Venezuela — Há esperança

Gabriel Gouveia
Sem Clubismo F.C.
Published in
3 min readJun 4, 2019

Faltando 10 dias para o início da Copa América, o Sem Clubismo traz uma série de textos especiais sobre a competição. Uma seleção por dia, até a bola começar a rolar, para entrarmos no clima e conhecermos melhor essa rica história.

Imerso numa profunda crise política, o povo venezuelano passa por situação delicada em vários aspectos. Em meio a tudo isso, o futebol sempre aparece como uma válvula de escape, uma pequena distração, para uma nação que há anos sofre.

Devido às repentinas faltas de água e luz, treinar e jogar no país têm sido cada vez mais difícil. No fim de março, a Associação de Jogadores Profissionais da Venezuela chegou a pedir em comunicado oficial que as competições fossem interrompidas, por conta da ausência de condições básicas.

Para se ter ideia da gravidade da rotina vivida pelos atletas locais, uma partida entre Zulia e Caracas foi realizada sem que houvesse água para os jogadores nos vestiários. Como forma de protesto, as duas equipes ficaram trocando passes laterais durante os 90 minutos, se recusando a atacar o adversário. Obviamente, o confronto terminou 0x0. A Federação optou por anular o resultado e treinadores e capitães foram chamados para depor.

Mas para além das fronteiras venezuelanas, muitos jogadores da Seleção Vinotinto, apelido em referência a cor do uniforme, vêm sendo destaques no futebol internacional. Seja na Inglaterra, na Espanha ou na emergente liga norte-americana, os selecionados da Venezuela têm obtido sucesso.

Destaques

A começar pelo goleiro, o jovem de 21 anos Wuilker Fariñez tem mostrado enorme potencial desde as categorias de base da seleção. Embora não seja dos mais altos, Fariñez tem agilidade e reflexo muito acima da média, e atuando pelo Millonários-COL realiza grandes defesas rotineiramente. Está na mira de gigantes europeus.

Na defesa, o experiente lateral direito Roberto Rosales, do Espanyol, está há bastante tempo no futebol europeu. Nesta edição do Campeonato Espanhol, Rosales marcou 3 gols e foi importante na boa campanha do clube da Catalunha, que terminou em sétimo.

No meio-campo, houve um princípio de contestação por parte dos torcedores venezuelanos. Adalberto Peñaranda, do Watford, pouco jogou na temporada. Seu talento é incontestável, tanto que esteve presente na lista das 50 grandes promessas do Gazzetta Dello Sport, em 2016. Mas a falta de ritmo e alguns problemas extracampo colocam uma pulga atrás da orelha do hincha venezuelano, que sentiu falta do baixinho Soteldo entre os convocados.

Para o ataque, a presença do bom camisa 9 Salomón Rondón é garantia de perigo para os adversários. Em mais uma bela temporada pelo Newcastle (11 gols e 7 assistências na Premier League), Rondón pode fazer uma parceria de sucesso com Josef Martínez, artilheiro e melhor jogador da última temporada da MLS.

Evolução e desempenho recente

Em toda a sua história, a Venezuela nunca conquistou um título de expressão entre seleções principais. Porém, o bom desempenho conquistado nas últimas edições da Copa América servem como motivação.

O ótimo trabalho realizado nas categorias de base tem permitido boas campanhas para La Vinotinto. Não é por acaso que, em 2017, a equipe venezuelana Sub-20 terminou em segundo lugar no Campeonato Mundial da categoria, disputado na Coréia do Sul. E na Copa América, os resultados em 2011 (4º lugar eliminando o Chile) e 2016 (6º vencendo o Uruguai) fizeram com que os selecionados fossem recebidos com festa na volta para casa após os torneios.

Chichero, aos 35 minutos da etapa final, colocou a Venezuela nas semifinais da Copa América 2011

Expectativa

Apesar do momento recente e dos bons jogadores no plantel, a seleção venezuelana não entra como uma das favoritas a ir longe na competição. Porém, ao cair num grupo mais acessível (com Brasil, Peru e Bolívia) pode se dar ao luxo de sonhar com uma classificação.

No papel, é fazer um jogo duro, na estreia, contra os peruanos e bater a Bolívia por uma boa diferença de gols para chegar ao mata-mata. Também dá para torcer, apesar da pouca probabilidade, por um tropeço da seleção brasileira, que no pós-Copa vem apresentando muitas dificuldades até mesmo contra times frágeis.

Há esperança.

--

--

Gabriel Gouveia
Sem Clubismo F.C.

Só futebol. Escrevo umas paradas no Sem Clubismo FC.