EXCLUSIVO: Jay Kristoff responde perguntas de leitores brasileiros

Alfredo Neto
Sem spoiler
8 min readMar 23, 2020

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A série best-seller do New York Times, “As Crônicas da Quasinoite”, faz bastante sucesso também no Brasil. Com milhares de cópias vendidas, os livros voltaram a ser um dos assuntos principais dos leitores daqui porque o último volume da trilogia, “Darkdawn”, foi lançado em fevereiro pela editora Plataforma21 com tradução de Clemente Pereira. Com exclusividade, a equipe do Sem Spoiler conversou com o autor e fez as perguntas que todos os leitores queriam saber. Agora, você confere, sem spoiler, a premissa dessa incrível história e, logo após, a entrevista.

“Darkdawn” é o último livro da trilogia “As Crônicas da Quasinoite”. Divulgação.

Mia Corvere tinha apenas dez anos de idade quando presenciou a execução de seu pai e a prisão do restante de sua família. Naquele fatídico dia, ela fez uma promessa para si mesma e para as sombras que a estavam ouvindo: vingar-se daqueles que destruíram seu mundo. No entanto, seus inimigos são os homens mais poderosos da República, e, portanto, antes de buscar sua tão almejada vingança, Mia precisará treinar arduamente até se tornar uma arma letal.

Sozinha, sem amigos e familiares, Mia se esconde em uma cidade que fora construída sobre os ossos de um deus morto, onde, pouco a pouco, moldada pelas situações vivenciadas e pelo treinamento a que é submetida no decorrer dos anos, ela vai se tornando uma mulher mais corajosa, implacável e brutal. Como forma de cumprir seu objetivo, ela decide se tornar uma Lâmina da Igreja Vermelha — a renomada guilda dos mais temidos e mais letais assassinos –, mas, para isso, ela terá de lidar com seu sangrento passado, provas fatais, mentiras e um plano que ameaça destruir o novo mundo que ela passou a conhecer e apreciar.

No primeiro volume da trilogia “As Crônicas da Quasinoite”, Jay Kristoff entrega uma história adulta e sombria de alta fantasia que é repleta de intrigas e mistérios, os quais prendem a atenção do leitor e instiga-o a avançar as páginas do livro freneticamente em busca de respostas. E, se você gostou de ler o primeiro livro, os volumes seguintes da história de Mia também não decepcionam ao entregar continuações com muitos planos arriscados, reviravoltas surpreendentes e cenas de tirar o fôlego. Sempre causando fortes emoções.

Aviso de conteúdo: linguagem imprópria, violência gráfica, cenas sexuais gráficas, escravidão, menção à escravidão sexual infantil, menção a estupro, muito consumo de bebida alcoólica e tortura.

SEM SPOILER: Jay, é um prazer tê-lo aqui no Sem Spoiler. Muito obrigado por aceitar fazer essa entrevista! Vamos começar pelo assunto do momento dos leitores brasileiros: “Darkdawn”, o último livro da série “As Crônicas da Quasinoite”. Quais surpresas essa conclusão épica guarda? (Sem spoiler, por favor! Hahaha)

JAY KRISTOFF: Obrigado por me receber! Bom, “Darkdawn” é o encerramento da jornada de Mia, então ela ainda está em busca de vingança. Mas também descobrimos um pouco mais sobre o que são e qual é a origem dos Sombrios. Além disso, nos aprofundamos na história da família real de Mia, e vemos até onde ela irá para conseguir sua vingança. Há um ditado antigo que fala que, “quando caçamos monstros, temos que tomar cuidado para não acabarmos virando um”, e mais do que nunca Mia se encontrará andando sob essa linha tênue.

Além de, é claro, piratas e assassinatos e muita confusão.

Jay Kristoff, autor de “Nevernight”. Divulgação.

SEM SPOILER: Recentemente, a jornada de Mia até a Igreja Vermelha foi adaptada para uma websérie de três episódios curtos no YouTube estrelando Piéra Forde, uma grande fã dos livros. Você acompanhou de perto a produção? O que achou do resultado?

JAY KRISTOFF: Eu amei! Piéra e sua equipe fizeram um trabalho incrível. Eu amei a série e estou muito orgulhoso dela. Não me envolvi muito na produção — Piéra me ligava às vezes para fazer algumas perguntas quanto ao roteiro, mas eu confiei na capacidade dela e na da equipe de fazer jus aos livros, então não quis ser um pai coruja, sempre incomodando para conferir se estavam no caminho certo. Quando você entrega seu livro para ser transformado em filme, tem que confiar nas pessoas que trabalharão nisso, e eu sabia que Piéra amava muito os livros e acertaria na mosca. E ela acertou.

SEM SPOILER: Pedimos para que os leitores brasileiros mandassem perguntas para você e recebemos algumas frequentes. Duas delas, particularmente as nossas favoritas, enviadas por Vitória Braga e Luiza Silva, querem saber se você não tem pena de matar os personagens de uma hora para outra e se você imagina algum inimigo seu quando escreve essas cenas.

JAY KRISTOFF: Eu me sinto mal por matar personagens, claro. Não quero que nenhuma das mortes pareça gratuita, e há uma parte de mim em cada um dos meus personagens, então matar eles é meio como matar uma parte de mim mesmo. Mas tudo se passa em um mundo cheio de pessoas terríveis, então eu queria que a história soasse plausível. Queria que os personagens se sentissem inseguros, para que os leitores ficassem com medo por eles.

Quanto a pensar em meus inimigos da vida real enquanto mato meus personagens… bom, posso dizer que Mia veio diretamente do meu coração, acho que já dá para entender. :)

SEM SPOILER: O universo de “Nevernight” é rico em detalhes, jogos políticos e cultura. Por isso, os leitores Thayná Cardoso, Luiza Moraes, Myreia Liduario, Raquel Gonçalves, Cainã Souza e Evelyn Moraes perguntam: quais são suas inspirações principais por trás do mundo fantástico e dos personagens criados? E podemos esperar outras histórias no mesmo universo?

JAY KRISTOFF: A maior inspiração para o cenário da história foi a República Romana, por volta da época em que Júlio César chegou ao poder. Todo o livro surgiu quando pensei no que aconteceria à filha e à esposa de César se a rebelião tivesse dado errado. Então, eu peguei muita coisa dessa estrutura e adicionei elementos de um mundo em que o sol nunca se põe.

Quanto a novas histórias nesse universo, não tenho planos para isso. No momento, estou construindo um mundo completamente novo para uma nova série de livros que eu espero que vocês também amem.

SEM SPOILER: Vamos falar de planejamento, porque não é nada fácil criar uma história tão grandiosa assim se você não sabe aonde quer chegar. Isabela Laterza, Ketelen Lefkovich e Marcela Costa enviaram a pergunta: antes de começar a escrever, você já tinha em mente todo o pano de fundo da história ou muita coisa surgiu durante o processo de criação? Você precisou pesquisar muito?

JAY KRISTOFF: Eu normalmente escrevo sem planejamento.

Eu tenho o fim muito claro na cabeça antes de começar, e talvez um pouco dos principais conflitos e revelações que aparecerão pelo caminho, mas eu encontro a história enquanto a escrevo. Comparo meu processo de escrita a pegar o carro e dirigir rumo a uma cidade. Você vê a cidade (o destino, o fim do caminho) no horizonte, então você meio que sabe quais caminhos vai ter que pegar para chegar lá. Pode ser que você precise fazer algumas paradas — abastecer, visitar um amigo, fazer compras. E, então, você apenas começa a dirigir. Sem saber, de certeza, que estradas vai pegar para chegar ao destino, e algumas certamente podem te surpreender, mas a cidade continua à vista. No fim, você vai chegar aonde tem que chegar.

SEM SPOILER: Nossos seguidores sonham em publicar um livro, por isso nada melhor do que pedir um conselho a alguém que já publicou mais de 10. Isabela Laterza e Raquel Gonçalves perguntam: o que você acha que um autor iniciante precisa saber? Há alguma dica específica para quem escreve fantasia?

A arma mais poderosa que você tem é acreditar em si mesmo. Quando você faz a escolha de viver de arte, muitas pessoas vão constantemente te dizer que você está perdendo seu tempo. Que é burro por pensar que conseguiria se dar bem numa coisa dessas. E, inevitavelmente, você vai acabar se questionando a mesma coisa “será que sou doido de fazer isso?”. Você tem que acreditar em si mesmo para conseguir passar por cima de tudo isso. Acredite que sua história vale a pena ser contada, e que é você quem tem que contá-la. Acredite que é isso que você tem que fazer e, um dia, fará mesmo.

SEM SPOILER: No Sem Spoiler, valorizamos obras com representatividade. Para nós, é muito importante encontrar personagens diversos na literatura, e é sobre isso a próxima pergunta, que foi enviada pela Anna Oliveira. Mia, a protagonista de “Nevernight”, é uma garota bissexual. O que te levou a tomar essa decisão? Podemos esperar outros personagens LGBTQ+ em suas histórias?

JAY KRISTOFF: Eu não sabia que Mia seria bi quando comecei a escrevê-la. Eu plantei a sementinha em “Nevernight”, mas não tinha certeza de que acabaria dando em alguma coisa concreta. Mas depois de tantos leitores terem reagido tão bem àquela cena tão simples, e de nos questionarmos a respeito, decidi que valeria a pena investir — ainda mais com a pessoa que ela acaba escolhendo (sem spoiler!). Fui muito cauteloso, a princípio — um cara hétero escrevendo uma adolescente bi tem de tudo para dar errado caso não seja feito com muito respeito –, e eu queria investir na ideia do jeito certo. Acabou que a reação dos fãs foi maravilhosa. Quase sempre tenho leitores bissexuais que vêm me dizer que Mia foi a primeira personagem com quem se identificaram em um livro de fantasia, o que é muito gratificante de ouvir.

Quanto a trabalhos futuros, sem spoiler! Mas, sim, um dos protagonistas de “Empire of the Vampire” é LGBTQ+.

SEM SPOILER: Por último, mas não menos importante, queremos saber um pouco mais sobre seus projetos futuros, especificamente a sua nova trilogia sobre vampiros. Sabemos que os direitos de publicação no Brasil também são da Plataforma21, então estamos muito ansiosos para ler!

JAY KRISTOFF: Eu também! Estou terminando o primeiro livro de o “Empire of the Vampire”, e tem sido incrível. É o meu maior, mais sombrio e mais ambicioso livro até o momento. Se passa em um mundo medieval que sofreu um acidente ambiental chamado “Daysdeath” — ninguém sabe o motivo, mas, há alguns anos, o sol parou de ser tão brilhante. Vampiros descobriram que podiam andar por aí durante o dia. Então, esses monstros ancestrais, que viveram nas sombras por tantos séculos, começaram a aparecer, levantando exércitos e tomando todo o lugar.

A história segue um homem chamado Gabriel de León. Ele é o que chamam de Sangue Pálido — filho de uma mãe humana e um pai vampiro. No passado, Gabriel foi um famoso caçador de vampiros, até que perdeu a fé em Deus e se tornou um homem amargo e sem esperanças. Ele está preso, esperando sua sentença de morte por ter matado o vampiro imperador, e, lá, pedem a ele que conte sua história.

Então, o livro é uma mistura de “O nome do vento”, “The walking dead” e “Entrevista com o vampiro”, além de ter muito do tom de “Nevernight”: sangue, palavrões e confusões, basicamente.

Colaboraram Bruno Melo, Thaíse Costa e Marcio Garcia. Texto de Mark Morais e Alfredo Neto. Entrevista por Alfredo Neto com ajuda de um time de leitores do Twitter. Tradução de João Pedroso. Edição e revisão de João Rodrigues.

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Alfredo Neto
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Criador do Sem Spoiler. Leitor. Universitário. Compartilho textos pessoais sobre experiência de leitura.