Red Bull dá asas a uma nova era do Clube Atlético Bragantino
Há pouco mais de 30 anos, o Bragantino começou a sua escalada rumo ao topo do cenário esportivo estadual e nacional. A equipe, comandada por um jovem e nem tão conhecido Vanderlei Luxemburgo, foi campeã da Série B 1989 derrotando no mata-mata os tradicionais Juventus da Mooca e Remo e levou a Terra da Linguiça a ser conhecida nos quatro cantos do país.
No ano seguinte, o Massa Bruta continuou sua ascensão meteórica com o inédito título do Paulistão. A boa fase perdurou durante quase toda a década de 90, quando o Braga foi vice-campeão brasileiro, disputou a Taça Conmebol em três oportunidades e contou com passagens de Carlos Alberto Parreira e Mauro Silva.
Buscando retomar os dias de glória de um passado nem tão distante, o presidente do clube Marquinhos Chedid confirmou os rumores divulgados pela imprensa durante as últimas semanas sobre a negociação com a multinacional Red Bull. A medida, como era de se esperar, dividiu a cidade de Bragança Paulista entre os favoráveis e os contrários a presença da empresa no comando do Departamento de Futebol.
Até mesmo entre os mais jovens, a parceria não é motivo de unanimidade. É o caso de Vitor Hugo (20), torcedor fanático, que apesar de entusiasta do RB Bragantino, tem medo das tradições do Massa Bruta serem apagadas, como aconteceu com o Austria Salzburg — os austríacos tiveram suas cores, seu uniforme e escudo totalmente modificados pela empresa de energéticos.
“O investimento vai agregar muito ao time (…) mas espero que a Red Bull não altere o escudo ou as cores do clube. Isso aconteceu em todos os clubes que a marca colocou a mão”, comentou Vitor.
A própria filial brasileira, que atualmente é sediada em Jarinu-SP e poderá extinta com a nova parceria, é alvo de resistência por parte do público e das próprias transmissões de TV — o nome da marca na grande mídia é abreviado para RB Brasil. Além disso, mesmo com a melhor campanha da primeira fase do Paulistão, o Toro Loko teve média de apenas 1858 pagantes por jogo, a menor de toda a competição.
Entretanto, apesar do saudosismo dos torcedores ser muito recorrente nesse tipo de discussão, na prática a realidade esportiva e econômica do Braga é muito diferente dos tempos de Luxemburgo e Parreira. Após o fim da fase vencedora do início dos anos 90, o time foi rebaixado para a Série C do Campeonato Brasileiro em duas oportunidades (2002 e 2016) e conseguiu retornar a Segunda Divisão na temporada passada.
Mesmo com o acesso em 2018, as expectativas para a Série B 2019 não eram as melhores. O Massa Bruta brigou contra o rebaixamento no Campeonato Paulista e sem muitos recursos para investir em contratações, provavelmente não teria grandes novidades no elenco para o Brasileiro.
A situação financeira da equipe é tão delicada a ponto da equipe ter que transferir o mando de campo das quartas-de-final do ano passado ao Pacaembu para equilibrar os cofres. Como resultado, o estádio ficou lotado de corinthianos, enquanto os torcedores interioranos tiveram direito a somente 6% da carga total de ingressos. Segundo pessoas ligadas a diretoria do clube, o déficit só não é maior devido aos esforços de dirigentes do alto escalão da diretoria, que colocam dinheiro do próprio bolso para manter os pagamentos em dia.
Durante o estadual 2019, dos sete jogos disputados no Estádio Nabi Abi Chedid, três deles deram prejuízo. Além disso, das partidas com superávit, duas foram realizadas contra times grandes — Santos e São Paulo. Nesses casos, a diretoria tradicionalmente opta por destinar a maior parte dos ingressos aos torcedores rivais, que costumam trazer públicos razoáveis a Bragança Paulista, enquanto a torcida local fica acuada em um pequeno setor das arquibancadas. Somadas, as rendas contra o São Paulo e Santos são de mais de 300 mil reais, uma das principais fontes de renda do clube para sobreviver durante o restante da temporada.
Os jogos contra Guarani e Ponte Preta também são casos especiais: a proximidade de Campinas com Bragança facilita o deslocamento das torcidas campineiras e acirra a rivalidade local entre as equipes, que buscam ser a maior força do interior paulista. A arrecadação quando positiva, no entanto, é praticamente irrelevante e semelhante as outras do Massa Bruta durante o restante do calendário, quando enfrenta adversários de menor porte e consegue rendas irrisórias.
Família Chedid
Desde que chegou ao Brasil em meados do século passado, a família Chedid conquistou enorme reputação político-esportiva em todo o país. Nabi Abi Chedid, atual nome do estádio do Bragantino, foi presidente do clube durante 18 anos, presidente da FPF, vice-presidente da CBF e da CONMEBOL. Seu irmão, Jesus Chedid, atualmente é prefeito de Bragança Paulista e também presidiu o Braga durante 1978 e 1986.
A família, que ainda conta com vereador na cidade e deputado estadual, também detém o controle do clube desde 1998, quando Marquinho Chedid, filho de Nabi, assumiu a presidência do clube. O vice-presidente Luiz Arthur, filho de Marquinho, completa o verdadeiro domínio familiar sobre o Bragantino e a própria cidade de Bragança Paulista.
Com o “surgimento” do RB Bragantino, Marquinho e Luiz Arthur continuarão na administração do Massa Bruta. A Red Bull, por sua vez, assumirá a gestão do futebol, sendo responsável pela contratação de jogadores, comissão técnica e outras decisões relacionadas ao departamento.
Energia e dinheiro para voltar aos tempos de grandeza
Em todos os países em que está presente, a Red Bull desenvolve um trabalho agressivo na formação de jogadores e na busca por uma identidade de jogo leve e ofensiva. Leipzig, New York e Salzburg estão todos na elite do futebol nacional e são franquias de extremo sucesso, principalmente no caso das europeias.
O RB Leipzig demorou apenas 7 anos para sair do escalão mais baixo da Alemanha para chegar a Bundesliga, em que já foi vice-campeã com um time formado por jovens jogadores. No caso do Salzburg, o domínio é ainda maior: desde a sua compra, a equipe já conquistou nove vezes o Campeonato Austríaco e em cinco oportunidades a Copa da Áustria.
No Brasil, não poderia ser diferente. A empresa investirá intensamente para o parceiro sul-americano alçar os mesmos voos que seus “irmãos” espalhados pelo Planeta. O RB Bragantino deverá ter boa parte de seu elenco formado pela base do RB Brasil, que fez boa campanha no Paulistão 2019.
Os investimentos, segundo a expectativa de dirigentes, devem estar na casa dos 40 milhões de reais, incluindo ainda a reforma do Nabizão e a construção de um moderno centro de treinamentos para os atletas. A expectativa de Thiago Scuro, CEO do RB, é chegar ao Brasileirão nos próximos anos.
E para você, em qual patamar pode chegar o RB Bragantino?