Champions em formato de Copa deve quebrar paradigmas pós-quarentena

Yuri Laurindo
Sem Clubismo F.C.
Published in
4 min readApr 21, 2020

A pandemia do novo COVID-19 criou uma onda de insegurança por todo mundo. O colapso da sociedade pareceu questão de tempo e a quarentena drástica gerou uma série de desconfianças sobre o futuro de diversas camadas da sociedade. Com uma reação em cadeia que, por sua vez, afetou o planeta socialmente e economicamente, o futebol também sofreu.

A paralisação na Europa, tardia diga-se de passagem, levantou grandes incógnitas sobre como seria realizado o fim da temporada. Com os torneios continentais de seleções se aproximando, o calendário foi se apertando e as dúvidas aumentaram, culminando no adiamento dos mesmos. Agora, depois de um grande período sem respostas, com o achatamento da curva de contágio no continente, o esporte se prepara para voltar. Com isso, o maior campeonato de clubes do mundo, a UEFA Champions League, terá uma mudança de contexto histórica, que culminará em diversas quebras de paradigmas esportivos e, até mesmo, mercadológicos.

A imprensa europeia notícia que a Champions será finalizada no mês de agosto, com todos os jogos restantes sendo disputados entre os dias 7 e 29. As características específicas do torneio, que já eram muitas, por se tratar de um campeonato majoritariamente em mata-mata, para essa edição, se alteram bastante, ganhando requintes de Copa do Mundo com novas singularidades.

A primeira singularidade se baseia no físico das equipes que ainda se mantém vivas no certame. Como as grandes ligas terão seu desfecho imediatamente antes do reinício da UCL, Real Madrid, Barcelona, Juventus, Bayern de Munique e Leipzig, que lutam ponto a ponto pelos títulos nacionais, Lyon, Atlético de Madrid, Napoli e Atalanta, que lutam por uma vaga em competições europeias para 20/21, chegarão em um contexto de esgotamento físico totalmente diferente de PSG, praticamente campeão francês e Manchester City, com o segundo lugar da Premier League consolidado e uma remota chance de conquistar o título.

City abriu boa vantagem na ida contra o Real e pode ter o físico a seu favor para garantir a vaga nas quartas-de-final.

Em uma Copa do Mundo, o período de preparação em uma pós-temporada é vital para o desenvolvimento das equipes durante o torneio. Levando isso em consideração, PSG e City saem na frente dos seus adversários. A possibilidade de poupar seus maiores craques durante as ligas, também é capaz de diminuir o número de lesões e reduzir a chance de fatalidades visando o objetivo maior da temporada.

A segunda singularidade, talvez a mais interessante desse diferente formato, está no psicológico das equipes. Como todo torneio de tiro curto, a resiliência mental dos jogadores é extremamente exigida e, nesse caso específico, o foco se torna ainda mais imprescindível por se tratar de jogos sem a presença do torcedor. O silêncio dos estádios cria um ambiente muito passível de dispersão, o que deve alterar resultados.

Alguns jogos da Champions League já foram disputados com portões fechados nessa temporada em decorrência do coronavírus

Considerando essa particularidade, algumas equipes que já se mostraram em um patamar elevado na questão psicológica, poderão se destacar mais que as outras, assim como estilos de jogo que se baseiam no próprio foco do jogador em vencer, também poderão se sobressair.

O Atlético de Simeone, que teve sua euforia pela vitória espetacular em Anfield brecada pela paralisação, é um dos exemplos. O estilo de jogo aguerrido que o técnico argentino propõe faz o seu atleta adentrar no jogo instintivamente e buscar, a todo custo, passar por cima de adversidades que apareçam em seu caminho. Esse ideal pode ser um diferencial, por mais que em suas costas o treinador carregue alguns “fracassos” passados em momentos com alto teor de tensão psicológica.

Em uma linha parecida do ponto de vista mental, mas com outra ideia de jogo, o City de Pep Guardiola também pode ter diferenciais na busca pelo título. A inquietude do treinador em busca da perfeição acaba forçando seus atletas a ter uma imersão mental absurda em uma partida. Nesse caso, porém, o fato da carga psicológica ser muito alta em um período muito curto, pode fazer essa obsessão ter efeito contrário, trazendo o risco de um burnout coletivo.

A busca constante pela perfeição de Pep Guardiola foi ponto chave da série All or Nothing: Manchester City (Amazon Prime)

Por fim, é importante ressaltar como a qualidade individual deve decidir ainda mais jogos nesse novo formato. Jogadores como Cristiano Ronaldo, Messi e Neymar, que por si só vencem partidas nos mais variados contextos, serão essenciais para momentos em que físico e mental esgotados não respondam por completo.

Não se sabe em que nível de intensidade os clubes voltarão dessa parada forçada, principalmente se tratando do período de maior afunilamento da temporada. Porém, independente dessa situação, as particularidades dessa nova Champions League devem gerar uma edição imprevisível como poucas na história.

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