Álbum de figurinhas da Copa

João Maria Silva Neto
Sem Clubismo F.C.
Published in
4 min readMay 30, 2018

Somos um dos países que mais consomem futebol no mundo; não é diferente com os álbuns de figurinhas, em particular o da Copa do Mundo FIFA. O Brasil encabeça a lista dos que mais adquiriram os álbuns e os cromos da Copa 2018 da empresa Panini — o país consome mais que o dobro da segunda colocada, a Alemanha.

Essa tradição vem de muito cedo nas famílias apaixonadas por futebol. Quem nunca acordou— e ainda acorda — cedo para ir na praça da cidade com os pais ou o tio trocar figurinhas buscando completar o álbum? Ou até mesmo fez a loucura de pagar 5, até 10 reais por uma figurinha especial? Tudo para chegar na roda de amigos e dizer que tinha o álbum completo.

Minha primeira experiência com o álbum da Copa foi em 2006, quando tinha meus 9 anos e estava dando os primeiros passos em busca de conhecer e se apaixonar de fato pelo futebol. Não havia melhor jeito de começar… Cidade pequena, poucos pontos de encontro, era fácil chegar na roda de pessoas que estavam ali pelo mesmo propósito e trocar meus Kaka’s e Henry’s repetidos; “Brilhante? Opa, troco por 5 figurinhas normais”, e assim era feito o pequeno mercado de venda e troca na época, todos financiados pelo meus pais, afinal, não existem muitas maneiras de se conseguir dinheiro com 9 anos. E jamais poderemos esquecer de mencionar as diversas rodinhas para “bater figurinha” que se formava nas escolas, nas escolinhas e clubes de futebol: “À vera!”, “Vou rapelar você!”, “Coloco 2 brilhantes e você 10 cartinhas” (Sim, isso era comum na pacata Lorena, interior do estado de São Paulo) eram algumas das frases mais faladas nessa época.

Eis que eu havia completado, finalmente, o álbum de 2006. (FOTO)

Chegara o ano de 2010 e apesar de nesse meio tempo haverem N tentativas de colecionar os álbuns do Campeonato Brasileiro, nada se comparava ao período de Copa. Com um pouco mais de consciência sobre os jogadores, ficava mais fácil saber quais figurinhas tinham lá sua maior importância e até mesmo gravar quais faltavam para completar determinada seleção. Nesta Copa, como se não bastasse eu colecionar, minha irmã acabou se juntando a mim nessa. Sorte nossa de ter completado os 2 álbuns, azar dos meus pais de terem gasto o dobro de dinheiro com os cromos.

Álbum de 2014: A tragédia

Calma, não estou falando necessariamente do ocorrido naquele estádio em Belo Horizonte, isso é assunto para outra hora. A tragédia aconteceu no percurso para completar o álbum daquele ano.

No último ano do Ensino Médio eu já tinha meus meios para ganhar um trocado aqui e outro ali (trabalhando como freelancer de design gráfico), então comecei a depender menos dos meus pais — embora a ajuda deles tivera sido essencial — e passei a comprar por conta própria e até mesmo trocar com mais facilidade pois a cada Copa que passa parecia que mais pessoas estavam dispostas a tentar completar o álbum, algumas com êxito, outras nem tanto.

2014 estava sendo um ano conturbado no âmbito familiar e isso acabou atrapalhando diversas vezes eu de ir na praça trocar figurinha e se reunir com os amigos em busca do mesmo objetivo e assim as semanas foram passando… A Copa já havia começado e eu estava perdendo os fins de semana. Era fato que faltaria algumas figurinhas e que eu teria que pedir pra Panini. A Copa acabou e faltavam 43 figurinhas.

Já já voltamos nessa história…

Finalmente, o ano de 2018

Com meus 21 anos, o olhar não só para a Copa e para as figurinhas mudou, como para o futebol como um todo. A consciência do que vale e do que envolve todo um Campeonato da FIFA é hoje muito maior do que nas 3 últimas edições. Minha cabeça mudou muito também a respeito do entendimento do que nós chamamos de tradição em colecionar um álbum, de ter ao seu lado seu pai ou sua mãe te ajudando contando figurinhas, comprando-as para você; essas são algumas das memórias que eu tenho de toda essa trajetória e é o que realmente me marcou; algo muito familiar. Alguns puderam e ainda podem, e outros, muito em decorrência do alto preço para se colecionar o álbum este ano infelizmente não.

Antes de continuar, precisamos retomar a história da Copa de 2014…

Lembram que faltavam 43 figurinhas pra completar a última edição? Pois bem. QUATRO anos se passaram e só neste ano eu criei vergonha na cara de comprar na internet as figurinhas restantes, afinal, de algum jeito eu tinha que manter vivo o costume de colecionador e chegar até o fim em todos os álbuns. E depois de muito tempo — e de um trauma pessoal criado por conta disso — estava eu com o álbum da trágica edição de 2014 completinho.

Já com o álbum de 2018 em mãos, perdi a conta de quanto foi gasto e ainda faltam 41 figurinhas para que eu complete. A maioria brilhantes (assim como o de praticamente todos os colecionadores). Não é pouco dinheiro, muito pelo contrário. E conforme as edições vão passando, essa história de trocar e comprar figurinhas vai virando negócio: o preço dos pacotes dobrou de preço. Além disso, quantas pessoas vemos com catálogos com diversos cromos para venda e por valores exorbitantes? Isso tira completamente a essência do que vi crescer em mim e ao meu redor.

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João Maria Silva Neto
Sem Clubismo F.C.

21. Designer e fundador do @SemClubismo_FC. Editor e escritor no mesmo.