A inversão da força mental: Croácia sai atrás no placar e consegue virada histórica rumo à inédita final

henrique salmaso
Sem Mundial
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3 min readJul 12, 2018

A Croácia escreveu a sua mais bela história no ramo futebolístico. Após nem participar da Copa de 2010 e ser eliminada na fase de grupos em 2014, a equipe liderada por Luka Modric conseguiu o feito inédito de ir à final da Copa do Mundo. Como em todas as outras fases, a peleja contra a Inglaterra não foi nada fácil: contou com prorrogação, virada e um Mario Mandzukic com seus costumeiros nervos de aço.

Nessas Eliminatórias, esse foi o único confronto que a Croácia se viu mais como “zebra” que favorita, depois de enfrentar Dinamarca e Rússia. Isso se deve ao fato de que a Inglaterra de Gareth Southgate é uma equipe sólida e com uma defesa muito bem postada, além de possuir o artilheiro do campeonato e uma bola aérea/parada fatal. Foi exatamente isso que castigou os croatas logo no começo da partida. Numa falta boba de Modric na entrada da área, Trippier acertou um belo chute no ângulo de Subasic, que nada pôde fazer.

A Croácia reagiu mal ao gol sofrido e se viu travada no seu forte meio de campo. Passou a tentar saídas com Vrsaljko-Rebic e Strinic-Perisic pelos lados, mas esses não conseguiam profundidade e infiltração, uma vez que a defesa inglesa estava sempre compactada e ganhando praticamente tudo fisicamente. Dá pra dizer que a primeira etapa foi um banho de bola dos ingleses, que controlavam tática, física e mentalmente – sair na frente do placar tão cedo tem sido fundamental numa Copa que viu apenas duas viradas em mais de 60 jogos.

A virada da Croácia começou no segundo tempo e passou muito por essa inversão psicológica. Vrsaljko, que era dúvida até um dia antes da partida, foi bem mais ativado, a dupla Modric e Rakitic passou a penetrar na área e Perisic fez os 45 minutos de sua vida. Nesse cenário, a Croácia já conseguia os espaços pelos lados e encaixava bons cruzamentos e, ainda que a maioria deles estivesse consagrando a defesa inglesa, o sentimento de “estamos incomodando” só crescia – justamente assim saiu o empate. Vrsaljko conseguiu bom cruzamento da direita e Perisic deu um golpe de karatê na redonda.

A partir daí, foi a Inglaterra que sentiu o gol e a Croácia que massacrou. Não foram poucas as vezes que o trio defensivo inglês fez um recuo perigoso, bateu cabeça ou deu motivo para seu torcedor ter frio na espinha. A força mental tinha virado totalmente. Numa dessas, Perisic fez excelente jogada individual e chutou cruzado, fazendo a bola beijar a trave de Pickford.

O tempo normal estava chegando ao fim e, apesar de ver vários atletas claramente desgastados, Dalic não havia feito uma substituição sequer. Talvez estivesse traumatizado com a partida anterior, que, após a terceira mexida, o técnico teve que lidar com alguns jogadores sentindo a maratona de jogos e atuando no sacrifício. Pois bem, fim de partida. A terceira prorrogação seguida dos croatas, o equivalente a um jogo inteiro a mais que os demais.

Com quatro substituições para fazer, a mais óbvia delas era Mario Mandzukic. O atacante juventino se arrastava e fazia apenas número em campo. Mas Dalic provavelmente lembrou dos seus dois gols em duas finais de Champions League, um pelo Bayern e outro pela Juventus; ou lembrou da partida do atacante no Santiago Bernabeu, que os bianconeros largaram com uma desvantagem de três gols e Super Mario marcou dois tentos ainda no primeiro tempo. Ou Dalic não pensou em nada, mas o que importa é que ele preferiu deixar o camisa 17 em campo.

Aos 110 minutos, Perisic ganhou uma dividida de cabeça na entrada da área e a bola misteriosamente sobrou para Mario na pequena área. Novamente, o poder do imponderável. O atacante bateu cruzado e fez o gol mais importante da história do seu país.

Yuri Cortez/AFP/Getty Images

Depois de sobreviver ao gol no começo, três prorrogações e duas disputas de pênaltis, a Croácia conseguiu o seu maior feito. Se vai ser campeã é apenas um detalhe, mas não recomendo duvidar de Luka Modric e seus companheiros.

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