O feitiço virou contra o feiticeiro e a Sérvia está eliminada da Copa do Mundo

Wladimir Dias
Sem Mundial
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4 min readJun 29, 2018
Foto: Getty Images

Na última rodada do Grupo E, a Sérvia precisava vencer o Brasil para se classificar às oitavas de finais da Copa do Mundo. Para seu azar, a Canarinho também buscava um triunfo para se consolidar e levar a primeira colocação. Dentro das quatro linhas, o que se viu foi a repetição da estratégia dos jogos anteriores, com a aposta eslava sendo feita na fisicalidade de seus jogadores e na bola aérea.

Em relação à equipe que enfrentou a Suíça, o treinador Mladen Krstajic promoveu três alterações. Na zaga, Dusko Tosic cedeu a titularidade a Milos Veljkovic; o experiente lateral Branislav Ivanovic foi sacado, dando lugar ao também veterano Antonio Rukavina; e no meio-campo foi Luka Milivojevic quem saiu para o retorno de Adem Ljalic (mantendo Filip Kostic na ponta esquerda).

Desde os primeiros momentos do jogo, a ideia sérvia era clara: era preciso ter um jogo menos “engessado” do que nas últimas partidas, mas a aposta nas jogadas aéreas seria, uma vez mais, seu principal trunfo. Como já ocorrera no jogo anterior, a equipe do Leste Europeu venceu 63% dos duelos aéreos. E, mais uma vez, o centroavante Aleksandar Mitrovic foi o principal nome nesse sentido, ganhando sete ocasiões pelo ar.

O Brasil, entretanto, preparara-se para enfrentar tais exigências e apostou na rapidez de seu ataque para causar problemas em contragolpes, com transições velozes. Logo aos 4 minutos, em trama de Gabriel Jesus, Philippe Coutinho e Neymar a Seleção Brasileira quase abriu o marcador. Porém, embora sofresse com as investidas da Canarinho, obrigada a trocar Marcelo, com dores nas costas, por Filipe Luís, a Sérvia conseguiu diminuir o ritmo do jogo.

Aos 11, obrigou pela primeira vez o goleiro Alisson a trabalhar para afastar uma cobrança de falta da intermediária. O que se repetiu aos 22, dessa vez em cobrança de escanteio. A diferença de estatura entre brasileiros e sérvios obrigou o goleiro da Roma a estar mais atento e ter mais iniciativa para ir à procura da bola nos lançamentos por cima. Aos 33, Mitrovic teve espaço entre Miranda e Filipe Luís e de puxeta ofereceu perigo.

Ainda que não tenha feito boa partida, de fato a entrada de Ljalic na vaga de Milivojevic deixou o time de Krstajic mais confortável com a bola nos pés. Porém, talvez tenha sido justamente essa mudança que permitiu o primeiro gol verde amarelo. Se estava difícil para o Brasil chegar à meta do goleiro Vladimir Stojkovic por meio do passe e as oportunidades de contra-ataque rarearam, era preciso movimentar.

Foto: Getty Images

Jesus estava trancado em meio à marcação sérvia quando, magistralmente, Coutinho colocou uma bola perfeita para a infiltração de Paulinho (perseguido por Kostic, que não conseguiu alcançá-lo). O meio-campista atacou o espaço como poucos no mundo são capazes, deu um leve toque por cima do goleiro eslavo e inaugurou o placar. A jogada nasceu em uma zona que estava melhor protegida nas partidas anteriores.

Não houve muito mais ação até o final do primeiro tempo.

Ciente de que era tudo ou nada, a Sérvia começou a segunda parte mais agressiva, embora tenha se mantido fiel à ideia original: bola em Mitrovic. Entre os 10 e os 20 minutos da etapa final, levou enorme perigo ao Brasil.

Destacam-se, principalmente, uma jogada em que Rukavina cruzou, Alisson espalmou para o centro da área e Mitrovic cabeceou a bola ressaltada em cima de Thiago Silva e, pouco depois, outro lance vindo da direita, em que o centroavante sérvio disputou espaço com Fágner (21cm menor) e cabeceou para a defesa do goleiro brasileiro.

Tite percebeu que seu time perdera fôlego e precisava ser capaz de controlar melhor o jogo. Sacou Paulinho e lançou Fernandinho. Então, a Canarinho voltou a levar perigo e conseguiu seu segundo gol. Por ironia, de cabeça. Neymar cobrou escanteio na cabeça de Thiago Silva.

Krstajic fez de tudo para manter sua equipe viva. Tentou Andrija Zivkovic, Nemanja Radonjic e, no apagar das luzes, Luka Jovic. Nada resultou. Por sua vez, procurando ainda mais controle, o Brasil ainda apostou suas fichas na entrada de Renato Augusto na vaga de Coutinho. Assim terminou a participação da Sérvia na Copa do Mundo de 2018.

Foto: REUTERS/Kai Pfaffenbach

“No primeiro jogo com a Costa Rica merecemos vencer, mas frente à Suíça corremos demasiados riscos e pagamos por isso. Hoje com o Brasil, jogamos para ganhar, sobretudo na segunda parte em que assumimos mais riscos, mas, infelizmente, falhamos as oportunidades que tivemos para empatar e fomos punidos por isso”, refletiu Krstajic após a eliminação.

Com um futebol pobre em alternativas, com seus maiores destaques jogando muito abaixo do que demonstram em suas equipes, a seleção do Leste Europeu deixa a Rússia sem impressionar. Viveu de alguns lampejos de Dusan Tadic, mas fez muito pouco para alcançar o acesso às fases finais do certame mundial. A bola lançada em direção a Mitrovic era um argumento válido e, em muitos momentos, eficaz, mas não poderia ter sido o único — principalmente diante do excesso de chances desperdiçadas pelo atacante.

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Wladimir Dias
Sem Mundial

Advogado, mestre em Ciências da Comunicação e Jornalismo Esportivo, pós-graduando em Escrita Criativa. Escrevo n’O Futebólogo e penso no Fluxo de Ideias.