Red Bull dá asas a uma nova era do Clube Atlético Bragantino

Matheus Jacomin de Moura
Sem Clubismo F.C.
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5 min readMar 27, 2019

Há pouco mais de 30 anos, o Bragantino começou a sua escalada rumo ao topo do cenário esportivo estadual e nacional. A equipe, comandada por um jovem e nem tão conhecido Vanderlei Luxemburgo, foi campeã da Série B 1989 derrotando no mata-mata os tradicionais Juventus da Mooca e Remo e levou a Terra da Linguiça a ser conhecida nos quatro cantos do país.

No ano seguinte, o Massa Bruta continuou sua ascensão meteórica com o inédito título do Paulistão. A boa fase perdurou durante quase toda a década de 90, quando o Braga foi vice-campeão brasileiro, disputou a Taça Conmebol em três oportunidades e contou com passagens de Carlos Alberto Parreira e Mauro Silva.

Buscando retomar os dias de glória de um passado nem tão distante, o presidente do clube Marquinhos Chedid confirmou os rumores divulgados pela imprensa durante as últimas semanas sobre a negociação com a multinacional Red Bull. A medida, como era de se esperar, dividiu a cidade de Bragança Paulista entre os favoráveis e os contrários a presença da empresa no comando do Departamento de Futebol.

Até mesmo entre os mais jovens, a parceria não é motivo de unanimidade. É o caso de Vitor Hugo (20), torcedor fanático, que apesar de entusiasta do RB Bragantino, tem medo das tradições do Massa Bruta serem apagadas, como aconteceu com o Austria Salzburg — os austríacos tiveram suas cores, seu uniforme e escudo totalmente modificados pela empresa de energéticos.

“O investimento vai agregar muito ao time (…) mas espero que a Red Bull não altere o escudo ou as cores do clube. Isso aconteceu em todos os clubes que a marca colocou a mão”, comentou Vitor.

A própria filial brasileira, que atualmente é sediada em Jarinu-SP e poderá extinta com a nova parceria, é alvo de resistência por parte do público e das próprias transmissões de TV — o nome da marca na grande mídia é abreviado para RB Brasil. Além disso, mesmo com a melhor campanha da primeira fase do Paulistão, o Toro Loko teve média de apenas 1858 pagantes por jogo, a menor de toda a competição.

Entretanto, apesar do saudosismo dos torcedores ser muito recorrente nesse tipo de discussão, na prática a realidade esportiva e econômica do Braga é muito diferente dos tempos de Luxemburgo e Parreira. Após o fim da fase vencedora do início dos anos 90, o time foi rebaixado para a Série C do Campeonato Brasileiro em duas oportunidades (2002 e 2016) e conseguiu retornar a Segunda Divisão na temporada passada.

Mesmo com o acesso em 2018, as expectativas para a Série B 2019 não eram as melhores. O Massa Bruta brigou contra o rebaixamento no Campeonato Paulista e sem muitos recursos para investir em contratações, provavelmente não teria grandes novidades no elenco para o Brasileiro.

A situação financeira da equipe é tão delicada a ponto da equipe ter que transferir o mando de campo das quartas-de-final do ano passado ao Pacaembu para equilibrar os cofres. Como resultado, o estádio ficou lotado de corinthianos, enquanto os torcedores interioranos tiveram direito a somente 6% da carga total de ingressos. Segundo pessoas ligadas a diretoria do clube, o déficit só não é maior devido aos esforços de dirigentes do alto escalão da diretoria, que colocam dinheiro do próprio bolso para manter os pagamentos em dia.

Boletim financeiro está disponível no site da Federação Paulista de Futebol

Durante o estadual 2019, dos sete jogos disputados no Estádio Nabi Abi Chedid, três deles deram prejuízo. Além disso, das partidas com superávit, duas foram realizadas contra times grandes — Santos e São Paulo. Nesses casos, a diretoria tradicionalmente opta por destinar a maior parte dos ingressos aos torcedores rivais, que costumam trazer públicos razoáveis a Bragança Paulista, enquanto a torcida local fica acuada em um pequeno setor das arquibancadas. Somadas, as rendas contra o São Paulo e Santos são de mais de 300 mil reais, uma das principais fontes de renda do clube para sobreviver durante o restante da temporada.

Os jogos contra Guarani e Ponte Preta também são casos especiais: a proximidade de Campinas com Bragança facilita o deslocamento das torcidas campineiras e acirra a rivalidade local entre as equipes, que buscam ser a maior força do interior paulista. A arrecadação quando positiva, no entanto, é praticamente irrelevante e semelhante as outras do Massa Bruta durante o restante do calendário, quando enfrenta adversários de menor porte e consegue rendas irrisórias.

Família Chedid

Desde que chegou ao Brasil em meados do século passado, a família Chedid conquistou enorme reputação político-esportiva em todo o país. Nabi Abi Chedid, atual nome do estádio do Bragantino, foi presidente do clube durante 18 anos, presidente da FPF, vice-presidente da CBF e da CONMEBOL. Seu irmão, Jesus Chedid, atualmente é prefeito de Bragança Paulista e também presidiu o Braga durante 1978 e 1986.

A família, que ainda conta com vereador na cidade e deputado estadual, também detém o controle do clube desde 1998, quando Marquinho Chedid, filho de Nabi, assumiu a presidência do clube. O vice-presidente Luiz Arthur, filho de Marquinho, completa o verdadeiro domínio familiar sobre o Bragantino e a própria cidade de Bragança Paulista.

O Nabi Abi Chedid possuí capacidade para aproximadamente 15 mil espectadores (Foto: Cidade e Cultura)

Com o “surgimento” do RB Bragantino, Marquinho e Luiz Arthur continuarão na administração do Massa Bruta. A Red Bull, por sua vez, assumirá a gestão do futebol, sendo responsável pela contratação de jogadores, comissão técnica e outras decisões relacionadas ao departamento.

Energia e dinheiro para voltar aos tempos de grandeza

Em todos os países em que está presente, a Red Bull desenvolve um trabalho agressivo na formação de jogadores e na busca por uma identidade de jogo leve e ofensiva. Leipzig, New York e Salzburg estão todos na elite do futebol nacional e são franquias de extremo sucesso, principalmente no caso das europeias.

O RB Leipzig demorou apenas 7 anos para sair do escalão mais baixo da Alemanha para chegar a Bundesliga, em que já foi vice-campeã com um time formado por jovens jogadores. No caso do Salzburg, o domínio é ainda maior: desde a sua compra, a equipe já conquistou nove vezes o Campeonato Austríaco e em cinco oportunidades a Copa da Áustria.

No Brasil, não poderia ser diferente. A empresa investirá intensamente para o parceiro sul-americano alçar os mesmos voos que seus “irmãos” espalhados pelo Planeta. O RB Bragantino deverá ter boa parte de seu elenco formado pela base do RB Brasil, que fez boa campanha no Paulistão 2019.

Os investimentos, segundo a expectativa de dirigentes, devem estar na casa dos 40 milhões de reais, incluindo ainda a reforma do Nabizão e a construção de um moderno centro de treinamentos para os atletas. A expectativa de Thiago Scuro, CEO do RB, é chegar ao Brasileirão nos próximos anos.

E para você, em qual patamar pode chegar o RB Bragantino?

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