A vez dos independentes
Atualização (16/06/2020): “Enquanto eu não te encontro”, de Pedro Rhuas, ganhou a Clipop, concurso da editora Seguinte que premia as melhores obras nacionais de ficção voltadas para o público jovem.
Está cada vez mais comum encontrarmos, nos rankings de livros mais vendidos da Amazon, autopublicações de autores nacionais figurando entre os primeiros colocados. Tal movimento vem acontecendo devido a três importantes fatores: 1) a facilidade das ferramentas de publicação do Kindle Direct Publishing (KDP), 2) a prontidão das divulgações nas redes sociais e 3) a acessibilidade garantida pelo Kindle Unlimited. Graças a eles a produção da literatura nacional tem aumentado e chegado a um público que com frequência está entusiasmado para conhecer novos nomes do cenário brasileiro. Basta acompanhar nossas postagens no Twitter: há sempre um rostinho e um livro novos para serem conhecidos.
“Bem-vindos à Rua Maravilha” foi um sucesso instantâneo: ficou 75 dias consecutivos, desde seu lançamento, como o mais vendido da categoria Literatura e Ficção para Adolescentes: LGBT. Não se contentando, durante esse período ele se consolidou como um dos 30 eBooks mais vendidos de toda a Amazon. O livro, que narra os bastidores da montagem de um espetáculo musical, foi escrito pelo manauara Gabriel Mar. No tópico “conquistando seu espaço”, o autor conta ao Sem Spoiler que precisou se virar como pôde: “aprendi a ser presidente, contador, publicitário e garoto-propaganda da empresa escritor independente e agora eu sinto que realmente preciso aprender a cumprir esse papel de ‘social media’ com mais eficiência.”
Gabriel reconhece que tamanho sucesso do livro não seria possível sem a ajuda de influenciadores literários e sem a força das redes sociais. Para nossa equipe, o autor ainda explica que é primordial conhecer a própria história e como ela se posiciona como produto dentro de um mercado tão competitivo. Pois, de acordo com ele, só assim será possível estudar a melhor forma de divulgação. “Na época, meu trunfo era usar um livro notório que tivesse alguma similaridade com o que eu tinha a oferecer”, lembra o escritor. “Pensei no Vitor Martins e pesquisei produtores de conteúdo literário que tivessem se interessado pelos livros dele. Com esses nomes em mão, eu sabia quem eram as pessoas que estavam falando com o meu público frequentemente.”
A divulgação antes do lançamento é igualmente importante para gerar expectativa nos leitores. Comprovando essa afirmação, Helena Luz, autora de “Goma de Mascar”, nos diz que durante o processo de publicação percebeu o quanto isso faz diferença e o quanto ajuda a criar um hype. Em seu livro, uma comédia romântica, ela fala sobre dois jovens que vivem em pé de guerra, até que são obrigados a cooperar. Para a autora, que já havia publicado histórias em outras plataformas on-line, a publicação na Amazon traz um peso diferente por conta de o público estar efetivamente comprando o livro. “Até mesmo a forma de receber feedbacks é diferente, e o medo de não ter se esforçado o suficiente fica maior, mas é muito gratificante”, diz ela. “Foi um passo pequeno que me trouxe uma realização enorme que há tempos não sentia.”
O amadurecimento da história pede que o escritor não tenha pressa em mostrá-la ao mundo; logo, quem não respeita esse tempo pode acabar insatisfeito com o trabalho que produziu. Ao falar sobre isso, Luz aconselha autores iniciantes a examinarem seus objetivos e recursos, pois é sempre bom ter em mente que contratar uma gráfica e fazer um financiamento coletivo são algumas das alternativas ao Kindle Direct Publishing. “Se você ainda é iniciante e não tem pretensão de ganhar dinheiro com aquela história, hoje em dia existem várias plataformas onlines gratuitas”, explica. “Cada uma dessas escolhas vai exigir um investimento de tempo, gasto e psicológico diferente.”
Pedro Rhuas também chamou a atenção dos leitores quando publicou seu romance de estreia “Enquanto eu não te encontro”. A trama acompanha um garoto sem sorte no amor chamado Lucas, que, durante a noite de inauguração da boate Titanic, é surpreendido por um encontro inesperado. Do início da escrita até a publicação na Amazon, Rhuas levou quatro anos e contou com oito pessoas envolvidas no processo de publicação — de leitor crítico a diagramador. Ele conta que decidiu publicar de maneira independente porque compreendia que “seria difícil pautar uma literatura jovem LGBTQIA+, ainda por cima uma ambientada no Nordeste, no mercado editorial sudestinamente centrado que temos.”
Também cantor e compositor, e prestes a lançar seu álbum de estreia, Rhuas transformou em música o sentimento que permeia as páginas de sua história homônima. Para ele, essa versatilidade do escritor e a habilidade com as redes sociais são dois dos pontos mais importantes quando o assunto é divulgação. No mundo digital, o livro não se encerra em si mesmo, e, por isso, “não basta que o leitor leia e se vá. Pelo contrário, é interessante que seja cativado a seguir te acompanhando pessoalmente, a te apoiar em futuros lançamentos.”
Quem compartilha desse pensamento é Mariana Cardoso, autora de “O Homem da Casa 7”, história que acompanha um professor que morre em circunstâncias suspeitas e deixa um pedaço de carta que unirá quatro adolescentes solitários. Cardoso lembra que, durante o processo de escrita do livro, descobriu a importância da leitura crítica e estudou escrita criativa por duas intensas semanas. Após três leituras críticas, duas revisões, uma diagramação e a capa pronta, a obra finalmente foi publicada.
“Achei uma experiência bastante cansativa, mas estou muito realizada”, diz ela ao ser perguntada sobre a sensação de percorrer todo esse caminho. O trabalho é realmente mais intenso, especialmente fora da área criativa, quando o livro não é lançado por uma editora tradicional. Fator esse que pode ser um empecilho a mais para escritores que não vivem só de escrita ou que têm outras funções. “De qualquer forma, acho muito possível que o meu próximo livro também seja lançado de forma independente”, considera Cardoso.
O Sem Spoiler, maior perfil de atualizações literárias do Twitter, tem uma Política de Incentivo a Autores e Artistas Independentes. Acreditamos que boas obras nacionais devem ser valorizadas, divulgadas e lidas. Caso queira nos contatar para ter informações sobre divulgações, envie-nos, para contato@semspoiler.com, um e-mail contendo todas as informações acerca da obra. Depois de enviado, aguarde; nossa equipe retornará o mais breve possível.
Texto de Alfredo Neto. Edição e revisão de João Rodrigues. Arte de Renata Noslaco.
