Egito joga bem, mas leva gol no fim e acaba derrotado pelo Uruguai

Caio César Nascimento
Sem Mundial
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5 min readJun 16, 2018
Egito se desdobrou, mesmo sem Salah, e quase saiu de campo com um grande resultado. Foto: Reuters

Havia um grande fuzuê pela expectativa da presença de Mohamed Salah na estreia egípcia na Copa do Mundo. Através das redes sociais, tanto o jogador quanto a seleção mostravam que o retorno do Faraó estava cada vez mais próximo. Alguns veículos chegaram a noticiar, um dia antes, que o jogador do Liverpool iria para o jogo.

No entanto, Hector Cúper seguiu o velho ditado de que “é melhor prevenir do que remediar” e segurou Salah no banco de reservas sem utiliza-lo na partida. A ausência de sua maior estrela perturbou os torcedores por quase três semanas, mas perde-lo para o restante da competição era um risco que Cúper não poderia correr.

Mesmo sem entrar, Salah foi uma das principais figuras do embate entre Egito e Uruguai. Foto: Getty Images

Bem ao estilo do treinador argentino, os Faraós montaram uma marcação ajeitada, tendo fechado todos os espaços que o Uruguai pudesse encontrar. Sem riscos. Pragmático. A compactação entre a defesa e o meio-campo chamou a atenção, mostrando um Egito mais seguro de si do que a favorita seleção celeste, sobretudo no primeiro tempo.

Com atuação destacada de Ahmed Fathi, o veterano lateral-direito fez valer a braçadeira de capitão e foi o termômetro da equipe. Além dele, Amr Warda, que teve a ingrata missão de substituir uma das maiores estrelas da competição, também se destacou. Ambos atuaram pela mesma faixa do campo, o lado direito, batendo de frente com Arrascaeta e Cáceres o tempo inteiro.

A dupla de volantes formada por Elneny e Hamed teve papel importante no desempenho da equipe. Responsáveis por guardar a entrada da área, eles foram capazes de travar o meio-campo uruguaio, fazendo com que Vecino e Bentancur atuassem abaixo das expectativas.

Com triangulações rápidas, o Egito ameaçava nos contra-ataques em estocadas com Warda e Trezeguet, porém, a jornada de Marwan Mohsen foi tão baixa que atrapalhou o andamento do ataque. O jogo vertical de Cúper poderia ter sido fatal, caso tivesse um camisa 9 de melhor qualidade.

As equipes foram para os vestiários zerados no placar, especialmente pela eficiência defensiva do Egito e da péssima partida de Suárez, que em uma das poucas vezes que tocou na bola ele perdeu um gol feito.

Os comandados de Hector Cúper voltaram para o segundo tempo mandando na peleja, porém, um pequeno acidente acabou mudando o conceito da partida. Tarek Hamed, que vinha sendo importante para o funcionamento da engrenagem egípcia, lesionou-se e acabou sendo substituído por Sam Morsy, logo aos 5 minutos. O substituto de Hamed era mais lento e com menos ritmo de jogo, o que ajudou na diminuição das triangulações e do jogo apoiado, que travava o adversário.

Com o físico atrapalhado pelo jejum do Ramadã, a intensidade dos jogadores ia diminuindo. Foi então que a figura de Mohamed El-Shenawy apareceu. O goleiro do Al Ahly fez duas intervenções preponderantes que impediram com que o Uruguai abrisse o placar mais cedo. A primeira foi numa defesa de joelho cara-a-cara com Suárez e a segunda numa ponte bonita após chute colocado de Cavani.

Warda e Trezeguet se desdobraram na marcação na segunda etapa, tendo uma função defensiva muito maior. O sósia da estrela francesa chegou a assustar Muslera no segundo tempo ao deixar Guillermo Varela na saudade em um pique pelo lado-esquerdo. Todavia, a ausência de um matador na área acabou relegando o Egito a uma jogada sem finalização.

Kahraba, que estava no banco, substituiu Mohsen, que demostrava pouca serventia ao esquema tático de Cúper. A partir dos 18 minutos do segundo tempo, o Egito era só velocidade.

A tática se mostrou eficiente, pois os uruguaios estavam irritados e estéreis. No entanto, à medida que a partida passava, o fôlego dos egípcios se esvaía. Warda, o melhor dentre os jogadores de ataque, foi substituído por Ramadan Sobhi aos 36 minutos da etapa final. Ele estava exausto de tanto correr. A terceira e última alteração sacramentou a dúvida quanto à entrada ou não de Salah, o que pareceu ter animado a equipe celeste.

O chuveirinho imperou nos minutos finais. Na base da raça, Cavani arrastava seus companheiros ao ataque, que sofriam para passar pela linha de quatro defensores de Cúper. Chegou um momento em que o zagueiro Godín se transformou no armador da equipe na tentativa de quebrar essa linha.

Tudo parecia firme até um lance isolado e catastrófico de um dos jogadores mais experientes da equipe. El-Shafy, lateral-esquerdo de 32 anos, fez uma falta boba em Carlos Sánchez, quando o mesmo estava de costas para a jogada e na lateral do campo. O próprio cruzou a bola na área e José Giménez subiu mais alto do que todo mundo para abrir o placar. Foi uma ducha de água fria na animada torcida egípcia, que viu a equipe deixar o resultado escapar aos 44 minutos do segundo tempo.

José Giménez, zagueiro do Atlético de Madrid, salvou a equipe uruguaia de um empate. Foto: Reuters

O árbitro chegou a dar cinco minutos de acréscimo, porém, o desânimo era latente nos jogadores. Além disso, a exaustão era visível até nas figuras mais importantes do time, caso de Elneny, do Arsenal. O volante se desdobrou, mas foi incapaz de ajudar a equipe a empatar a partida.

Cúper apostava num resultado positivo contra o Uruguai para decidir a sua sorte contra a Rússia, na segunda partida do grupo A. Os Faraós vão enfrentar os donos da casa, que venceram a Arábia Saudita por incríveis 5x0, precisando de uma vitória a todo custo.

O resultado negativo, após tanta luta, pegou forte na torcida. Foto: AP

O gol no final do jogo foi cruel para os egípcios, mas a partida em si mostrou que existe sim vida sem Salah. Contra o bicho papão do grupo, o Egito mostrou ao mundo que, se estivesse 100%, o destino poderia ter sido outro. Agora, com Salah, os pupilos de Hector Cúper precisam ir sem medo em busca da classificação. Capacidade a equipe mostrou ter.

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