O Milagre de Sochi

Yuri Laurindo
Sem Clubismo F.C.
Published in
3 min readJun 23, 2018

A Alemanha está ensandecida. Após um primeiro tempo doloroso com o adversário saindo na frente, os alemães conseguiram a virada no final do jogo. Esse roteiro épico nunca se repetirá e basta tocar no assunto que nós sabemos do que se trata: O Milagre de Berna, que marcou o título mundial em 1954. Pois, então, você estava errado. Temos um novo milagre e, dessa vez, ainda mais emocionante, em uma pequena cidade banhada pelo Mar Negro.

Atual campeã do mundo, a Die Mannschaft chegava pressionada ao estádio Olímpico de Fisht. Com a derrota na primeira rodada, sem uma vitória estariam praticamente eliminadas e seguiriam o caminho de Itália (06–10) e Espanha (10–14), que voltaram pra casa logo na primeira fase dos torneios seguintes aos que chegaram à glória máxima do futebol.

Germânicos por todo mundo oravam para Franz Beckenbauer e Gerd Müller abençoarem seus sucessores. Aquele dia não era o dia do desastre e eles sentiam isso. Regados a muita cerveja e gritos, o momento chegou e, junto com ele, a tensão. No início, putz, que sufoco. A bola não entrava. Lá atrás, o medo imperava com os contra-ataques de um cara pesadão que chamava Berg. Um comentou com o seu amigo que achava que esse era o nome, mas estavam muito bêbados para ter certeza.

O medo continuava e a pressão também, afinal, tinham que vencer de qualquer jeito. Aos 31 minutos, algo inacreditável aconteceu. Não perca a conta, foi somente o primeiro dos fatos impressionantes que tivemos nessa noite na pacata Sochi. Toni Kroos falhou feio e Toivonen encobriu o goleiro Neuer. Era raro ver isso acontecer… isso só podia significar que o desastre aconteceria sim.

Chegamos no intervalo, todos ali precisavam respirar. Mais cerveja e, principalmente, oxigênio. Ok, poderíamos voltar. Low leu a mente dos torcedores: era tudo ou nada. Com Mario Gomez, agora, em campo, o verdadeiro bombardeio se iniciou. Cruzamento na área e o predestinado Marco Reus, de joelho, o mesmo que o tirou de ação por várias oportunidades e que, dessa vez, causara euforia, empatou. Voa cerveja, voa camisa e voa o pensamento. Ainda faltava um.

Bombardeio de respeito não possui cessar fogo. A Alemanha queria um massacre para libertar gritos, não como os que já aconteceram ali mesmo na Rússia, mas sim, gritos de felicidade e celebração. Um, dois, três e QUATRO. A bola insistia em não entrar. Super Mario isolou, Werner fez um bávaro chorar de tristeza ao perder um gol feito e Müller… o Müller é um coitado, não conseguia fazer nada. Dez minutos para o milagre e só se pensava em quem seria o anjo. Esquecemos de combinar com o Boateng. MEU DEUS, BOATENG! O melhor zagueiro do time estava expulso e o objetivo estava tão próximo. Doeu.

Ninguém liga pra defesa. Bombardeio de respeito não possui cessar fogo. O General Joaquim Low fez questão de manter a premissa. Brandt em campo. Mais uma, outra e outra bola. Ela não entrava!!! O menino que tinha acabado de entrar meteu uma no pau. Que sofrimento. Só mais cinco minutos juizão? Em um piscar de olhos estávamos no último lance.

Falta na entrada da área e cabia a Kroos, aquele que errou no gol que poderia ter nos eliminado, renovar o sonho. Ele caminhou com a calma característica, pôs a pelota no chão, pediu, pelo amor de Franz, para ela ir exatamente onde ele queria e arriscou. Silêncio, descobrimos quem seria o anjo. Toni! Absurdo! Estavam vivos. Gritos de “Ich liebe dich, Kroos! Ich liebe dich, Kroos*” dominaram as arquibancadas, com beijos, abraços e toda a loucura que você conseguir imaginar e o que você não conseguir, também. Não estavam classificados, mas estavam vivos.

De Berna para Sochi, de Rahn para Kroos. Mais um milagre.

*”Eu te amo, Kroos”, em alemão.

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