Do naufrágio à América

Sem Clubismo F.C.
Sem Clubismo F.C.
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5 min readDec 6, 2017

O ano começou repleto de interrogações e incertezas. E não era por acaso. O Vasco começou a temporada de 2017 com um técnico que, antes mesmo de retornar a São Januário, já era duramente criticado. Iniciou jogando um torneio na Florida muito mais útil para a exposição da marca do que propriamente para uma pré-temporada. Várias contratações de teor duvidoso e dentre elas, o nosso “querido e prometido presente de Natal”: Escudero. Para piorar, o Cruzmaltino estreou no Campeonato Carioca levando uma goleada acachapante do nosso maior freguês e meses depois, viria a ser eliminado da Copa do Brasil de forma humilhante e precoce, culminando na demissão de Cristóvão Borges do comando. Como eu disse, não era por acaso.

Assim chegou Milton Mendes, com seu estilo muito metódico e exigente que acabou desagradando medalhões do elenco e sendo o pivô da saída do até então capitão Rodrigo. Apesar de sofrer mais uma goleada em outra estreia de campeonato, via-se um Vasco diferente. Um Vasco que sobretudo podia brigar por algo a mais do que apenas se contentar com um não rebaixamento. E mostrou isso nos jogos seguintes até o fatídico clássico contra o arquirrival Flamengo em São Januário.

vasco e flamengo

O Gigante da Colina ali perdia seus principais reforços do Campeonato: a sua torcida e seu estádio que, naquele momento, faziam o Vasco brigar pelo então G-6 e permanecer na primeira parte da tabela. Mas como aquele ditado diz: Nada é tão ruim que não possa piorar. E piorou. Dias seguintes, o clube ainda perdeu seu principal jogador na época para o Manchester City: Douglas Luiz, motor do time, dono do meio-campo e uma das revelações do Campeonato. Além disso, seu artilheiro — e até então, a contratação mais badalada — Luis Fabiano só viria a disputar apenas mais 3 partidas até o fim do Brasileiro.

Porém, a partir daquele momento, foi quando se deu um dos grandes méritos de Milton. Apesar de tudo, ele entendia que a base do Vasco sempre foi o alicerce de tudo. O clube revelou os 3 maiores artilheiros da história do Campeonato Brasileiro e já vinha apostando em Mateus Vital, um garoto tão talentoso e ao mesmo tempo tão criticado pela torcida, injustamente, desde que chegou ao time por ter ganhado a vaga do até então ídolo da mesma, Nenê. E naquele momento, o treinador teve pulso de bancar um menino de somente 16 anos. Isso mesmo, 16. Uma jóia rara de São Januário que merece ser lapidada com muito carinho: Paulinho. Que depois viria a ser protagonista da campanha do clube a Libertadores decidindo jogos importantíssimos como a marcante vitória no Horto sobre o Atlético Mineiro. Além dos dois citados, Paulo Vitor, Caio Monteiro e Evander também tiveram seus momentos e suas de importâncias na campanha. Porém isso tudo não foi o bastante. Milton cada vez mais perdia a força e apoio do elenco. Assim, acabou sendo demitido após sofrer uma dura derrota diante do Bahia em Salvador, que deixou o Vasco próximo ao Z4 pela primeira vez no Campeonato.

Entretanto, esse foi o momento da real mudança de patamar do Cruzmaltino no Brasileirão. Zé Ricardo assume o cargo sob olhares de desconfiança vindos de todas as partes. Mas Zé é um cara simples e humilde assim como seu nome. E foi assim que ele conquistou todos os jogadores do elenco rapidamente. O ex-técnico do Flamengo fez o time ganhar uma cara que os vascaínos não viam há algum tempo. Óbvio que houveram erros, partidas fracas e empates melancólicos. Mas não fossem essas partidas, talvez não conseguiríamos ter feito uma gigante atuação contra o Santos quebrando um tabu de 12 anos sem vencer na Vila com uma virada típica de Vasco. Épica. No apagar das luzes para torcedor nenhum botar defeito. Ou então, vencer uma partida no Mineirão contra o Cruzeiro que, mesmo com uma atuação mais fraca comparada as outras, fez o Gigante quebrar outro tabu de 17 anos. Zé resgatou o orgulho de ser Vasco nessa reta final de Campeonato. Junto a jogadores como Anderson Martins, um daqueles jogadores que você nem acredita que hoje joga no seu time. Vascaíno de coração, zagueiro sério, técnico, que voltou para colocar o Vasco em uma Libertadores novamente após 5 anos. Aquele mesmo zagueiro que em 2011, com Dedé, o colocou depois de 11 anos de espera. Junto a Ramon, jogador totalmente diferente de sua primeira passagem, menos afobado, mais técnico, ótimo defensiva e ofensivamente e que inclusive também estava junto a Anderson em 2011 na conquista da Copa do Brasil.

zee

Além disso, o técnico fez jogadores, antes muito criticados pela torcida como Wellington, Madson e até Pikachu em alguns momentos, virarem peças de suma importância. Destaque principal para o volante que vivia um inferno astral no clube desde sua chegada. Sempre alvo de muitas críticas, deu a volta por cima e conseguiu pôr sua qualidade em uma posição carente da equipe desde a saída de Douglas. O crescimento de Evander com o treinador também merece ser ponderado. Na base, era muito mais ofensivo, fazedor de gols, assistências e agora, nos profissionais, é um volante moderno. Conseguindo ser uma ótima arma nos chutes de fora, passes qualificados e o melhor: com objetividade, acima de tudo.

Por último, mas não menos importante. Aliás, muito pelo contrário. O que dizer sobre Martín Silva? Chegou ao Rio de Janeiro para disputar uma Série B, tendo jogado no ano anterior uma final de Libertadores. E mesmo tendo participado do pior momento da história do Clube, optou por ficar. Optou por virar ídolo de uma torcida tão carente nos últimos anos. Optou por defender o Vasco até quando se tratava de sua própria pátria — quando recusou a sua convocação para a seleção. O Uruguaio é um dos daqueles casos de ídolo que basta ele envergar a camisa do seu time, que você já fica com orgulho. Não precisa de marketing, não precisa de declaração de amor. Se vê nos olhos dele em campo o amor dele por essa instituição. Você merece tudo isso e mais um pouco, Martín!

Todas essas qualidades e melhoras não poderiam ser por acaso, né? E não foi. Assim como a desconfiança no começo não era. Conquistamos uma vaga na tão sonhada Libertadores da América, após 20 anos desde nossa última conquista. O Vasco passou por cima de indefinições políticas, não sabendo ainda quem será seu presidente, desconfiança de todas as partes possíveis: internas, externas, torcida e mídia. Passamos por cima disso tudo. Agora é torcer para isso virar rotina, como sempre foi durante longos anos da nossa história. O Vasco é maior do que qualquer coisa. Que tua imensa torcida volte a ser bem feliz. Agora e para SEMPRE!

martin

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