Alex Morgan: representatividade e resistência

Gabriel Escobar
Sem Clubismo F.C.
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3 min readJul 24, 2019

Posicionar-se politicamente deveria ser regra, mas é exceção. No esporte então, o tabu é ainda maior. Poucos e poucas são os que se colocam na berlinda para expor suas ideias e confrontar o que consideram errado dentro do ambiente esportivo, político e social.

Há pouco tempo, na Copa do Mundo de Futebol Feminino, a seleção dos Estados Unidos — que veio a ser campeã do torneio — foi protagonista, não só pelo futebol, mas pelo posicionamento contundente frente ao presidente estadunidense, Donald Trump, e pelo protesto incessante em favor da igualdade de condições nas categorias masculina e feminina.

O posicionamento mostrou que ninguém estava ali somente para competir, mas para se fazer ouvido no mundo inteiro.

A Copa do Mundo chegou ao fim, mas os gritos por igualdade continuaram. No esporte, na vida e, agora, na junção das duas coisas.

VICE

No dia 12 de outubro de 2018, o portal Vice publicou uma coluna chamada “Ronaldo Is an Icon of Corruption in Sports”, trazendo uma série de acontecimentos na vida do craque português que escancaravam a maneira “acima da lei” de viver. Entre esses eventos estava a acusação de estupro à Kathryn Mayorga, em um hotel de Las Vegas, em 2009.

O episódio, que voltou a ganhar força no ano passado, teve certa repercussão, mas por se tratar de um homem, branco, famoso e repleto de dinheiro, o caso foi abafado, provas “se perderam” e o julgamento popular, obviamente, foi de que CR7 era inocente, mesmo sem conclusões.

Aí vem a chave da questão discutida na publicação:

“Why is it easier to question the motives of the victim rather than those of the accused?”

A pergunta, ainda sem resposta, teve um final comum. Como esperado, Cristiano se safou mais uma vez. Por falta de provas, não foi julgado e as acusações foram suspensas. Nos portais de notícia, isso foi assunto por algumas horas, mas logo substituído pelo vídeo do atleta pulando em cima do segurança. Afinal, famoso passando impune por acusação grave não tem um grande valor-notícia. Acontece toda hora.

ALEX MORGAN

É aí que entra a grande pilar dessa história. Bicampeã do mundo, campeã da Liga dos Campeões da Europa, campeã olímpica e uma das maiores jogadoras da história do esporte, Alex Morgan sabe que seu papel não é limitado ao futebol. Ela sabe exatamente o que representa.

Ela não é apenas uma das melhores jogadoras do planeta, mas porta-voz de uma classe esportiva e social que sonha com a igualdade de direitos e julgamentos.

Ocupando essa posição, Morgan postou em sua conta oficial do Twitter, logo após o anúncio da absolvição de CR7, a postagem do Vice, alegando que isso era um bom jornalismo e, pouco depois, declarou que mulheres devem apoiar mulheres, “de novo e de novo”.

Morgan, que há pouco tempo criticara a CBF e incentivara o investimento no futebol feminino no Brasil, além de condenar constantemente as atitudes de Trump, mais uma vez não se calou. Diante de mais uma das diversas acusações de estupro que vão para debaixo do tapete por envolver famosos, se viu na obrigação de gritar em favor da igualdade de condições e do apoio às mulheres.

Alex Morgan sabe exatamente quem é.

É uma das principais atletas de um esporte que ainda sofre com a falta de investimento. É mulher que, como todas as outras, é vítima de um machismo que assola o futebol e a sociedade. É a representante de classes que carecem de voz, mas, que se depender dela, serão ouvidas na marra.

Se o futebol não é apenas um esporte, Alex Morgan não é apenas uma atleta. É resistência.

E que venham mais Morgans por aí!

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Gabriel Escobar
Sem Clubismo F.C.

Jornalista em formação, comentarista na Rádio BSB Sports e corneteiro de plantão. Escrevo umas paradas para o Sem Clubismo.