou Paulo Vinícius Coelho na matéria Craque Perna-De-Pau para a Revista Placar de 2001:
“Um passe certo produz um elogio dos degraus de cima. Um outro errado resulta numa crítica nos degraus abaixo.”
A noite que tirou o sono de Lula foi a do dia 6 de junho de 2000. Mais de 70.000 pessoas estavam presentes no Morumbi quando Palmeiras x Corinthians se enfrentaram pelo segundo jogo da semi-final da Libertadores. Um ano antes, o mesmo duelo, a mesma competição, o mesmo estádio. Vitória verde nos pênaltis e canonização de São Marcos ao final do confronto.
Dessa vez, o Palmeiras precisava vencer por um gol para levar a decisão, como em 1999, para as penalidades. Aos 7 minutos do segundo tempo, perdia por 2 x 1. Alex conseguiu empatar aos 15 e o jogo ganhou contornos dramáticos. O Corinthians se segurava com o empate para avançar à final. Aos 25, falta de Adílson em Luiz Cláudio na intermediária. Felipão mexe antes da cobrança e saca César Sampaio, o capitão do time, que havia levantado a taça da Libertadores no ano anterior. A braçadeira, então, aterriza em outro braço. O de Galeano. Alex bate a falta, a bola atravessa a área corinthiana e encontra a cabeça de um ajoelhado camisa 25. Recém-promovido a capitão. Semeador da discórdia na torcida palestrina.
O gol de Galeano não eliminou o Corinthians de imediato e nem foi marcado nos instantes finais da partida. Mas a tensão que o confronto gerava e o receio, de ambos os lados, de mais uma decisão por pênaltis transformaram aquele gol num flashback saboroso do lado palmeirense. E de um desespero premonitório do lado corinthiano. Por isso a reação de diversos alvinegros, como Lula, ao verem o time tomar a virada e perceber que o confronto com o arqui-rival estaria a cargo, de novo, dos tiros de 11 metros.
Repetindo 1999 e concretizando o trauma, o Palmeiras bateu o Corinthians nas penalidades. O time alviverde acertou todas as cobranças. Marcelinho foi único alvinegro que parou em Marcos.
Além do gol salvador em 2000, Galeano teve poucos momentos de destaque efetivo pelo Palmeiras e no futebol em geral. Com a camisa do Botafogo, chegou a perder um pênalti contra o ex-clube, pelo Brasileirão de 2002. Um sinal claro de que naquela noite de 2000 sua missão estava encerrada antes mesmo das penalidades máximas. Galeano não bateu e conseguiu dormir tranquilo. Diferentemente de Lula.