Dos sonhos de infância à realidade: a Croácia é vice-campeã do mundo

henrique salmaso
Sem Mundial
Published in
4 min readJul 16, 2018
Foto: Reprodução

Não era hora de pensar como a Croácia chegou aqui. Não era hora de se lembrar das perspectivas daqueles jogadores há um mês, num grupo difícil, e o que eles alcançaram. Que se dane o fato de que a Croácia jogou 90 minutos a mais que a França e ainda teve um dia a menos de descanso entre a semi e a final. Era hora de encarar a chance de conquistar o mundo. Não só enfrentar esse desafio, mas também de curti-lo. De pensar quantos queriam estar ali. E o principal: pensar que, um dia, num surto de otimismo e inocência de uma criança, aqueles jogadores sonharam com aquele momento.

Pois bem, Dalic fez algumas mudanças nos seus 11 iniciais durante a competição, mas, quando tudo foi afunilando, ele acabou confiando em um time específico: Brozovic na base, Modric e Rakitic na armação, Rebic e Perisic dos lados e Mandzukic no pivô. Esse foi o caminho, na final não seria diferente. E a Croácia começou surpreendentemente bem, com o trio do meio lidando bem com o jogo físico dos leões Kante, Matuidi e Pogba. Apesar de saber que a França se sente melhor sendo atacada e lançando Mbappe e Griezmann com espaço nos contra-golpes, era um começo de bom controle croata. No entanto, ela não era atacada e mantinha a bola no campo de ataque. Mas numa falta pra lá de duvidosa “sofrida” pelo camisa 7 francês, o próprio cobrou e contou com o azar monumental de Mandzukic, que jogou contra sua própria meta logo aos 18 minutos.

Foto: Reuters

A Croácia não reagiu mal ao gol sofrido, principalmente por ter sido um gol contra de um dos seus homens de maior confiança. Seguiu propondo, arriscando e incomodando o campo francês. Numa bola aérea, Mandzukic fez seu costumeiro pivô e acionou Perisic, que fez um golaço — inclusive, o que o camisa 4 da Internazionale jogou nessa reta final de torneio foi digno de aplausos. Decidindo e se impondo em momentos de grande dificuldade.

Mas o destino parecia teimar em ser cruel com os croatas. Num lance besta de escanteio, Perisic acabou encostando a mão na bola e o árbitro de vídeo flagrou. França na frente de novo, numa primeira etapa de superioridade da Croácia, que controlava a partida baseada na sua trinca de meio-campistas e ganhando as famosas segundas bolas, algo que não é comum de se ver contra Kanté e Pogba.

Mas anímica e fisicamente, a Croácia não conseguiu mais fazer seu jogo na segunda etapa. Seguiu competindo, como foi durante todo o torneio, mas a cabeça e o corpo já pareciam não responder. As tão importantes segundas bolas do primeiro tempo acabaram sobrando para os adversários, que, dessa maneira, fizeram mais dois tentos. A Croácia até ameaçou incomodar, pois conseguiu seu segundo gol numa falha clamorosa de Lloris (esse foi o ano das falhas de goleiros em jogos grandes: Karius, Ulreich, Navas e Caballero não me deixam mentir), dando um pouco mais de justiça ao placar e a Mandzukic. Os croatas até tentaram, mas o imponderável acabou sendo muito rigoroso com a equipe. Fim de jogo. O sentimento de orgulho e amargura se misturou.

O que fica é a valentia e a coragem desses jogadores. Não é fácil chegar onde chegaram, lidar com vários tempos extras em níveis máximos de tensão, numa altura que todos já deveriam estar de férias. Não é fácil ganhar de quem tem Lloris, Mbappe, Pogba e Griezmann. O título é um detalhe perto do que fizeram.

Pode não parecer, mas um dia Luka Modric foi um garoto inocente que vislumbrava ser um dos melhores do mundo, disputando as melhores competições. Hoje, ganhou o prêmio de melhor jogador da Copa. Parece incrível, mas Mario Mandzukic já deu um sorriso. E um sorriso inocente, infantil, junto com seus colegas que só queriam jogar bola — não futebol, mas jogar bola. Rakitic, Perisic, Lovren… todos eles já foram crianças puras, sem maldade, que viam na bola o seu mundo. E pensavam que aquele universo nunca passaria. Era acordar, jogar bola, brincar e amanhã começa tudo de novo.

Foto: Reuters

Pois bem, não mudou muita coisa. Até hoje, todos eles acordam, vão jogar bola e fazem da redonda o seu mundo. Mas hoje essa geração viu seus sonhos, que pareciam distantes e fantasiosos, se tornarem realidade. Hoje todos eles se viram como melhores do mundo, contra os melhores do mundo, com a chance de conquistarem o mundo. E creio que isso já tenha sido (quase) o suficiente.

--

--