Qual o impacto do fim dos canais Esporte Interativo?

Yuri Laurindo
Sem Clubismo F.C.
Published in
5 min readAug 9, 2018

Na manhã do dia 9 de agosto de 2018, uma notícia balançou o mundo do jornalismo esportivo. A Turner, empresa dona do Esporte Interativo no Brasil, anunciou o fim dos canais de televisão da rede, ou seja, todos os canais com a marca “EI” vão ser descontinuados, tanto em TV Fechada, quanto em TV Aberta. Apesar do nítido crescimento, que tornou capaz a compra dos direitos da UEFA Champions League e do Brasileirão, há muito tempo se sabe da intenção dos majoritários estadunidenses de fechar a vertente esportiva tupiniquim, já que sempre consideraram um investimento “furado”, um verdadeiro erro.

O estopim para, finalmente, isso acontecer parece ter sido a incorporação da Turner à AT&T, que no Brasil também controla a operadora Sky. Por lei, desde o imbróglio envolvendo Sports+, a própria Sky e os direitos do Campeonato Espanhol, é proibido o controle, por uma mesma empresa, de um canal e uma operadora de televisão. Além de tudo, ainda há a questão dos direitos renovados da Champions e do Brasileirão, a partir de 2019, que terão os eventos realocados para os canais de filme Space e TNT, como já ocorria com alguns jogos específicos desde o lançamento dos canais EI MAXX.

O impacto disso tudo pode ser muito maior do que se imagina. Caso façamos uma análise rasa, os principais eventos vão continuar no cardápio de opções do torcedor, mas a “resistência” esportiva na mídia perde um aliado importantíssimo em busca da democratização do futebol.

O EI Plus continua?

A plataforma OTT do Esporte Interativo, o EI Plus, que conta com o trunfo da transmissão de todos os jogos da UEFA Champions League seguirá sem mudanças bruscas. Todas os eventos previstos no pacote assinado pelo cliente se manterão e, com o crescimento recente, deverá até mesmo receber novos investimentos.

A manutenção das Fan Pages oficiais do canal, com a mesma marca, acontecerá. No caso do Facebook, servirá de suporte para algumas transmissões da principal competição europeia, por um acordo com a Rede Social.

Para o torcedor brasileiro, talvez, essa não seja uma boa notícia pelo histórico comum de conexões ruins de internet no nosso território. A popularização da plataforma de streaming não deve ocorrer facilmente por esse fator primordialmente.

Como fica a Copa do Nordeste e a Série C?

O maior prejudicado nessa confusão é, sem dúvidas, o torcedor dos times de menor expressão do Brasil, com foco no Nordeste. Com a alocação dos grandes eventos para os canais de filme, a indefinição sobre as divisões inferiores, que estavam se tornando sucesso absoluto no EI, pode trazer um baque financeiro e expositivo em clubes que estavam tendo oportunidades de aparecer em rede nacional.

Mesmo que, ultimamente, a emissora tenha recebido críticas por combater a polarização Sul-Sudeste e criar uma nova, excluindo certas regiões da sua grade para focar-se somente no Nordeste, ela ainda tinha um grande papel pela exemplar cobertura, jamais vista na TV se tratando de campeonatos sem apelo comercial, mas com apelo emocional diferenciado.

A Turner já assumiu que tentará buscar novas formas de distribuir os direitos que possuíam, mas o fato é que esses campeonatos não devem seguir para o TNT e o Space, assim como o Brasileirão de Aspirantes.

As transmissões no TNT e Space

O esportes será introduzido de forma gradativa na grade de TNT e Space. A programadora pretende colocar programas diários de futebol, as famosas mesas redondas, pelo menos duas vezes por dia em algum dos dois canais e, deve manter o padrão de cobertura antigo, com um pré-jogo completo e duradouro.

Em relação ao que ocorrerá com as operadoras de TV e como será feito o desligamento do Esporte Interativo, uma preocupação tem se intensificado. A partir de hoje, os canais EI já estão operando em loop e permanecerão assim por 30 dias, até serem retirados da cartilha de distribuição da Turner. Porém, não é definitiva a presença das novas versões de TNT e Space em todas as operadoras, já que a empresa estadunidense afirmou que o preço dos canais serão reajustados pela mudança.

Operadoras que optarem por não distribuir a versão “esportiva” com um preço maior, receberão sinal de uma versão paralela que continuará com a programação antiga. Se pegarmos como base a luta para a inclusão do Esporte Interativo nas gigantes NET e Sky, talvez, essa migração do TNT e do Space não seja tão fácil, prejudicando o assinante.

E os profissionais que trabalhavam no Esporte Interativo?

A base de contratados do EI rondava os 300 profissionais e, pelo que se sabe, cerca de 180 deles foram demitidos com a mudança. Alguns setoristas, inclusive, já anunciaram em seu Twitter que não fazem mais parte do projeto, que era um dos melhores em cobertura de clubes, com presença em diversos países.

Boatos correm pelo microblog de que, como o público, eles também receberam a informação de surpresa, em um evento que ocorreu no Hotel Sheraton no Rio de Janeiro.

Mas afinal, qual o verdadeiro impacto no mercado?

A descontinuação do Esporte Interativo na televisão, mídia que mais atinge pessoas no Brasil, é uma grande vitória para a Rede Globo, que vê seu principal rival nos últimos anos se enfraquecer. Com isso, a polarização da mídia esportiva, que havia diminuído após a chegada de FOX e Turner, voltará a aumentar (podendo se agravar ainda mais com a fusão entre Disney (ESPN) e Fox, que está para ser aprovado pelo CADE).

Essa “confusão” serve, também, para reafirmar a crise que se instaura na redes de televisão brasileiras, que, até hoje, não compraram, por exemplo, os direitos do Campeonato Italiano, que contará com Cristiano Ronaldo nessa temporada, Francês, que conta com Neymar e Mbappé e Liga Europa, segunda maior competição de clubes do velho continente.

Para o assinante, a dor é gigantesca por colocar nas mãos das conexões de banda larga a possibilidade de acompanhar diversos campeonatos, além de perder a opção de 50% da La Liga, que será cobrada por fora pela FOX, através do FOX Premium.

Ser um amante do futebol será mais difícil na temporada 18/19.

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